sábado, 1 de agosto de 2015

Mar na poesia portuguesa



(...) Eis manso e manso as nuvens se entumecem,
           Eis o líquido pêso
Rompe os enormes carregados bôjos,
Em torrentes sussurra e cai na terra.
Rebentam furacões, flamejam raios,
O estrondoso trovão no céu rebraa,
O Helesponto nas rochas ferve e ronca.
(...) Debalde o mar bramindo, o céu troando
           Teu ímpeto ameaçam: 
Ardem-te na alma os sôfregos desejos.
Fulgurante ilusão, dourando as trevas (...)
Nisto a procela horríssona recresce,
Tingem sombras do inferno os véus da noite
            Que o relâmpago retalha:
Braveja o mar, aos astros se remontam
Serras e serras da fervente espua;
Carrancudos tufões arrebatados
Dobrando a força, a raiva, lutam, berram
E revolvem do pélago as entranhas;
Rochedo imóvel, aferrado à terra
Rebate apenas o horroroso assalto. 
(...)


Manuel Maria Barbosa Bocage, Cantata de Hero a Leandro