- «Fui admitida. Podia ir para
Roma ou para Estocolmo. Não sei porquê, escolhi Lisboa...»
- «É muito bonita, Lisboa»,
disse ele distraidamente.
(…)
Escolhera a sua habitação ao passear
uma tarde de barco na baía de Cascais. Avistara ao longe algumas
casas de pescadores construídas mesmo sobre os rochedos e
contemplara-as sonhando... Uma delas, particularmente, tentara-a,
com o seu terraço pintado de branco e azul. Uma vinha virgem,
entrelaçada de campainhas, trepava até ao telhado. Nessa mesma
noite fora vê-la. Bateu à porta com emoção. Uma mulher de idade
abriu a porta e conduziu-a até ao terraço. A umas dezenas de
metros mais abaixo estavam ancorados alguns barcos de recreio e
embarcações à vela. Ouvia-se o suave bater das vagas que
escorregavam por entre os rochedos. (…) O aluguer atingia quase
metade do seu salário. «Paciência ! Alugo!» pensou ela.
Mircea Eliade, Bosque Proibido,
338 (trad.Maria Leonor Buescu)