sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Imagens de Portugal


«The Orient, courageously and successfully explored by the Portuguese, is coveted by many today for its lucrative trade. We, however, have a more noble purpose in mind. We reflect upon those immense regions of the Indies where for many centuries men of the Gospel have expended their labor. Our thoughts turn first of all to the blessed Apostle Thomas who is rightly called the founder of preaching the Gospel to the Hindus. Then, there is Francis Xavier, who long afterwards dedicated himself zealously to the same praiseworthy calling.» 
                                      Ad Extremas, Encíclica do Papa Leão XIII

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Pensamentos


What others think of us would be of little moment did it not, when known, so deeply tinge what we think of ourselves. 

[trad. livre: O que os outros pensam de nós seria de pouca monta, se não soubéssemos tão profundamente o que pensamos de nós mesmos.]
Logan Pearsall Smith (ed.), Little Essays: Drawn from the writings of George Santayana, Hardpress, Miami, 2015. 


quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Imagens de Portugal



«(...) [I]n the present world we witness many historic churches crumbling to dust to give way for modern ones. One among the “twin churches”, which is dedicated to Mary, erected in 1864, located at Ramapuram, a quaint little town in Pala, Kottayam (...). [Adiante, o autor indica exemplos em Portugal de preservação do significativo histórico para resolver os problemas advenientes da adversidade que é o tempo e abandono do património humano]. Situated on the left of Mondego’s river bank, next to park Portugal dos Pequeninos in Coimbra, Portugal, the S. Francisco Convent built in the 17th century has witnessed several changes in its history. It was converted as a textile factory in 1888 and deactivated in the 1980’s. In 1995, the convent was purchased by Coimbra City Council and converted into a cultural centre. The St. Francisco convent and its campus consists of three physical components such as an old church, cloisters and a new auditorium with 1,225 places, along with several multi-purpose rooms. This centre hosts all sorts of activities from music to contemporary circus, theatre to conferences.» Binumol Tom [PhD], Rajiv Gandhi Institute of Technology, Kottayam, Departmentof Architecture), 22 Nov 2018 @ The Hindu (Índia)



terça-feira, 27 de novembro de 2018



Progress is a noxious, culturally embedded, untestable, nonoperational, intractable idea that must be replaced if we wish to understand the patterns of history.


@ Gould, Stephen Jay, «On replacing the idea of progress with an operational notion of directionality», in Nitecki M (ed.), Evolutionary Progress, 1988, Chicago, University of Chicago Press, 319-338.



segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Imagens de Portugal

Shaleen Title, Commissioner of the Cannabis Control Commission

«Couldn’t this policy make dangerous drugs more available to those who currently have no access to them?
Portugal decriminalized all drugs in 2001, and there were fears that by taking away criminal penalties, crime and drug-use rates would go up. That hasn’t happened. Several Massachusetts legislators recently visited Portugal to try to learn from that model because it was so successful.»
Fotografia de Joanne Rathe/Boston Globe Staff

sábado, 24 de novembro de 2018

Instituições



Sem uma perspetiva institucional de longo prazo o custo das mudanças são maximizadas e, assim, muitas vezes, a eficácia da democracia é intermitente. Enquanto os recursos e as circunstâncias oscilam os objetivos são dispersados.

É necessário adicionar na sociedade portuguesa uma instituição, a Instituição Real, propiciadora de permanente conversação democrática, visando o consenso estratégico, sem o qual, todos os esforços se esvaem.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Liberals have forgotten


«Liberals have forgotten that their founding idea is civic respect for all. Our centenary editorial, written in 1943 as the war against fascism raged, set this out in two complementary principles. The first is freedom: that it is "not only just and wise but also profitable...to let people do what they want". The second is the common interest: that "human society...can be an association for the welfare of all". (...) The Economist was founded to campaign for the repeal of the Corn Laws. (...) We where created to take the part of the poor against the corn-cultivating gentry [people of good social position]. (...) [And we] liberals designed the welfare state.»    

