Redução do horário de trabalho resulta em maior produtividade para a empresa e em mais tempo livre para o trabalhador. Parece um contrassenso, mas são as conclusões de uma experiência real, ao fim de um ano de jornadas laborais de seis horas diárias. Sem perdas no salário. Há um ano, 68 enfermeiras aceitaram o papel de "cobaias" num lar de idosos de Gotemburgo, a segunda maior cidade da Suécia. O governo queria saber se a redução do horário de trabalho de oito para seis horas, opção já seguida por algumas empresas privadas no país, proporcionaria apenas mais tempo livre aos trabalhadores ou também efeitos positivos na sua produtividade. Segundo as conclusões agora apresentadas, as duas ideias casam uma com a outra. As enfermeiras que participaram na experiência de trabalhar menos horas por dia, sem alterações no salário, mostraram-se 20% mais felizes do que as de um grupo de controlo com responsabilidades idênticas, mas com oito horas de trabalho diárias. As primeiras faltaram metade das vezes por baixa médica e precisaram de menos pausas para descansar, além de revelarem uma energia maior. Essa disponibilidade física permitiu-lhes realizar mais 64% de atividades com os idosos, quando comparadas com as enfermeiras obrigadas a uma carga horária mais alargada. "Isto significa cuidados prestados de maior qualidade", destacou Bengt Lorentzon, um dos responsáveis pela coordenação do projeto, à agência de notíciasBloomberg. A ideia de uma jornada laboral de seis horas já tinha sido experimentada na função pública da Suécia, mas, como não ficou comprovada a eficácia da medida, foi interrompida em 2005. No setor privado, desde o início deste século que a sucursal da Toyota em Gotemburgo aderiu às seis horas de trabalho diário e a agência Brath, especializada emmarketing digital, segue os mesmos passos. Magnus Brath, o fundador, diz no site oficial da empresa que a iniciativa lhe permite "contratar e segurar os talentos", pois "assim que os trabalhadores se habituam a ir buscar as crianças à escola ou a cozinhar um bom jantar, não vão querer perder isso outra vez". Este patrão sueco garante que a produtividade aumentou e acredita que a preocupação com o bem-estar dos seus funcionários está na base do sucesso da Brath, que desde 2012 tem vindo a dobrar os lucros de ano para ano. No estudo realizado no lar de idosos, não foi contabilizado o aumento de custos para o empregador, neste caso o estado, que foi obrigado a contratar mais 15 enfermeiras para compensar a redução da carga horária. Rui Antunes in Visão