Nem todos os
órgãos de soberania da democracia são sufragados, assim é o caso
do poder judicial e do executivo. Já o poder legislativo, local e a representação do Estado são hoje sufragados. Mas, se as representações da
assembleia legislativa e dos órgãos do poder local são efetivamente abrangentes, já a representação de Estado, contraditoriamente, tem uma
representatividade menor e surge como um divisor. O resultado
desta situação para a democracia, sabemos à esquerda e à direita,
tem sido uma adição da conflitualidade.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Teses IV
Os ciclos económicos e os ciclos políticos não se ligam necessariamente a ciclos eleitorais. Advogo, pois, que a representação do todo nacional e da estabilidade política, dos objetivos permanentes e comuns à democracia e a sua continuidade estratégica, podem estabelecer-se somente com um representante do Estado prolongado no tempo, obviamente, na condição deste ser apartidário. A nossa democracia beneficia, estruturalmente, da Instituição Real.
Marinha do Tejo
A Associação Naval de Lisboa (fundada
em 1856 como Real Associação Naval, é o clube náutico mais antigo de
Portugal e da Península Ibérica) passou a integrar o elenco dos Centros e
Associações Náuticas que vai concretizar o calendário em 2013.
terça-feira, 8 de outubro de 2013
(Muito) mais compatível
«(...) nos últimos anos tenho vindo a descobrir os encantos da monarquia constitucional, ao ponto de hoje a considerar, de longe, a forma de estado mais compatível com o parlamentarismo e com a democracia liberal (...).»
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Member of President Obama’s Economic Recovery Advisory Board |
«Education
(...) must be broadly defined to include moral and ethical behaviors
and good decisionmaking. There is plenty of evidence that such
behaviors pay an ample reward to the individuals who make them and,
unfortunately, the absence of such behaviors extracts a cost,
potentially from all of us.»
Roger W. Ferguson Jr., Economics
and Ethical Behaviors,
Sidwell Friends School, Washington D.C., May 22, 2004.
A modernidade não originou nem uma civilização única nem um só padrão institucional
A expansão
ocidental, nascida em Portugal e depois alargada pela demais nações
europeias, desenvolveu novos sistemas institucionais e novos quadros
de referência simbólicos. Surgiram sistemas económicos, políticos
e ideológicos, multicêntricos e heterogéneos e cada sistema gerou
a sua própria dinâmica. (...) A modernidade expandiu-se por todo o
mundo, mas não originou uma civilização única nem um só padrão
institucional.
Mendo Henriques e Nazaré Barros in Olá, Consciência! (222-223)
Mendo Henriques e Nazaré Barros in Olá, Consciência! (222-223)
sábado, 5 de outubro de 2013
Uma questão ao republicanismo
Desde quando todos os cidadãos “livres e iguais em direitos” conseguem, por exemplo, estar ao mesmo nível numa eleição presidencial?
David Garcia
Economia desunida
A disparidade das taxas de juro no empréstimo a sociedades não financeiras na UE continua a ser o assunto mais importante para considerar o crescimento económico.
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
O melhor de vários modelos
O ser humano é tão criativo como adaptativo e normativo. Acumulou e transmitiu saber com que pôde transformar o meio, fazer instrumentos e organizando-se. Mas tradição e progresso estão sempre relacionados. Cada geração altera e continua práticas sociais, dinâmica política, o modo de avaliar as circunstâncias. Diferentes são os modos de comunicação e de interação, mas continuam as estruturas da relação e de realização humana, em comunidades horizontais e em sociedades verticais. Considero, contudo, que a organização das sociedades é a sua melhor tecnologia. E deste ponto de vista penso que estamos numa época em que é possível relacionar o melhor dos vários modelos já entretanto experimentados.
Mais Comunidade
O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, afirmou hoje que a
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é incapaz de ir além
de questões como a história ou a língua, reclamando um "cariz mais
económico" para a organização. (...) A globalização trouxe desafios maiores e o caminho é
agora entrar no "mercado e no comércio internacional". Timor-Leste
vai assumir, pela primeira vez, em Julho do próximo ano a presidência
rotativa da CPLP, durante a cimeira da organização que vai decorrer em
Díli.
