quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Democracia Real Portugal Real


(...) um rei é uma expressão do todo nacional reconhecido pelas diversas partes que confrontam políticas alternativas.

Mendo Castro Henriques

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Trabalho em progresso





(...) a dar à manivela da vida (...)


Almada Negreiros, Novembro, 1939 in 'Poemas', Assírio e Alvim 2001, 182

domingo, 13 de outubro de 2013

Liberdade, soberania, identidade, continuidade, pluralidade, coesão

A função de representação do todo nacional tem uma vocação identitária, evidencia a liberdade  política, a soberania, a continuidade histórica,   a pluralidade cultural e a coesão social.
Fica demonstrado, com estrondo, que a história dos portugueses requer um representante que permanece no próprio tempo geracional das pessoas e neutral relativamente aos partidos e ao poder económico.

Democrático


《(...) não há tabus em Democracia. Nem deve haver tabus sobre esta matéria [a questão monárquica].》

Manuel Alegre,  2006, na apresentação do livro "D.Duarte e a Democracia"

sábado, 12 de outubro de 2013

Todos iguais todos diferentes e uma identidade simbolizada no rei

 


Nem todos os órgãos de soberania da democracia     são sufragados, assim é o caso do poder judicial e do executivo. Já o poder legislativo, local e a representação do Estado são hoje sufragados. Mas, se as representações da assembleia legislativa e dos órgãos do poder local são efetivamente abrangentes, já a representação de Estado, contraditoriamente, tem uma representatividade menor e surge como um divisor. O resultado desta situação para a democracia, sabemos à esquerda e à direita, tem sido uma adição da conflitualidade.

Frases




(...) O coração esforçado  de poucas coisas se espanta.

Bernardim Ribeiro,  Écloga I

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Teses IV


 Os ciclos económicos e os ciclos políticos não se ligam necessariamente a ciclos eleitorais. Advogo, pois, que a representação do todo nacional e da estabilidade política, dos objetivos permanentes e comuns à democracia e a sua continuidade estratégica, podem estabelecer-se somente com um representante do Estado prolongado no tempo, obviamente, na condição deste ser apartidário. A nossa democracia beneficia, estruturalmente, da Instituição Real.

Mediações

Sá de Miranda
 

Thomas Reid



«Every man feels that perception gives him an invincible belief of the existence of that which he perceives; and that this belief is not the effect of reasoning, but the immediate consequence of perception.»

Marinha do Tejo


 

A Associação Naval de Lisboa (fundada em 1856 como Real Associação Naval, é o clube náutico mais antigo de Portugal e da Península Ibérica) passou a integrar o elenco dos Centros e Associações Náuticas que vai concretizar o calendário em 2013.



terça-feira, 8 de outubro de 2013

(Muito) mais compatível





«(...) nos últimos anos tenho vindo a descobrir os encantos da monarquia constitucional, ao ponto de hoje a considerar, de longe, a forma de estado mais compatível com o parlamentarismo e com a democracia liberal (...).» 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Member of President Obama’s Economic Recovery Advisory Board

«Education (...) must be broadly defined to include moral and ethical behaviors and good decisionmaking. There is plenty of evidence that such behaviors pay an ample reward to the individuals who make them and, unfortunately, the absence of such behaviors extracts a cost, potentially from all of us.»
Roger W. Ferguson Jr., Economics and Ethical Behaviors, Sidwell Friends School, Washington D.C., May 22, 2004.

A modernidade não originou nem uma civilização única nem um só padrão institucional




A expansão ocidental, nascida em Portugal e depois alargada pela demais nações europeias, desenvolveu novos sistemas institucionais e novos quadros de referência simbólicos. Surgiram sistemas económicos, políticos e ideológicos, multicêntricos e heterogéneos e cada sistema gerou a sua própria dinâmica. (...) A modernidade expandiu-se por todo o mundo, mas não originou uma civilização única nem um só padrão institucional.

