O
historiador António José Telo identifica na atualidade mais
"paralelos do que gostaria" com a Primeira Guerra,
considera reais os perigos de um conflito global tradicional e
acredita que, de uma nova forma, a terceira Guerra Mundial já
começou. Em entrevista à agência Lusa a propósito dos 100 anos do
Armistício - que se assinalam domingo -, o historiador e professor
da Academia Militar vê na propagação
do caos, na crise das soberanias tradicionais, na alteração brusca
de equilíbrios e na mudança das regras do jogo pontos de
contacto com o período que levou ao conflito de 1914-1918.
"Curiosamente
há mais paralelos do que gostaria. Preferia que não houvesse
tantos", disse, apontando como um dos "aspetos visíveis"
a forma "como o caos se propaga a várias sociedades" e as
dificuldades destas "em manter as funções normais de
soberania", António José Telo apontou como exemplo as
situações em países ibero-americanos como o Brasil, a Venezuela ou
a Colômbia.
"O Brasil é o exemplo típico de um Estado que deixa de cumprir as suas funções tradicionais e passa a ser substituído por um caos que vem de baixo e cresce rapidamente. Mas o que está a acontecer com o Brasil aconteceu já com metade de África, com grande parte do Médio Oriente, com grande parte do continente asiático e está a avançar na Europa", reforçou.
Para o historiador, "há situações cada vez mais difíceis de controlar na Europa com a dificuldade de os poderes soberanos se afirmarem" a que se junta "uma descrença nas ideologias tradicionais".
"O Brasil é o exemplo típico de um Estado que deixa de cumprir as suas funções tradicionais e passa a ser substituído por um caos que vem de baixo e cresce rapidamente. Mas o que está a acontecer com o Brasil aconteceu já com metade de África, com grande parte do Médio Oriente, com grande parte do continente asiático e está a avançar na Europa", reforçou.
Para o historiador, "há situações cada vez mais difíceis de controlar na Europa com a dificuldade de os poderes soberanos se afirmarem" a que se junta "uma descrença nas ideologias tradicionais".
"Esta descrença é uma das causas que provoca a crise dos poderes soberanos. As pessoas deixaram de acreditar ou pelo menos tendem a deixar de acreditar na boa vontade dos políticos e dos Estados tradicionais", sublinhou.
Para o historiador, "o desfazer das soberanias que marcou o fim da Primeira Guerra" é hoje também "perfeitamente patente".
"As
soberanias tradicionais estão em crise, as situações de pré-caos
ou de caos vão crescendo rapidamente", reforçou, assinalando
também a "corrida ao armamento" que antecedeu a Primeira
Guerra, o que, assegura, está a acontecer também agora.
"Talvez os europeus não notem muito porque não correm aos armamentos, mas tudo à volta corre, a começar na Ásia, a continuar pelo Médio Oriente, Estados Unidos e Ibero-Americana", apontou.
António
José Telo receia, por isso, que os "paralelos sejam muitos",
considerando tratar-se de indicadores de que a ordem atual "não
vai durar muito tempo".
"Ainda
não é claro o que vem aí, mas há de facto uma tendência para o
agravamento das tensões nacionais
que podem provocar guerras entre os
Estados, uma coisa que parecia impossível há poucos anos,
mas que hoje não é", disse.
O
historiador admite que estão reunidos os ingredientes para "uma
receita explosiva". "O perigo de uma guerra tradicional
existe e é cada vez maior, mas a guerra na nova forma, essa já
começou. Quando falamos numa terceira Guerra Mundial, estamos a
pensar numa guerra clássica, num choque entre Estados, porque noutra
aceção na minha opinião já começou. Um
novo tipo de guerra mundial está a decorrer e a mudar rapidamente o
mundo", sustentou.