Para o novo mandato, Xanana quer dar um "cariz económico" à
organização: "Queremos mudar a face da CPLP para uma comunidade de
países com investimentos estratégicos, aproveitando o 'know-how' de um
país, as necessidades de outro e aproveitando a capacidade financeira de
outro".
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Rebels Without a Clue
(...) it looks quite possible that
default would create a huge financial crisis, dwarfing the crisis set
off by the failure of Lehman Brothers five years ago.
No sane political system would run
this kind of risk. But we don’t have a sane political system; we
have a system in which a substantial number of Republicans believe
that they can force President Obama to cancel health reform by
threatening a government shutdown, a debt default, or both
(...).
Paul Krugman
O tempo histórico emerge da consciência
«Que diversos se nos mostrariam e como nos pareceriam importantes, muitas vezes assustadoras, as modificações que mal notamos agora! (...) Todavia, e embora a história nunca se repita, podemos em certa medida aprender, pela observação do passado, e evitar a repetição de um mesmo processo.»
HAYEK, Frederic (1977), O Caminho para a Servidão, Lisboa, Teoremas (trad. Mª Ivone Serrão de Moura).
HAYEK, Frederic (1977), O Caminho para a Servidão, Lisboa, Teoremas (trad. Mª Ivone Serrão de Moura).
Poesia
Este lugar amou perdidamente
Quem o cabo rondou do extremo Sul
E a costa indo seguindo para Oriente
Viu as ilhas azuis do mar azul
.......................................................
Viu pérolas safiras e corais
E a grande noite parada e transparente
Viu cidades nações viu passar gente
De leve passo e gestos musicais
Perfumes e temperos descobriu
E danças moduladas por vestidos
Sedosos flutuantes e compridos
E outro nasceu de tudo quanto viu
....................................................
1988 (Ilhas)
sábado, 28 de setembro de 2013
The huge lack
«(...) we have a huge lack is in understanding the dynamics of change. Our theories are essentially static. Most of us in this room understand the elements needed for a good economy: clear and enforceable property rights, the rule of law, etc. But what we severely lack is a theory of social change. Our inability to understand the basic mechanisms of social change is evident in practical application. The disastrous programs of so-called transitional economies provide abundant evidence that we do not know how societies really change, and without that knowledge we have to admit that while we know what makes for a good economy, we don't actually know how to get good economies.»
Douglass C. North (Nobel); Spencer T. Olin (Professor of Arts and Sciences at Washington University) @ The International Society of New Institutional Economics
Poesia
Formoso Tejo meu, quão diferente
te vejo e vi, me vês agora e viste!
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste,
claro te vi eu já, tu a mim contente.
A ti foi-te trocando a grossa enchente
a quem teu largo campo não resiste;
a mim trocou-me a vista em que consiste
o meu viver contente ou descontente.
Já que somos no mal participantes,
sejamo-lo no bem. Oh, quem me dera
que fôramos em tudo semelhantes!
Mas lá virá a fresca primavera!
Tu tornarás a ser quem eras de antes,
eu não sei se serei quem de antes era.
Francisco Rodrigues Lobo
Aberturas
Prever é sempre difícil, em particular o futuro, escreveu com ironia o físico Niels Bohr. Mas temos de o inventar. Antever futuros é fazer sociedade sem nos submetermos à tirania do presente. (...) Quanto mais ficamos absorvidos pelas urgências do presente, menos nos relacionamos com um projeto. Se é verdade que o futuro está sempre em aberto, ainda assim não é fruto do acaso ou do destino, mas sim de decisões.