Mendo Henriques e Nazaré Barros in Olá, Consciência!  (222-223)


sábado, 5 de outubro de 2013

Uma questão ao republicanismo



Desde quando todos os cidadãos “livres e iguais em direitos” conseguem, por exemplo, estar ao mesmo nível numa eleição presidencial?

David Garcia

Economia desunida


A disparidade das taxas de juro no empréstimo a sociedades não financeiras na UE continua a ser o assunto mais importante para considerar o crescimento económico.

5 de Outubro de 1143



sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O melhor de vários modelos



O ser humano é tão criativo como adaptativo e normativo. Acumulou e transmitiu saber com que pôde transformar o meio, fazer instrumentos e organizando-se. Mas tradição e progresso estão sempre relacionados. Cada geração altera e continua práticas sociais, dinâmica política, o modo de avaliar as circunstâncias. Diferentes são os modos de comunicação e de interação, mas continuam as estruturas da relação e de realização humana, em comunidades horizontais e em sociedades verticais. Considero, contudo, que a organização das sociedades é a sua melhor tecnologia. E deste ponto de vista penso que estamos numa época em que é possível relacionar o melhor dos vários modelos já entretanto experimentados.
NY Times

Mais Comunidade


O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, afirmou hoje que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é incapaz de ir além de questões como a história ou a língua, reclamando um "cariz mais económico" para a organização. (...) A globalização trouxe desafios maiores e o caminho é agora entrar no "mercado e no comércio internacional". Timor-Leste vai assumir, pela primeira vez, em Julho do próximo ano a presidência rotativa da CPLP, durante a cimeira da organização que vai decorrer em Díli.
Para o novo mandato, Xanana quer dar um "cariz económico" à organização: "Queremos mudar a face da CPLP para uma comunidade de países com investimentos estratégicos, aproveitando o 'know-how' de um país, as necessidades de outro e aproveitando a capacidade financeira de outro".

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Rebels Without a Clue


(...) it looks quite possible that default would create a huge financial crisis, dwarfing the crisis set off by the failure of Lehman Brothers five years ago.
     No sane political system would run this kind of risk. But we don’t have a sane political system; we have a system in which a substantial number of Republicans believe that they can force President Obama to cancel health reform by threatening a government shutdown, a debt default, or both (...).

Paul Krugman



O tempo histórico emerge da consciência



«Que diversos se nos mostrariam e como nos pareceriam importantes, muitas vezes assustadoras, as modificações que mal notamos agora! (...) Todavia, e embora a história nunca se repita, podemos em certa medida aprender, pela observação do passado, e evitar a repetição de um mesmo processo.»

HAYEK, Frederic (1977), O Caminho para a Servidão, Lisboa, Teoremas (trad. Mª Ivone Serrão de Moura).

Poesia



Este lugar amou perdidamente
Quem o cabo rondou do extremo Sul
E a costa indo seguindo para Oriente
Viu as ilhas azuis do mar azul
 .......................................................

Viu pérolas safiras e corais
E a grande noite parada e transparente
Viu cidades nações viu passar gente
De leve passo e gestos musicais

Perfumes e temperos descobriu
E danças moduladas por vestidos
Sedosos flutuantes e compridos
E outro nasceu de tudo quanto viu

....................................................

                1988 (Ilhas)

sábado, 28 de setembro de 2013

The huge lack



«(...) we have a huge lack is in understanding the dynamics of change. Our theories are essentially static. Most of us in this room understand the elements needed for a good economy: clear and enforceable property rights, the rule of law, etc. But what we severely lack is a theory of social change. Our inability to understand the basic mechanisms of social change is evident in practical application. The disastrous programs of so-called transitional economies provide abundant evidence that we do not know how societies really change, and without that knowledge we have to admit that while we know what makes for a good economy, we don't actually know how to get good economies.»

Douglass C. North (Nobel); Spencer T. Olin (Professor of Arts and Sciences at Washington University) @ The International Society of New Institutional Economics



Poesia




Formoso Tejo meu, quão diferente
te vejo e vi, me vês agora e viste!
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste,
claro te vi eu já, tu a mim contente.