Beddoes, Susan Minton et al. (2018, September 15th). A manifesto. Success has turned liberals into a complacent elite. It is time to rekindle the spirit of radicalism, The Economist, p.11-12.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Relevante

Moritz Schularick
«The more financially integrated a country is, the more it aims to protect itself  from the risks stemming from such finantial openess. This collective policy of self-insurance against the vagaries of volatile finantial flows might have made individual countries safer, but not the world economy as a whole.»


domingo, 16 de setembro de 2018

Parece óbvio

In defense of CMReinhart & KS Rogoff

«Over the past two centuries, debt in excess of 90 percent has typically been associated with mean [small] growth of 1,7 percent versus 3,7 percent when debt is low (under 30 percent of GDP).» Carmen M. Reinhart and Kenneth S. Rogoff, 'Growth in a time of debt', American Economic Review: Papers and Procedings, May 2010, vol. 100, nº2, 575 (573-578). 

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Haja Memória



Ainda acerca do desenvolvimento social em monarquia: Antes do Reino Unido haver criado um sistema de saúde, David Lloyd George, no início do século XX, que influenciou toda a Europa, no século XIX, na Alemanha monárquica, criou-se um seguro de saúde para os trabalhadores.

domingo, 26 de agosto de 2018

Frases


«Progress is our most important product» 
Ronald Reagan 
@ Edward Luce and video 

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Frases

Ian J. Manners


«(…) three approaches provide the EU with maxims which should shape the EU’s normative power in world politics: live by example; be reasonable; and do least harm.» 

                                                                  Resumo das ideias @ academia.edu

sábado, 18 de agosto de 2018

Haja Memória


Há uma instituição que, continuamente, ao longo dos séculos, criou os instrumentos de desenvolvimento social: As escolas obrigatórias, os liceus, as escolas superiores, os hospitais, os serviços assistenciais, as ligações modernas terrestres e marítimas, os grémios ou academias de cultura e livre pensamento (D.João V), os teatros, o parlamento, a divisão de poderes, o Banco de Portugal, a livre expressão e associação, etc etc e etc, enfim, foi a instituição real que acolheu tudo o que enforma fundamentalmente a nossa atual vida cívica, democrática, solidária e cultural, a par ou em liderança com o que havia no mundo. Hoje fala-se da criação do nosso moderno SNS com enlevo, e bem, mas não dizendo que fomos, na Europa toda, buscar inspiração para essa intervenção social de muito mérito ao seu primeiro criador, um país monárquico, o Reino Unido.

domingo, 22 de julho de 2018

Leituras



(...) Enquanto esta clarificação não ocorrer, ficaremos dependentes do entendimento do BCE acerca da extensão dos seus próprios poderes e competências – sempre sujeito, claro, às conclusões da análise jurisprudencial destas questões pelos tribunais da UE os quais, como vimos, poderão pender para adotar uma visão ampla desses poderes e competências/atribuições, conduzindo à sedimentação (por via jurisprudencial e não legislativa) do papel desta instituição europeia enquanto responsável global pela supervisão de todas as IC. Dando um passo mais adiante, somos da opinião que, para que se complete verdadeiramente a União Bancária e as entidades supervisionadas e os cidadãos europeus se revejam nela, será necessário aproveitar ainda essa futura revisão para repensar o sistema de governance do BCE (atualmente desfasado face às responsabilidades acrescidas que resultaram do seu papel central no SSM) – introduzindo alguns mecanismos adicionais de controlo das decisões tomadas (i.e. checks and balances) e fomentando um cada vez maior escrutínio público dos seus processos decisórios.

Francisco A. G. Nobre, «Principais Conclusões e um Possível Caminho» @ Fronteiras e Limites da Supervisão Prudencial do BCE, Departamento de Estabilidade Financeira, Banco de Portugal

domingo, 8 de julho de 2018

Poesia




    PODEROSO CABALLERO ES DON DINERO

Madre, yo al oro me humillo,
Él es mi amante y mi amado,

Pues de puro enamorado
Anda continuo amarillo.
Que pues doblón o sencillo
Hace todo cuanto quiero,
Poderoso caballero
Es don Dinero.

Nace en las Indias honrado,
Donde el mundo le acompaña;
Viene a morir en España,
Y es en Génova enterrado.
Y pues quien le trae al lado
Es hermoso, aunque sea fiero,
Poderoso caballero
Es don Dinero.

Son sus padres principales,
Y es de nobles descendiente,
Porque en las venas de Oriente
Todas las sangres son Reales.
Y pues es quien hace iguales
Al rico y al pordiosero,
Poderoso caballero
Es don Dinero.

