Alexandre Herculano |
«(…) na solidão, a saudade de uma
existência cheia de amor e de esperanças, a vergonha do suplício
afrontoso e o temor da morte lhe não consentiam velar-se diante de
si próprio com a máscara que a vaidade e o orgulho põem na face
humana ainda nas mais terríveis situações, para que a vida seja
contínua farsa, da qual o coração é o ator mentiroso desde o
berço até ao sepulcro.»
Machado de Assis |
«Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volitam que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.
Essa ideia era nada menos que
a invenção de um medicamento sublime, um emplasto
anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica
humanidade. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a
atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão.
Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam
resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos
efeitos. Agora, porém, que sou cá do outro lado da vida, posso
confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver
impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas e enfim nas
caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas.
Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do
foguete de lágrimas. Talvez os modestos me argúam esse defeito:
fio, porém, que esse talento me hão de reconhecer os hábeis.
Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada
para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; do
outro lado sede de nomeada. Digamos: - amor da glória.»