«(...) se com devida atenção quisermos considerar, os extremos
da nossa composição com passo de tão desvariados membros, o número e ordem de
tantas potências poderemos manifestamente conhecer que nos deu a natureza em
nós mesmos não somente a mostra de suas grandes maravilhas mas ainda um copioso
e expresso regimento para o governo de nossas vidas, porque quem bem discutir, e especular, o
assento tão firme dos pés o artificio tão grande sobre eles edificado, o foro
do corpo tão robusto e largo; a lonjura dos
braços, o engenho e subtileza das mãos, as luzernas dos principais sentidos
postos em a cabeça como em atalaia de todo o corpo verá evidentemente como em
nós estão traçados os fundamentos e princípios de toda a prudência humana, e
governo da boa e perfeita república, verá como digo em nós desenhada uma
república sobre todas mais excelente que é o reino ajuntado de muitos e
desvairados estados (...)»
Francisco de Melo na abertura das Cortes de Évora, Domingo dia 13 de Junho de 1535 (D.João III)