¿A quién no le maravilla
Ver en su gloria, sin tasa,
Que es lo más ruin de su casa
Doña Blanca de Castilla?
Mas pues que su fuerza humilla
Al cobarde y al guerrero,
Poderoso caballero
Es don Dinero.

Es tanta su majestad,
Aunque son sus duelos hartos,
Que aun con estar hecho cuartos
No pierde su calidad.
Pero pues da autoridad
Al gañán y al jornalero,
Poderoso caballero
Es don Dinero.

Más valen en cualquier tierra
(Mirad si es harto sagaz)
Sus escudos en la paz
Que rodelas en la guerra.
Pues al natural destierra
Y hace propio al forastero,
Poderoso caballero
Es don Dinero.



Francisco de Quevedo y Villegas



sexta-feira, 29 de junho de 2018

Artes - A Tempestade - Poesia Portuguesa

Foto de Fabian Stamate - Nazaré, Portugal

O sons, as imagens e as emoções provocadas pela tempestade marítima são constantes na transversalidade da poesia através das épocas. A sonoridade da tempestade, o rugido, o bramar, o ranger, o estrondo da trovoada, o crepitar e o traçado dos relâmpagos, as imagens, as torres de nuvens espessas, as montanhas e serras de ondas avassaladoras, a negrura noturna, o vento furioso, caraterizam invariavelmente a descrição poética da tenebrosa tempestade no mar. De modo geral a tempestade marítima é uma batalha entre os elementos do ar, da água e da luz, que parece intentar destruir o próprio mundo:

(…) Agora sobre as nuvens os subiam,
As ondas de Netuno furibundo;
Agora a ver parece que desciam
As íntimas entranhas do Profundo.
Noto, Austro, Bóreas, Aquilo queriam

Arruinar a máquina do mundo (…)
ou:
(...) Como em fera batalha, os Elementos
A vingarem-se huns de outros se resolvem,
Que agoas contra agoas, ventos contra ventos,
O mar com o Ceo, o Ceo com o mar involvem.
Com nuvẽs, & relampagos violentos
As areas do fundo se revolvem (…)
ou ainda
(...) Levanta lá no céu furiosas ondas;
Austro bramando corre ali com fúria,(...)
Rompe-se por mil partes o céu, e arde
Em ligeiro, apressado, vivo fogo.
Um rugido espantoso vai correndo
Desde o Antárctico Pólo ao seu oposto.
Arremessam-se lanças pelos ares
De congelada pedra em água envolta;
Com espantoso ímpeto, e rasgadas
As densas negras nuvens raios cospem (...)


Neste combate das forças impessoais encontra-se inevitavelmente o homem envolvido em medo e foge toda a natureza viva sob o poder destruidor dos elementos embravecidos:
As Alcióneas aves triste canto
Junto da costa brava levantaram,
Lembrando-se do seu passado pranto,
Que as furiosas águas lhe causaram.
Os delfins enamorados entretanto
Lá nas covas marítimas entraram,
Fugindo à tempestade e ventos duros,

Que nem no fundo os deixa estar seguros.

Trata-se de um cenário terrível, transcendente às forças humanas. Passar nessa paisagem revolta em fúria é abeirar-se da morte e brevemente dá-la como certeza. A fragilidade do humano perante a morte torna-se evidente. O seu soçobrar ou a sua sobrevivência são suas questões permanentes durante a tempestade. Os elementos surgem desalinhados daquilo que é o próprio e possível do viver humano. E o seu saber, a sua perícia, não é garantia de salvação. Na tempestade marítima «nas águas tempestuosas e letais (…) perdem, engolem e matam» (J.Cândido Martins) e apenas há abrigo na suma fragilidade do navio envolto em forças que o transcendem e na arte da navegação, mas só enquanto assiste tal possibilidade sempre pronta a desfazer-se pela guerra elemental da tempestade.
O vento endoidecido, a chuva violenta, o mar encapelado, o fulgor estrondoso dos relâmpagos, suas sonoridades, em que tudo é surpreendentemente grandioso e avassalador, constituem um extremo do possível, vive-se uma exceção da existência, mais além do que a natureza tem de ser para que o homem seja possível. E, no mar, o abrigo perante os elementos é muito mais frágil, propiciando o espanto e o terror perante a realidade de que a sobrevida humana de si mesma pouco dependa – como se pode viver num cenário além da força humana? Quando