A ti foi-te trocando a grossa enchente
a quem teu largo campo não resiste;
a mim trocou-me a vista em que consiste
o meu viver contente ou descontente.

Já que somos no mal participantes,
sejamo-lo no bem. Oh, quem me dera
que fôramos em tudo semelhantes!

Mas lá virá a fresca primavera!
Tu tornarás a ser quem eras de antes,
eu não sei se serei quem de antes era.

Francisco Rodrigues Lobo

Aberturas



Prever é sempre difícil, em particular o futuro, escreveu com ironia o físico Niels Bohr. Mas temos de o inventar. Antever futuros é fazer sociedade sem nos submetermos à tirania do presente. (...) Quanto mais ficamos absorvidos pelas urgências do presente, menos nos relacionamos com um projeto. Se é verdade que o futuro está sempre em aberto, ainda assim não é fruto do acaso ou do destino, mas sim de decisões.

Mendo Henriques e Nazaré Barros in Olá, Consciência! (p.233)

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Imagens de Portugal


Aberturas


«Precisamos de tomar consciência dos limites da Escola e abrir espaço para um reforço das responsabilidades sociais no campo da educação.»
António Nóvoa 
in «A força das perguntas»(JL/educação,18Set-1Out, 2013, pág 2.

Aberturas





«Nenhum país que pretenda desenvolver-se pode praticar políticas e porta fechada. (...) As portas fechadas não são uma opção.»
             Deng Xiao Ping in N.Fergusson, O Ocidente e os Outros, 57

terça-feira, 17 de setembro de 2013

O indispensável pluralismo democrático




Excessos (...) estão a fragilizar não só a liberdade de pensar como o simples bom-senso. A consequência é vivermos tempos de empobrecimento do indispensável pluralismo na abordagem dos mais diversos assuntos relacionados com a qualidade de vida em comum. Estão em causa a saúde, a justiça, a educação, a vida do dia-a-dia, entre outros exemplos. Libertar o pensamento empírico ou especulativo numa época em que as democracias estão sedimentadas pode revelar-se um caminho útil para a reinvenção do modo como os Estados tutelam as sociedades.

Gabriel Mithá Ribeiro in «O Ensino da História», Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa, 2012, 13.

Faltas




«O nosso erro foi a gestão. Foi pensarmos que podíamos abordar o mercado global sem pessoas que conhecessem esse mercado. Faltou-nos aquilo que as Dell, Amazon e Google têm, os business developers. Era por aí que devíamos ter começado.» in Basta!


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Mediações


Promover a invenção de novos laços de comunicação e contaminação entre programações televisivas e cinematográficas, de modo a evitar a tendência atual de transformar as narrativas num inventário de "demonstrações sociológicas" mais ou menos moralistas.

Adapt. de João Lopes

Imagens de Portugal


Revisitando D.João V.




O fomento do setor industrial assumiu particular relevância económica desde 1720, isto é, a promoção de unidades fabris de manufaturas capazes de concentrar capital e trabalho em todas as fases de transformação do produto. A iniciativa e o investimento financeiro de particulares, entre técnicos estrangeiros e homens de negócio nacionais, concretizava-se com a obtenção do apoio do Estado, expresso sob a forma de isenções fiscais e ou exclusivos de fabrico.

Vide Leonor Costa, Pedro Lains, Susana Miranda in História Económica de Portugal 1143-2010, in «Consolidação 1703-1807», págs 240-241.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Teses III



Onde nasceram e se desenvolveram os fundamentos da sociedade moderna, o Voto democrático, o Estado não confessional, as Liberdades fundamentais, o primado do Estado de Direito? Na monarquia.

Colóquio


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Teses II


«[A] República está a afundar-se. É um espectáculo deprimente, degradante. É preciso encontrar uma forma de equilíbrio que só pode estar para além do próprio jogo dos interesses em presença (...).» HBR



Pensamentos


Sim,
se a gente se visse
como nos vêem os outros,
não se reconhecia.
Mas isto é verdade
também para os outros.