Mendo Henriques e Nazaré Barros in Olá, Consciência! (p.233)
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
terça-feira, 17 de setembro de 2013
O indispensável pluralismo democrático
Excessos (...) estão a fragilizar não só a liberdade de pensar como o simples bom-senso. A consequência é vivermos tempos de empobrecimento do indispensável pluralismo na abordagem dos mais diversos assuntos relacionados com a qualidade de vida em comum. Estão em causa a saúde, a justiça, a educação, a vida do dia-a-dia, entre outros exemplos. Libertar o pensamento empírico ou especulativo numa época em que as democracias estão sedimentadas pode revelar-se um caminho útil para a reinvenção do modo como os Estados tutelam as sociedades.
Gabriel Mithá Ribeiro in «O Ensino da História», Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa, 2012, 13.
Faltas
«O nosso erro foi a gestão. Foi pensarmos que podíamos abordar o mercado global sem pessoas que conhecessem esse mercado. Faltou-nos aquilo que as Dell, Amazon e Google têm, os business developers. Era por aí que devíamos ter começado.» in Basta!
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
Mediações
Promover a invenção de novos laços de comunicação e contaminação entre programações televisivas e cinematográficas, de modo a evitar a tendência atual de transformar as narrativas num inventário de "demonstrações sociológicas" mais ou menos moralistas.
Adapt. de João Lopes
Revisitando D.João V.
O fomento do setor industrial assumiu particular relevância económica desde 1720, isto é, a promoção de unidades fabris de manufaturas capazes de concentrar capital e trabalho em todas as fases de transformação do produto. A iniciativa e o investimento financeiro de particulares, entre técnicos estrangeiros e homens de negócio nacionais, concretizava-se com a obtenção do apoio do Estado, expresso sob a forma de isenções fiscais e ou exclusivos de fabrico.
Vide Leonor Costa, Pedro Lains, Susana Miranda in História Económica de Portugal 1143-2010, in «Consolidação 1703-1807», págs 240-241.
terça-feira, 3 de setembro de 2013
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Pensamentos
Sim,
se
a gente se visse
como
nos vêem os outros,
não
se reconhecia.
Mas
isto é verdade
também
para os outros.
Miguel
Torga
Diário
VIII
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Liberdade, democracia, pluralismo, objetivos permanentes
A política decorre na livre contenda de interesses e opiniões. Os conflitos expressam-se na discussão democrática. O nosso modo de viver é plural. No entanto, não é o pluralismo político que por si só resolverá os nossos problemas estruturais. Importa identificar coletivamente formas políticas comprovadas, que permitam uma democracia mais completa. Mas, sem uma representação do todo nacional que afirme a lógica da participação além da lógica do confronto, sem um órgão de acordo sobre objetivos permanentes, sempre nos encontraremos numa situação continuamente instável e fragmentada em que não amadurecem as políticas.
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Incentivos e exclusões
Nem todos os modelos de
incentivo são replicáveis, sobretudo em meios socioculturais mais deprimidos, como é o caso de
grandes setores das sociedades de Este e do Sul europeu e de África,
seja porque a classe média é escassa e tradicionalmente pouco
empreendedora, criada aliás pelas administrações, seja por
insuficiente capital de literacia, que é acesso à informação e às
oportunidades, ou seja porque o suporte familiar aumenta
exponencialmente a rede de apoio ao indivíduo, que assim pode
estender a sua juventude esperando emprego. Este último facto é especialmente relevante nos
casos dos países do sul da Europa - França, Itália, Espanha e
Portugal - e em África.
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Reportagem - A bitcoin passa a ser sujeita a imposto na Alemanha
Mikaela compra um quilo de peixe – “três euros”, anuncia o pequeno reclamo – e paga em dinheiro, de mão para mão. Sem recibo, nem caixa. A transação não deixa um único traço visível, a não ser o saco cheio de peixes reluzentes que Mikaela leva consigo.
Duzentos metros mais a sul, no mesmo bairro, Brand bebe um latte macchiato, ao balcão do Floor’s Café. Quando chega a altura de pagar, Brand pega no smartphone, fotografa o flashcode que apareceu no ecrã da caixa, carrega no “OK” e vai-se embora. Também ele não deixou rasto do pagamento que fez. