Há cerca de 100 anos acreditava-se que não existia vida para lá dos 600 / 700 metros de profundidade. (...) [Os] resultados das expedições oceanográficas, nomeadamente as dos monarcas de Portugal (Carlos I) e do Mónaco (Alberto I), que, utilizando técnicas de palangre conseguiam chegar a profundidades elevadas recolhiam animais, nunca antes vistos pelo ser humano, a profundidades superiores aos 600 / 700 metros. Estas primeiras expedições oceanográficas, que incluíam registo de batimétricas e catalogação de novas espécies marinhas começaram a revelar que o mar era mais profundo do que se pensava e que essa profundidade tinha mais recursos do que apenas água.»
quinta-feira, 29 de setembro de 2016
sábado, 24 de setembro de 2016
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
Memória
“O Rei só se justifica como Chefe livre de uma Nação livre. Para que ele possa ser livre, é imprescindível que a Nação o consagre em liberdade, ou por amor da liberdade, como aconteceu com El-Rei D. Afonso Henriques, El-rei D. João I e com El-Rei D. João IV.”
“Por força de uma sucessão dinástica a que me sinto completamente vinculado, achei-me perante deveres recebidos de meu Pai e dos Reis de Portugal, nossos antepassados, que a eles nunca se escusaram.”
“A Instituição Real explica-se por uma dádiva total ao País, para além da existência ou inexistência do Trono.”
Trechos da 1ª Mensagem de S.A.R. Dom Duarte Pio, em Março de 1977
por João Távora
Perspetivas políticas europeias (IV): Cenários
«For
many supporters of the European project, the EU has entered
“uncharted territory,” and for the first time in its 60-year
history, they worry that at least some aspects of EU integration may
be stopped or reversed. Others contend that there is a chance that
the multiple crises currently facing the EU could produce some
beneficial EU reforms and ultimately transform the bloc into a more
effective and cohesive entity. Possible future scenarios for the EU
include the following:
Muddling
Through. The EU would largely continue to function as it currently
does, without any significant treaty changes or decisionmaking
reforms, and find some degree of common solutions to crises such as
those posed by Greece’s economic situation and increasing migratory
pressures. The EU would continue to pursue integration and common
policies where possible, with or without the UK as a member.
Establishing
Two Speeds. The EU would become a two-speed entity, consisting of a
strongly integrated group of “core” countries and a group of
“periphery” countries more free to pick and choose those EU
policies in which they wish to participate. Some analysts suggest
that a two-speed EU already exists in practice, with varying
membership on a range of EU initiatives, such as the Eurozone,
Schengen, justice and home affairs issues, and defense policy. Others
suggest that a formal two-tier structure could undermine solidarity
and create frictions between “core” and “periphery” member
states.
A
Looser, More Intergovernmental Configuration. Further EU integration
would essentially be put on hold, and possibly reversed in some
areas, with sovereignty on certain issues reclaimed by national
capitals. This may be most likely should reform-minded euroskeptic
parties come into power in more EU countries and if the UK is
successful in its bid to carve out additional EU policy exemptions. A
looser structure may make it easier for the EU to expand ultimately
to include Turkey, the remaining aspirants in the Western Balkans,
and other countries such as Georgia and Ukraine.
A
Tighter, More Integrated Configuration. The EU would emerge from its
current challenges more united and integrated. Some suggest such an
outcome could actually be more likely in the event of “Grexit”
and/or “Brexit,” leaving a somewhat smaller EU of member states
more aligned on the need for further political and economic
integration. This configuration would likely not encourage further EU
enlargement.»
Kristin
Archick (Specialist in European Affairs), TheEuropean Union: Current Challenges and Future Prospects,
Congressional
Research Service,
June
21, 2016
domingo, 18 de setembro de 2016
CPLP com sabor a sal
Paulo Serra Lopes |
A CPLP está na sua plena maturidade e deve apontar para objectivos estratégicos mais ambiciosos e conquistar o seu justo lugar na cena geo-política mundial. Deve ser um organismo de peso internacional e não meramente uma associação dos países da lusofonia.
O posicionamento geográfico dos países da CPLP, a sua distribuição por todos os continentes, mas ainda mais relevante a sua distribuição por todos os Oceanos permite uma influência estratégica e um domínio de uma área de Mar que é das maiores do planeta.
O espaço lusófono tem vindo a consolidar presença e relevância no mundo. A criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa representou bem esta ideia de aproximação de Estados independentes com um fim em comum.
