Tivemos três repúblicas até agora, a primeira de 1910 até ao golpe de estado de 1926, a segunda daí até ao 25 de Abril de 1974, e a terceira, desde então até agora. Pela sua sucessão tumultuosa, pela presente e cavadíssima crise, pela ausência de expectativas sociais e políticas, torna-se evidente a necessidade de uma revisão. Algumas das mais nefastas experiências passadas foram extinguidas. O individualismo político não subsistiu na primeira república. A desordem social e política da primeira república não sucedeu na seguinte formulação, e na terceira república não houve tanta perseguição aos adeptos da segunda. Essas formas extremadas de combate político foram, felizmente, subtraídas da nossa convivência. A meu ver, os dispositivos de legitimação partidária, a tolerância política e a consequente convivência democrática, são a herança mais bela e frutífera deste passado recente, e, os seus inversos, o individualismo, a intolerância, o revolucionarismo, estão ausentes do combate político; causas graves do impasse político da sociedade portuguesa no século XIX, como o foram também de muitas outras sociedades europeias. Mas ainda durante o século XX assistimos às suas réplicas, sobretudo pela via das ditaduras à esquerda e à direita. (cont.)