Hans Christian Andersen |
Ao
final do século XIX
a diferença entre os rumores e as realidades encontradas em
Portugal, rumores que haviam feito Hans
Christian Andersen hesitar
profundamente entre vir e não vir, faz-lhe tecer o elogio e a
estranheza dessa diferença,
pois
«Diferente
é a realidade da imagem que formara de Lisboa pelas descrições que
lera. «Mais luminosa e bela» é essa realidade. «Onde estão as
ruas sujas que vira descritas, as carcaças abandonadas, os cães
ferozes e as figuras de miseráveis das possessões africanas que, de
barbas brancas e pele tisnada, com terríveis doenças, por aqui se
deviam arrastar?» Nada disso. As ruas são «largas e limpas», as
casas «confortáveis com as paredes cobertas com azulejos brilhantes
de desenhos azuis sobre branco» e as portas e janelas de sacada «são
pintadas a verde ou a vermelho, duas cores que se vêem por toda a
parte, mesmo nos barris dos aguadeiros». Há vida e movimento.»
(1)
Este quadro
luminoso, de largas e limpas ruas, com casas de paredes cobertas com
azulejos brilhantes em desenhos de azuis sobre branco, corresponde às
impressões por ele colhidas em sua viagem, mas que se não distam
daqueles quadros que também pintou Pires de Rebello, mais de
trezentos anos antes. O entusiasmo de sua descrição refere um mundo
confortavelmente habitado e neste sentido a sua referência ganha
também carácter paradigmático. Que diferença entre os autores
universais que dizem acerca de Portugal e alguns que só ficaram
célebres pelo azedume.
(1) AAVV, Biblioteca
Nacional, http://purl.pt/768/1/vap/em-lisboa.html,
2005, p.2