As duas décadas de desenvolvimento desta organização e a comemoração neste ano dos seus 20 anos reforçam a ideia da sua criação e legitimam a que se dê um passo maior no protagonismo mundial da CPLP. Está chegada a hora de reclamar nas instâncias internacionais uma competência maior que agrega os países da CPLP para além da lusofonia.
E esta competência é o domínio de uma extensíssima área marítima, porventura uma das maiores do mundo, permitindo assim estender este desígnio do Mar que Portugal tem assumido a uma nova dimensão, a dimensão da lusofonia. Este posicionamento estratégico deve ser encorajado por Portugal e tornar o universo dos países da lusofonia também o universo privilegiado da Economia Azul.
Marcando presença nos vários continentes, da Europa à África, da América à Ásia, o aprofundamento desta relação com o Mar representa ganhos para todos os participantes e uma visibilidade crescente da sua actuação em todas as organizações que têm capacidade de ajudar a talhar para o futuro da Humanidade, a sua relação com os Oceanos.
Será nos Oceanos que o Homem encontrará o seu futuro desenvolvimento e a sustentabilidade que será necessária para a crescente população mundial, que por coincidência terá no Universo da lusofonia, com destaque para o Brasil, uma das maiores taxas de crescimento populacional. Também vários países como o minúsculo Luxemburgo, têm uma crescente população de origem portuguesa, o que fará prever novas potenciais adesões ao universo lusófono da CPLP.
A língua portuguesa é já uma das mais faladas do planeta – e com presença em todos os continentes, agora tenderá a crescer também nos Oceanos.
Portugal foi fundador e é a sede da CPLP. É a única organização internacional transcontinental com sede no nosso país e que agora poderá ser a melhor forma de fazer crescer o prestígio de Portugal e da comunidade lusófona no Mundo. Devemos assim, acarinhar mais a organização e demonstrar o nosso respeito pelo papel que esta pode desempenhar na nossa afirmação na Economia Azul.
As responsabilidades que temos nesta organização é factor necessário e suficiente para que a CPLP tenha condições de dar o salto para uma dimensão maior que consolide o seu estatuto, que lhe confira o reconhecimento internacional enquanto potência de reconhecida história e potencial futuro na exploração dos Oceanos.
É este o desafio do futuro que deveria ser o mote da comemoração do seu vigésimo aniversário: a conquista do seu justo papel nos Oceanos.
Oceanos estes que nos unem, que foram responsáveis pelos descobrimentos, que foram a forma de constituição desta comunidade unida pela língua e agora também pelo Mar.
A comunidade internacional tem de olhar para a CPLP como muito mais que uma mera associação dos Estados que a compõem pela sua língua mas também pelo seu potencial desígnio comum: o Mar.
É tempo da CPLP ser reconhecida por novos valores e impor-se em outros domínios para se criar uma nova era de oportunidades para os seus Estados, para os povos que os constituem e para o futuro da Humanidade. in JEM
sábado, 17 de setembro de 2016
domingo, 11 de setembro de 2016
sábado, 10 de setembro de 2016
Da Poética dos Mares III
Boiar
o sonho nesta nação
única de memória do mar
Depois
de um prolongado fenecer das práticas económicas e sociais dos
portugueses relativamente às suas atividades marítimas, emerge
novamente no pensamento estratégico nacional o mar como desígnio de
desenvolvimento socioeconómico,
elemento fulcral da nossa geoestratégia do mar,
desde 2006, isto é, como fonte de crescimento económico, como meio
desenvolvimento social adequado ao País. Poucos anos depois, as
cidades viram-se para o mar com seus passeios marítimos, a
tecnologia desenvolve-se, começa o direcionamento do investimento
para este amplo setor, ganham-se competências de negócio e
profissionalização, aumenta a atenção dada pela governança, e a
Economia do Mar torna-se visivelmente de social importância
relativamente às suas potencialidades para o emprego, quer pela sua
dimensão quer pelas competências requeridas, transversais a todos
os tipos de qualificação profissional.
O
mar identifica-nos como País distinto no seio de uma globalização
tendencialmente padronizadora e por
suas potencialidades socioeconómicas e culturais podemos encontrar a
dimensão, a escala e a profundidade que falta ao território.
