Do grande mar do meu tormento antigo,
Como aurora d’amor sai a esperança,
Vestida já da luz que de si lança
O sol que eu sempre temo e sempre sigo.
Ao seu aparecer foge o perigo;
Aonde quer que a claridade alcança,
Rompe o véu negro da desconfiança
Que juntamente aprovo e contradigo.
Mas o secreto d’alma, inda toldado
Das nuvens negras com que antigamente
A cercou por mil partes meu cuidado,
Se a luz de tanta glória inda não sente,
São efeitos cruéis do mal passado
Que lhe não deixam ver o bem presente.
Fernão Rodrigues Soropita