A modernização
não tem por que comportar a ideia radical da contenda com o passado.
Aliás, a maior parte das nossas instituições, de assistência
social, democráticas, de ensino e ciência, de saúde, de cultura,
ou foram fundadas durante a monarquia ou assentam naquelas fundações.
Assim a Constituição, o Parlamento, a Democracia, as Escolas
públicas, básicas, secundárias ou superiores, os Tribunais, as
Misericórdias, os Hospitais, os Teatros, mas também o ensino
obrigatório, as estradas, o telégrafo, os comboios, a luz
elétrica, a livre expressão e a circulação de ideias, são
promoções de uma monarquia atuante no sentido do desenvolvimento
social, em consonância com as inquietações de época e com as
dinâmicas europeias. A alteração relativa a estilos de vida com
melhor saúde, higiene e projetos de vida em aberto, o aumento da
literacia, são produtos da ação humana em aberto, não são uma
inevitabilidade, mas emergiram por meio de instituições que se
vieram implantando durante os últimos séculos. A organização e
criação de fontes de
financiamento para a beneficência conduziram a uma maior eficácia e
extensão dessas atividades, a instrução foi proporcionada por
todo o País, das bibliotecas e Academias de D.João V às escolas
técnicas com D.Maria I, D.Maria II e monarcas seguintes. Retomada
sucessivamente segundo as necessidades de cada época, realizou-se
uma constante e abrangente institucionalização do ensino, para que
não falecessem as práticas com os mestres de ofícios, mas antes se
pudessem reproduzir e avantajar. Ao tempo de D.José cerca de 720
escolas públicas foram instituídas, serviam a instrução das
primeiras letras e conhecimentos gerais, e com D.Maria I atingirão
mais de 900. Obviamente,
nenhuma destas obras de alcance global na sociedade portuguesa foram
edificadas em alguns poucos dias e para nenhuma delas se obteve pleno
acordo, porém, sempre foi benéfica a continuidade, a consistência,
o aperfeiçoamento das políticas, ano após ano, década após
década, numa paulatina modernização.