sexta-feira, 31 de maio de 2013

Imagens de Portugal I

Consideremos a referência aos portugueses de Jonathan Swift, no final do seu celebrado livro, irónico, mas, ao final, com um desfecho para a responsabilidade e plena de calor humano, onde se exibem aspetos paradigmáticos de humanidade que jamais encontrara:

«Um dos marinheiros, em Português, mandou-me subir, e perguntou quem eu era. (...) Os bons Portugueses ficaram igualmente espantados com a minha singular vestimenta, e a dicção estranha das minhas palavras, que, no entanto, eles entenderam muito bem. Falaram-me com grande humanidade, e disseram: 'tinham a certeza que o capitão me levaria grátis para Lisboa, onde eu poderia voltar para o meu país (…). [O nome do Capitão] era Pedro de Mendez, uma pessoa muito cortês e generosa. (...) Em dez dias, Dom Pedro, a quem eu tinha dado conta de alguns dos meus assuntos privados, impôs-me como uma questão de honra e consciência , 'que eu deveria voltar para o meu país natal, e morar com minha esposa e filhos'. Ele disse-me, 'havia um navio Inglês no porto pronto para sair, e ele iria fornecer-me todas as coisas necessárias.' Seria fastidioso repetir seus argumentos, e minhas contradições. Ele disse, "era completamente impossível encontrar uma ilha tão solitária como eu desejava para viver, mas eu poderia ser senhor em minha própria casa, e passar o meu tempo de forma tão reclusa quanto quisesse.' Acedi (...). Saí de Lisboa no dia 24 de novembro, num navio mercante Inglês, mas quem era o mestre nunca perguntei. Dom Pedro acompanhou-me até ao navio, e me emprestou vinte libras. Despediu-se gentilmente de mim, e abraçou-me na despedida (…).»

                                  Jonathan Swift, Viagens de Gulliver, 1726


segunda-feira, 27 de maio de 2013

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Artes


Imagens de Portugal


«'Não há alguém como ele que possa vos dar tantos relatos tão completas sobre povos e países desconhecidos, e eu sei que sois curioso a este respeito'. 'Então', disse, 'não adivinhei mal, pois logo à primeira vista tomei-o por um homem do mar.' 'Enganai-vos e muito', disse ele, 'pois ele não velejou apenas como um nauta, mas como um viajante, ou melhor, como um filósofo'; Este Rafael, que traz de sua família o nome de Hythloday, não ignora o Latim, mas é eminente em Grego, tendo-se-lhe aplicado especialmente mais do que à outra língua, porque empenhou-se intensamente à filosofia, pela qual soube que os Romanos pouco deixaram de valor, excepto o que se encontra em Séneca e Cícero. Portugal é o seu país (...).»

Thomas More, Utopia, c.1516.


Pensamentos



Começar é fácil. Acabar é mais fácil ainda. Chega-se sempre à primeira frase, ao primeiro número da revista, ao primeiro mês de amor. Cada começo é uma mudança e o coração humano vicia-se em mudar. Vicia-se na novidade do arranque, do início, da inauguração, da primeira linha na página branca, da luz e do barulho das portas a abrir.
Começar é fácil. Acabar é mais fácil ainda. Por isso respeito cada vez menos estas actividades. Aprendi que o mais natural é criar e o mais difícil de tudo é continuar. A actividade que eu mais amo e respeito é a actividade de manter.

Miguel Esteves Cardoso, «Alimentar o Amor», As Minhas Aventuras na República Portuguesa

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Artes






«Portugal»

O teu destino é nunca haver chegada
O teu destino é outra índia e outro mar
E a nova nau lusíada apontada
A um país que só há no verbo achar

Artes






Frases



«A mor ciência que no mundo há 
assi é saber conversar cos homens»
 
Francisco Sá de Miranda, Os Estrangeiros, Acto II, Cena II.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Especificamente vocacionada para a representação, para a participação e para o acordo democrático



O conflito tem medido as relações institucionais até ao mais alto nível. A meu ver, a nossa democracia elabora necessariamente pela controvérsia, mas também poderia elaborar mais pela medida da participação, da negociação e do acordo. Porém, a expressão desta dimensão política ganha todo o seu sentido com uma intituição  especificamente vocacionada para acolher, evidenciar e representar os consensos nacionais, isto é, a Instituição Real.

sábado, 18 de maio de 2013

Temos de realizar referências estáveis ao nosso viver democrático

Acerca da representatividade do Estado numa lógica de conflito

 
    Hoje convivemos democratcamente, sem que as maiorias esmaguem as minorias. A nossa sociedade é plural, mas há muito se tornou evidente a falta de uma organização ido sistema político conveniente à eficácia dos seus propósitos. É necessário continuar com firmeza o que politicamente se tem mostrado eficaz, mas é também necessário sermos capazes de uma profunda reestruturação. Enquanto se reformula a nossa existência social e cultural para uma nova economia temos de realizar referências estáveis ao nosso viver democrático, de outro modo, continuará o que tem sido expresso como problema. Considero que a democracia portuguesa alcançou uma idade de passagem. Para transformarmos a situação presente, que envolve problemas sociais e económicos muito graves, para operar a transformação requerida, a nível nacional e na pertença à União Europeia, as respostas adequadas terão de ser perspectivadas, já não com remendo sobre remendo, mas por resposta democrática, por uma resposta portuguesa e por uma democracia melhor. É necessário adicionar na nossa sociedade um eixo institucional favorável ao consenso estratégico, sem o qual a recuperação económica, o reforço da produção para a transacção, a abertura externa e a modernização, a orientação do investimento público para o crescimento da produtividade, a intensificação da produção de pensamento estratégico, t determinantes para o bem comum, oscilam, definham e se perdem. De outro modo, sem esta perspectiva instituicional de longo prazo, o custo da mudança é maximizado e a eficácia política é descontinuada, e, enquanto os recursos e as circunstâncias oscilam, os objectivos são dispersados.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

De três repúblicas




Tivemos três repúblicas até agora, a primeira de 1910 até ao golpe de estado de 1926, a segunda daí até ao 25 de Abril de 1974, e a terceira, desde então até agora. Pela sua sucessão tumultuosa, pela presente e cavadíssima crise, pela ausência de expectativas sociais e políticas, torna-se evidente a necessidade de uma revisão. Algumas das mais nefastas experiências passadas foram extinguidas. O individualismo político não subsistiu na primeira república. A desordem social e política da primeira república não sucedeu na seguinte formulação, e na terceira república não houve tanta perseguição aos adeptos da segunda. Essas formas extremadas de combate político foram, felizmente, subtraídas da nossa convivência. A meu ver, os dispositivos de legitimação partidária, a tolerância política e a consequente convivência democrática, são a herança mais bela e frutífera deste passado recente, e, os seus inversos, o individualismo, a intolerância, o revolucionarismo, estão ausentes do combate político; causas graves do impasse político da sociedade portuguesa no século XIX, como o foram também de muitas outras sociedades europeias. Mas ainda durante o século XX assistimos às suas réplicas, sobretudo pela via das ditaduras à esquerda e à direita. (cont.)