(…) os ventos que lutavam
Como touros indómitos bramando,
Mais e mais a tormenta acrescentavam (...)
Relâmpados medonhos não cessavam,
Feros trovões, que vêm representando
Cair o céu dos eixos sobre a terra,


Consigo os elementos terem guerra.(...)

ao homem cabe seguir sua arte e ciência, a navegação, porém, à vista das Parcas que tecem talvez o final abrupto da tecedura de nossos humanos dias. Eis quatro breves descrições de uma desordenada natureza antagonista da possibilidade da vida humana:

Sibila o vento: os torreões de nuvens
Pesam nos densos ares:
Ruge ao largo a procela, e encurva as ondas
Pela extensão dos mares:
A imensa vaga ao longe vem correndo
Em seu terror envolta;
E, dentre as sombras, rápidas centelhas
A tempestade solta.
(...)

Ou, vinda de uma época mais distante:


(...) Eis manso e manso as nuvens se entumecem,
Eis o líquido pêso
Rompe os enormes carregados bôjos, (...)
Rebentam furacões, flamejam raios,
O estrondoso trovão no céu rebrama,
(...) a procela [tormenta] horríssona recresce,
Tingem sombras do inferno os véus da noite
Que o relâmpago retalha:
Braveja o mar, aos astros se remontam
Serras e serras da fervente espuma;
Carrancudos tufões arrebatados
Dobrando a força, a raiva, lutam, berram
E revolvem do pélago [abismo] as entranhas; (…)


Com maior distanciação temporal também apresentamos esta versão da tempestade:
Cobre-se o céu de grossas negras nuvens,
Os ventos mais e mais cada hora crescem,
Já se escurece o céu, já com soberba
Inchadas grossas ondas se levantam.
A nau começa já passar trabalho,
Já começa gemer, e em tal afronta
O apito soa, brada o mestre, acodem
Com presteza varões no mar expertos.
Põe-se o fero Vulturno junto ao cabo,
Levanta lá no céu furiosas ondas;
Austro bramando corre ali com fúria,
Dando um balanço à nau que quase a rende,
Vem com grande furor Bóreas raivoso,
Comete por davante, o passo impide,
Encontra as grandes velas, e, por força,
Ao mastro as pega e a nau atrás empuxa:
Rompe-se por mil partes o céu, e arde
Em ligeiro, apressado, vivo fogo.
Um rugido espantoso vai correndo
Desde o Antárctico Pólo ao seu oposto.
Arremessam-se lanças pelos ares
De congelada pedra em água envolta;
Com espantoso ímpeto, e rasgadas
As densas negras nuvens raios cospem:
De um golpe as velas vêm todas abaixo.

Jerónimo Corte-Real (Typografia Rollandiana,1783-1574)

São constantes as fórmulas da descrição! Sinteticamente, é um desordenado inferno que se representa na tempestade (Brás Garcia Mascarenhas, 1699), um caos, uma desordem incontida que ultrapassa o poder de escolha humano, eventualmente sobrepondo-se à arte de navegar:
Eis o mestre, que olhando os ares anda,
O apito toca: acordam, despertando,
Os marinheiros dũa e doutra banda,
E, porque o vento vinha refrescando,
Os traquetes das gáveas tomar manda.
«Alerta (disse) estai, que o vento crece
Daquela nuvem negra que aparece!»

Não eram os traquetes bem tomados,
Quando dá a grande e súbita procela.
«Amaina (disse o mestre a grandes brados),
Amaina (disse), amaina a grande vela!»
Não esperam os ventos indinados
Que amainassem, mas, juntos dando nela,
Em pedaços a fazem cum ruído

Que o Mundo pareceu ser destruído!

