sexta-feira, 8 de maio de 2015

Mar




Do grande mar do meu tormento antigo,
Como aurora d’amor sai a esperança,
Vestida já da luz que de si lança
O sol que eu sempre temo e sempre sigo.

Ao seu aparecer foge o perigo;
Aonde quer que a claridade alcança,
Rompe o véu negro da desconfiança
Que juntamente aprovo e contradigo.

Mas o secreto d’alma, inda toldado
Das nuvens negras com que antigamente
A cercou por mil partes meu cuidado,

Se a luz de tanta glória inda não sente,
São efeitos cruéis do mal passado
Que lhe não deixam ver o bem presente.


Fernão Rodrigues Soropita