Contudo, haverá também que gerar esse fator grandeza que não
existe na maioria da mentalidade portuguesa. Se já são ensaiados os
primeiros passos para a maritimidade da nossa economia,
regenerando social e economicamente a nossa imensa varanda oceânica
com excelência, monitorizando os produtos e os métodos, ainda falta
uma maior difusão tanto da informação das oportunidades (de que o
Jornal da Economia do Mar e a recentemente iniciada série documental
da RTP «Regresso ao Mar» são exemplo) como também carece a maior
difusão das atividades culturais (artísticas, de lazer e
desportivas) relacionadas com o mar.
A
poesia, geração após geração, não só tem elaborado a leitura
do mar nas várias dimensões em que se tem vindo a relacionar com a
vida portuguesa, mas também, no seu campo próprio de conhecimento
tem conferido e tem acentuado a maritimidade portuguesa, mesmo quando
esta teve nas recentes décadas um recuo tremendo nas áreas
económicas. A poesia, atividade reflexiva e interpretativa, nunca
deixou diretamente de descobrir o mar na identidade portuguesa pela
sua linguagem intemporal. O mar
é um nosso histórico, por várias razões, não apenas geográficas,
culturais e sociais, devido à sua proximidade, mas também,
sobretudo, pelo adquirido histórico, na medida em que assinalámos a
entrada do mundo europeu numa nova época, enquanto se passou a
apresentar o conhecimento do mundo à escala global, encetámos a
época dos avanços científicos e tecnológicos europeus que
perdurou cerca de quinhentos anos, e a terra voltou a ficar redonda.
A rememoração da nossa história permite algumas afirmações
constantes na nossa consciência. Abrimos o mar:
(…)
fomos abrindo aqueles mares,
Que
geração alguma não abriu
(...)
Camões
(Lusíadas,
V, 1572)
Ou,
numa outra versão que perdura nos atuais manuais escolares,
(...) Que
era dantes o mar? Um quarto escuro
Onde os
meninos tinham medo de ir.
Agora o
mar é livre e é seguro
E foi
um português que o foi abrir.
Afonso
Lopes Vieira (Guimarães Ed., 1966-1940)
Abrir
é o verbo comum a estes excertos, mas uma abertura que revela o
âmago da humana aventura no seu caminho pelo apenas provável.
Todavia, além da elevação contínua e sistemática da
sofisticação, além da inovação e domínio técnico, que não
foram de pouca monta, essa abertura não foi realizada sem
sacrifício:
(…) o
corpo morto dum herói, primeiro
Cruzado da unidade deste
mundo,
No dorso frio de uma onda
irada,
Mandou aos mortos, com a mão
na espada,
Boiar o sonho, que não fosse
ao fundo.
Miguel
Torga (Gráfica Coimbra, 1995-1952/1965)
E
foi esta afirmação além do individual, esta tenacidade além do
limite humano da mortalidade, incluíndo o projeto pessoal num
desígnio transgeracional, numa marca institucional ou nacional, é
ainda hoje o único sentido que nos pode orientar a realizar caminho
além das possibilidades já configuradas, insistindo em memória e
progresso.
As
possibilidades ou oportunidades abrem como fecham-se e são
contrárias por natureza aos ismos
ou à estabilização. Apenas os objetivos políticos nacionais e o
concomitante desenvolvimento de competências permanecem como pontes
ao mundo futuro. No dizer do poeta,
não há alma
mais poderosa
senão aquela que se constitui pela procura, processo cujo desfecho
é sempre representado num mundo
novo:
No
mundo dos que gritam
Há uma
alma mais poderosa
Mais
chorada pelo povo
E
saudosa.
A
sua arte é a busca do mundo novo.(...)
Miguel
Torga (Gráfica Coimbra, 1995-1952/1965)
E
esta procura do novo,
humana realização na incerteza do possível, fosse realizada no
passado ou a que realizamos diária e constantemente, é para nós
historicamente simbolizada pela viagem no Tenebroso.
Tratou-se
e trata-se ainda de unir a certeza do já dado ao mundo que nos está
em falta, o conhecido ao desconhecido, pois da certeza pela incerteza
é feito o caminho da aventura humana:
(...)
Era o resto do mundo que faltava
(Porque faltava mundo!)
E o agudo perfil mais se
aguçava,
E o mar jurava cada vez mais
fundo.
Sagres sagrou então a
descoberta
Por descobrir:
As duas margens da certeza
incerta
Teriam de se unir!
Miguel Torga (Gráfica
Coimbra, 1995-1952/1965)
Historicamente
e ainda hoje, para nós, não fora o mar, pouco mais haveria a
continuar:
(...)