Podemos verificar a pregnância das noções que a tempestade marítima nos provoca, primeiro, a semelhança intemporal nas descrições, a tempestade é um combate de gigantes, entre elementos naturais: forças desumanas, segundo, o olhar que a tempestade marítima devolve sobre nós acerca de nossa fragilidade em meio tão agressivo, terceiro, as analogias que propicia relativamente à nossa vivência em subjetividade (como o mar nos embravecemos, por exemplo, ultrapassando a ordem que o homem tem de trilhar devido à sua inteligência e necessidade de profícua sociabilidade).
Se permanece bem caraterizada a fragilidade humana - e nisto a nossa dependência última do que nos é transcendente -, se permanece também entre os terrores a necessidade de segurar o medo que nessas condições desponta, querendo comandar a razão – se algum espaço para ela há – será então esta a sua mais forte garantia, mas se, contudo, para ela não há espaço nem arte que valha, contudo, então apenas a esperança poderá resistir:

(...) Fragil taboinha, que o bater das ondas
Póde num so momento
Fazer em mil pedaços!
Ai de mim! Trinta vezes no horizonte
O pae das luzes despontou radioso,
E co'a tocha brilhante
A meus cançados olhos
Nada mais amostrou que o quadro imenso
De soledade infinda, – os ceus e os máres! (...)

Almeida Garrett (Sustenance e Stretch, 1829)

Ainda no seguimento do disposto por Almeida Garrett relativamente à solidão humana na sua fragilidade, de onde brota a esperança sobre todas as dificuldades, a tempestade no mar ajuda também a reconhecer outras batalhas travadas na subjetividade humana, interiormente. Esta analogia das tempestades com a subjetividade humana foram também tratadas por Francisco Pina de Mello e Fernando Rodrigues Lobo 'Soropita':

No mar em que de novo amor me guia,
O mais seguro porto e dar a costa;
Aonde todos se perdem, ai esta posta
Minha salvação, ai me salvaria.
So fe me há-de salvar nesta porfia
Do vento, que contrario vem de aposta;
E pois sua mor perda e dar a costa
Comigo, eu com costa me queria.
Que vai ja o querer, aonde a ventura
Criou tão desigual merecimento?
Valha-me pura fe, vontade pura!
Valha-me navegar meu pensamento
Com tal estrela, cuja formosura

Abranda o duro mar de meu tormento.
Fernão Rodrigues Lobo 'Soropita' (Campo das Letras, 2007)
e em Francisco Pina de Mello:
Que bravo o mar se ve! Como se ensaia
Na furia e contra os ares se rebela!
Como se enrola! Como se encapela!
Parece quer sair da sua raia.
Mas tambem que inflexivel, que constante
Aquela penha esta a forca dura
De tanto assalto e horror perseverante!
O empolado mar, penha segura,
Sois a imagem mais propria e semelhante

De meu fado e da minha desventura.
Francisco Pina de Mello (Off. de Joseph Antunes da Sylva, 1727, 2ed)
Já em António Ferreira é considerada como uma demasia os arrojos humanos pelos oceanos, numa fala que é semelhante à do Velho do Restelo, a sensatez e o acometer feitos estão na balança, ganhando a primeira:
(…) meu irmão, metade
da minha alma (...) [que] tornes vivo, e são
do fogo, e tempestade
a que se aventurou c'o esprito ousado.
Vença à dura fortuna a boa tenção.

Quem cometeu primeiro
ao bravo mar num fraco pau a vida
de duro enzinho, ou tresdobrado ferro
tinha o peito, ou ligeiro
juízo, ou sua alma lh'era aborrecida.
Dino de morte cruel no seu mesmo erro.

Esprito furioso
que não temeu o pego alto revolvido
(entregue aos ventos, posto todo em sorte)
do sempre tempestuoso
Áfrico, nem os vaus cegos, e o temido
Cila infamado já com tanta morte!

A que mal houve medo
quem os monstros no mar, que vão nadando,
com secos olhos viu? Que o céu cuberto
de triste noite, e quedo
sem defensão, c'o corpo só esperando
está a morte cruel, que tem tão perto?

Se Deus assi apartou
com suma providência o mar da terra,
que a nós, os homens, deu por natureza,
como houve homem que ousou
abrir por mar caminho mais a guerra
qu'a paz, e a morte mais, roubo e crueza?

Que cousas não cometes,
ousado esprito humano, em mar, e em fogo
contra ti só diligente, e ingenioso?

Que já te não prometes,
des qu'o medo perdeste à morte, e em jogo
tens o que de si foi sempre espantoso?

Um o céu cometeu;
outro o ar vão experimentou com penas
não dadas a homem; outro o mar reparte
que por força rompeu.
Senhor, que tudo vês, que tudo ordenas,

pera Ti só chegarmos dá-nos arte.