Miguel Torga
Diário VIII





E sim,
quando nos vemos
como nos vêem a nós,
reconhecemo-nos.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Liberdade, democracia, pluralismo, objetivos permanentes




A política decorre na livre contenda de interesses e opiniões. Os conflitos expressam-se na discussão democrática. O nosso modo de viver é plural. No entanto, não é o pluralismo político que por si só resolverá os nossos problemas estruturais. Importa identificar coletivamente formas políticas comprovadas, que permitam uma democracia mais completa. Mas, sem uma representação do todo nacional que afirme a lógica da participação além da lógica do confronto, sem um órgão de acordo sobre objetivos permanentes, sempre nos encontraremos numa situação continuamente instável e fragmentada em que não amadurecem as políticas.

Poesia



Se era falsa esta esperança,
inda dela a saudade
não trocaria a lembrança
por nenhuma outra verdade;

D.Manuel de Portugal

Imagens de Portugal

Foto de Inês Gonçalves

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Incentivos e exclusões



 Nem todos os modelos de incentivo são replicáveis, sobretudo em meios socioculturais mais deprimidos, como é o caso de grandes setores das sociedades de Este e do Sul europeu e de África, seja porque a classe média é escassa e tradicionalmente pouco empreendedora, criada aliás pelas administrações, seja por insuficiente capital de literacia, que é acesso à informação e às oportunidades, ou seja porque o suporte familiar aumenta exponencialmente a rede de apoio ao indivíduo, que assim pode estender a sua juventude esperando emprego. Este último facto é especialmente relevante nos casos dos países do sul da Europa - França, Itália, Espanha e Portugal - e em África.



quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Reportagem - A bitcoin passa a ser sujeita a imposto na Alemanha



Mikaela compra um quilo de peixe – “três euros”, anuncia o pequeno reclamo – e paga em dinheiro, de mão para mão. Sem recibo, nem caixa. A transação não deixa um único traço visível, a não ser o saco cheio de peixes reluzentes que Mikaela leva consigo.

Duzentos metros mais a sul, no mesmo bairro, Brand bebe um latte macchiato, ao balcão do Floor’s Café. Quando chega a altura de pagar, Brand pega no smartphone, fotografa o flashcode que apareceu no ecrã da caixa, carrega no “OK” e vai-se embora. Também ele não deixou rasto do pagamento que fez. Ou quase. Um software transferiu dinheiro da sua conta na Internet para a conta do café (...) Os dados da transação estão a salvo na cadeia, protegidos por processos criptográficos extremamente rigorosos que impedem que qualquer pessoa tenha acesso a eles ou possa alterar o montante, a origem ou o destino.

Embora satisfaça todos os critérios que definem uma divisa, conforme reconheceu recentemente o juiz texano Amos Mazzant, a bitcoin escapa por completo ao controlo dos governos e dos bancos centrais, que começam a preocupar-se com a sua expansão, em aumento constante.

No início, eram raros os clientes que pediam para pagar em bitcoins. Mas, hoje, todos os dias há alguns que as usam para pagar um café, um bolo ou uma sandes. “Não são nerds com óculos e rabo-de-cavalo. E são tantos homens como mulheres, na maioria jovens, pertencentes aos meios alternativos”, explica Florentina. Para ela, tal como para quase todos os outros “bitcoiners” entrevistados pelo Linkiesta, a principal motivação é o repúdio, que foi tomando forma sobretudo durante a crise, pelos bancos privados e pelas políticas monetárias dos bancos centrais em geral. A divisa alternativa “descentralizada” é considerada como uma coisa mais próxima dos consumidores, além de ser conforme com o espírito da época.

