quarta-feira, 15 de março de 2017

Jogando xadrez com Voltaire



O estreito caminho agrícola serpenteia definido pelas extremas das propriedades. Ladeado de pedregulhos e tufos de várias herbáceas é uma via sem fim que recorta a paisagem. De passeio com o meu cão, enquanto prossigo ascendente o trajeto sulcado pelos trabalhos agrícolas e divisões de propriedade, ele faz círculos excêntricos a meu redor, saltando a murada baixa do caminho em corridas desenfreadas.

Uma dessas vias conduz-me por entre vinhedos já podados em março, mas desolados, ainda sem rebentos. Os paus cortados parecem sangrar, torturados e silentes, degolados. Todavia, a crueza técnica que perpetrou esta definição tem um mandato de renovação, de convicção e de normalidade. As vides aparecem agora tristes, torcidas e despidas, somente com minúsculas protuberâncias deixadas para que rebentem. Estão deixadas como mortas, mas para uma renovação certa como a primavera. A profusão abundante de folhagem e fruto é garantida, se cumpridos os trabalhos.