[O mar] (…) Aceita-me apenas convertida em sua natureza:
plástica,
fluida, disponível,
igual
a ele, em constante solilóquio,
sem
exigências de princípio e fim,
desprendida
de terra e céu. (…)
E
recordo minha herança de cordas e âncoras,
e
encontro tudo sobre-humano.
E
este mar visível levanta para mim
uma
face espantosa.
E
retrai-se, ao dizer-me o que preciso.
E
é logo uma pequena concha fervilhante,
nódoa
líquida e instável,
célula
azul sumindo-se
no
reino de um outro mar:
ah!
do Mar Absoluto.
Cecília
Meireles, Mar absoluto (excerto), in Mar absoluto,1945