Até à data as transações efetuadas com esta moeda escapavam ao imposto. [A partir de agora], serão deduzidos 25% sobre os benefícios de uma venda em bitcoins. […] Relativamente às empresas, estas deverão incluir uma taxa de IVA em todas as suas transações em bitcoins.

in www.presseurop.pt

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Um dos aspectos menos conhecidos da história da democracia portuguesa (que começa na Monarquia)


Os factores principais dos bons Índices de Desenvolvimento Humano



O investimento na saúde e no ensino públicos pagou grandes dividendos; onde não houve, as pessoas permaneceram pobres.

vide Gregory Clark, Farewell to Alms - A Brief Economic History of the World, Princeton, 2007

A chave do desenvolvimento social, torna-se cada vez mais evidente, reside nas instituições




«Em a Riqueza e a Pobreza das Nações, David Landes advoga a explicação cultural, argumentando que a Europa Ocidental liderou o mundo ao desenvolver a busca intelectual autónoma, o método de verificação científico e a racionalização da investigação e da sua difusão. No entanto, Landes também considera que foi necessário algo mais para que esse modo de operação pudesse florescer: intermediários financeiros e bom governo. A chave, torna-se cada vez mais evidente, reside nas instituições.»

Niall Ferguson, Civilização. O Ocidente e os Outros, 2012

Poesia

Iate Santo Amaro

Quando eu era pequeno, vinha o navio de sal,
Era um acontecimento!
E meu tio António Machado ia sempre ao areal
Com o seu óculo de alcance desencanudando a barlavento.
Era um iate cheio de cordas e de velas,
Chamado Santo Amaro, o Veloz ou o Diligente
E, como trazia o sal, que é o sabor das panelas,
Era esperado tal qual como se fosse um ausente.
Na barra do horizonte era um ponto sozinho,
Mas crescia no vento a sua vela crua,
E o sol, ao morrer, tingia-lhe de vinho
A proa que vestia a pau a vaga nua.
Ali vinha, do Alto, sem sextante nem erro,
Enchendo devagar as previstas derrotas,
E plantava no fundo a sua raiz de ferro
Fazendo abrir no céu como flores as gaivotas.
As raparigas sãs da ribeira do mar,
Que traziam na pele um aroma silvestre,
Punham os olhos muito compridos, a cismar
Nas cordas que secavam as roupas íntimas do Mestre.
Os pescadores mediam com a linha das pestanas
O tamanho do Audaz, a sua popa alceira:
Nunca tinha arribado àquelas praias insulanas
Tanto pano de verga, tanto oleado, tanta madeira!
Por isso, abrindo nas rochas duras
A branca humanidade das suas nocturnas casas,
Se encostava ao bater daquelas velas escuras
Como o corpo de um pássaro se deixa levar pelas asas.
Mas a bolacha-capitão cheia de bicho, e a água salobra,
O olhar amarelo e vazado que tinham as lanternas de vante,
A magra soldada que toda a companha cobra,
E a calma podre que apenas tem o navio flutuante;

O frio de rachar na noites devolutas
O baldear do convés, todo em veios de breu,
E quantas outras vãs marítimas labutas
Ali curtidas, entre mar e céu:
Nem isso, nem o sal nos porões engolidos ̶
Espécie de luar para ver às avessas ̶ ̶
Lembrava aos pescadores e aos patrões absorvidos
No lucro da chegada e no valor das remessas.
Assim o meu navio de sal, que precipita
Em pedrinhas de neve águas sem importância,
Guarda por fora intacta a sua linha bonita
Escondendo talvez o melhor da sua ânsia.
Ah, se ele fosse salgar os caldos já tragados,
Tornar incorruptível a mocidade já verde,
Interessar o óculo do velho tio e os vidros suados
Da janela que ao longe este horizonte perde!
Se fosse encher de branco as paragens insonsas,
Manter o gosto a vida aos dias moribundos,
Conservar as faces às moças
E o movimento aos mares profundos,
Então sim! Levaria a porto e salvamento
A sua carga.
Na dúvida, Capitão, espera o vento,
Iça as velas e larga!



Vitorino Nemésio, «O Navio de Sal» in O Bicho Harmonioso, 1938