quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Efeméride


25 de Fevereiro de 1819


Morre o poeta português Filinto Elísio, pseudónimo do Padre Francisco Manuel do Nascimento


Ode à Amizade


Se depois do infortúnio de nascermos 
Escravos da Doença e dos Pesares 
Alvos de Invejas, alvos de Calúnias 
    Mostrando-nos a campa 
A cada passo aberta o Mar e a Terra; 
Um raio despedido, fuzilando 
Terror e morte, no rasgar das nuvens 
    O tenebroso seio 
A Divina Amizade não viera 
Com piedosa mão limpar o pranto, 
Embotar com dulcíssono conforto 
    As lanças da Amargura; 
O Sábio espedaçara os nós da vida 
Mal que a Razão no espelho da Experiência 
Lhe apontasse apinhados inimigos 
    C'o as cruas mãos armadas; 
Terna Amizade, em teu altar tranquilo 
Ponho — por que hoje, e sempre arda perene 
O vago coração, ludíbrio e jogo 
    Do zombador Tirano. 
Amor me deu a vida: a vida enjeito, 
Se a Amizade a não doura, a não afaga; 
Se com mais fortes nós, que a Natureza, 
    Lhe não ata os instantes. 
Que só ditosos são na aberta liça 
Dois mortais, que nos braços da Amizade, 
Estreitos se unem, bebem de teu seio 
    Nectárea valentia. 
Tu cerceias o mal, o bem dilatas, 
E as almas que cultivas cuidadosa, 
Com teu suave alento aformosentam-se 
    Medradas e viçosas. 
Caia a Desgraça, mais que o raio aguda 
Rebente sobre a fronte ao mal votada, 
Mais lenta é a queda, menos cala o golpe 
    No manto da Amizade: 
E se desce o Prazer, com ledo rosto 
A alumiar o peito de Filinto, 
A chama sobe, e vai prender seu lume 
    Na alma do fido Amigo. 

Filinto Elísio, Odes, in Citador