Não fora o mar
e o longo apelo, o canto da sereia,
apenas ilusão, miragem,
breve canção, passo breve na areia,
desejo balbuciante de viagem.
e o longo apelo, o canto da sereia,
apenas ilusão, miragem,
breve canção, passo breve na areia,
desejo balbuciante de viagem.
Fernanda
de Castro (Império,
1941)
A
série de acontecimentos históricos só toma sentido por
interpretações, ações e consequências além do seu presente
factual. O Pinhal de Leiria é aumentado por D.Dinis (1279-1325)
já com intenção marítima, depois de plantado por D.Sancho II e
D.Afonso III. Este aumento tornou possível a capacidade - pioneira -
de se adquirir gratuitamente a madeira para a construção de navios
de grande porte, de modo a fazer aumentar as trocas comerciais com o
exterior, contudo, sendo o pinhal sempre renovado na medida dos
cortes então efetuados. Nesta abertura da possibilidade marítima,
tão cedo elaborada em relação à Europa, fomos também os
primeiros seguradores marítimos do mundo, com a Bolsa
de Mercadores
(1293) com D. Dinis e depois com a associação mutualista Companhia
das Naus (1380)
no tempo de D. Fernando (1367-1383).
A inovação técnica acompanhará também a construção naval,
exemplo disto é a
Caravela Redonda, resultado da informação recolhida pelos
portugueses com objetivos de melhoramento das suas possibilidades de
marinharia face aos ventos que foram encontrando. Em
1864 D. Luís criou o Domínio Público Marítimo (DPM). Estadista e
homem de ciência, há 150 anos teve o sonho de tornar Portugal num
HUB dos transportes marítimos europeus, desenvolvendo uma rede
ferroviária desde o coração da Europa até aos portos portugueses,
e uma frota que assegurasse a distribuição de pessoas e mercadorias
para África e América do Sul.
Não
bastasse estas e outras vanguardas portuguesas relativamente aos
assuntos do mar, a
nossa relação com o mar elaborou contributos civilizacionais
singulares, socioeconómicos
e culturais, e justamente nos atribuem a primeira onda da
globalização, na expressão indiana, a era gâmica.
É, pois, nesta dimensão consciente e histórica que a poesia em
Portugal, quando se liga ao mar acontece de forma única, como seu
próprio símbolo e metáfora. A evidenciação desta pertença,
marítima e poética, adquire na expressão de Natália
Correia uma interpretação magistral:
Sou
filha de marinheiros
pelo
mar que também quis.
Pela
linha da poesia
sou
neta de D.Dinis.(...)
Natália
Correia, (Dom Quixote, 2013-1954)
Pelo
mar que também quis
não pode ser uma expressão colhida apenas literalmente como a sua
viagem voluntária efetuada de Ponta Delgada (Açores) a Lisboa, mas
de modo a procurar a plenitude metafórica da poesia terá de ser
esse mar que também
quis, o mar que é
abertura e horizonte em que se elaboram as humanas navegações por
um desconhecido a descobrir. E nisto, continua a sobressair um
símbolo inconfundivelmente de valor universal, a da alma em
constante procura de um mundo novo. Como diz Miguel Torga, essa alma
mais poderosa, que
abre as possibilidades novas.
Saibamos
ultrapassar o tempo conjuntural por determinação política,
institucional e nacional, e construir incessante e sistematicamente
uma Economia do Mar, como fizemos Boiar
o sonho, que não fosse ao fundo.
Assim, na nossa evidência
histórica, seremos como fomos, na vanguarda e na identificação
coletiva,
(...)
uma nação única de memória do mar,
que
não responde senão em nós. (…)
Fiama
Hasse Pais Brandão (Relógio
D'Água, 2000).
sábado, 3 de setembro de 2016
Perspetivas políticas europeias (III)
«(...)
fica tudo misturado no atual caldo de medo europeu, agitado por
demagogos da política e dos media:
o cidadão migrante da UE, inteiramente legal, o migrante ilegal de
fora, o mei-migrante-económico- meio-refugiado político (…), o
refugiado político clássico (…), o muçulmano e o terrorista. Há
uma espécie de continuidade imaginária que vai do canalizador
polaco ao bombista suicida (…).»
Timothy
Garton Ash, «Os muros estão a ressurgir: é 1989 ao contrário»,
in The
Guardian apud Courrier
Diplomatique (versão portuguesa)
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