António Ferreira, «A ûa nau d'armada em que ia seu irmão Garcia Fróis»



Poemas Lusitanos, 1598

Todavia, não são apenas formados de ousadia temerária tais empreendimentos marítimos, pois as duras experiências e a morte iminente podem transmutar os terrores na revelação de um valor imortal para o homem, enquanto este se realiza no trabalho em meio das dificuldades, mostrando firmeza no Amor que dedica à sua função, ao seu trabalho, apesar das contrariedades com fatais perfis. Camões proporciona nas suas Rimas, pela fala do Capitão Themioscles, o ganho de uma afinação imortal para o homem que permanece na sua função ante sua iminente morte - «vendo a morte diante de mim» -, enquanto o seu objetivo ainda está longe, como se dissesse: feliz o homem que a morte o surpreende trabalhando. Só nestas extremas condições é apurado o Amor: «Ali Amor mostrando-se possante / e que por nenhum modo não fugia, / – mas quanto mais trabalho, mais constante – ». Consideremos o excerto do poema que expõe mais completamente esta ideia:

(...) As cordas, co ruído, assoviavam;
os marinheiros, já desesperados,
com gritos para o Céu o ar coalhavam.

Os raios por Vulcano fabricados
vibrava o fero e áspero Tonante,
tremendo os Pólos ambos, de assombrados!

Ali Amor mostrando-se possante
e que por nenhum modo não fugia,
mas quanto mais trabalho, mais constante – ,

vendo a morte diante de mim, dizia:
«Se algûa hora, Senhora, vos lembrasse,
nada do que passei me lembraria».

Enfim, nunca houve cousa que mudasse
o firme Amor do intrínseco daquele
em cujo peito ûa vez de siso entrasse.

Ûa cousa, Senhor, por certo asssele:
que nunca Amor se afina nem se apura,

enquanto está presente a causa dele.(...)

LVCamões, «O poeta Simónides, falando», Rimas,
(excerto da fala do Capitão Themioscles) 1953-1595


publicado originalmente no Jornal da Economia do Mar

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Sem demagogia ou irritantes otimismos



  
Estamos profundamente inseridos numa crise da sociedade em que vivemos e da política que praticamos. Ainda há pouco, passámos apenas de um tipo de austeridade para outro. O futuro não é, nunca é, para ser encarado com otimismos esfuziantes. E os portugueses tampouco merecem governações sem que se saiba que apoio podem esperar no parlamento. A recente coligação, pelas palavras de um dos nossos mais interessantes analistas, formou-se pronta a suportar um governo «(...) num acordo que ninguém viu, nem Presidente nem deputados. Nem o PS! Muito menos o povo.» Esta falta de clareza eleitoral não deveria ter lugar no futuro, não oferece credibilidade nem à política nem, muito pior, à democracia.


A falta de oportunidades para os jovens, que é aliada à falta de investimento sustentável, a escassa mobilidade social– em que os filhos, mais instruídos, estão a viver pior que os pais –, o declínio demográfico – previsto há décadas – , e uma classe média pouco empreendedora, são alguns dos nossos tremendos, nossas preocupações fundamentais. Importa explicitar com clareza, sem demagogia ou irritantes otimismos, perante as gerações presentes, que nos encontramos perante opções políticas decisivas. Todos convergimos que o problema fundamental, que nos tem preocupado a todos, é político.


Defendo uma transformação de fundo, que aposte fortemente no pensamento estratégico, que não cinda a nossa história, que realize equilíbrio de poderes, que contenha órgãos de controvérsia e órgãos de acordo, ou seja, que esteja preparada institucionalmente para elaborar tanto alternativas como consensos. Defendo, portanto, a monarquia em pluralidade democrática, onde as maiorias não esmaguem as minorias, um parlamento forte e uma Constituição que além de proteger os direitos, liberdades e garantias, também se abra à mudança de regime, pois este regime republicano radical, que se fechou à alternativa, afinal, quase tão só tem vivido implantado nas instituições que a monarquia criou e dinamizou.

domingo, 24 de junho de 2018

Frases


«When a culture stops looking to the future, it loses a vital force. (...) Thomas Mann once accused his peers of cultivating a "sympathy for the abiss". Cultural pessimism is rarely a helpful state of mind. Where one stands inherently subjective.» E.Luce (2017:203)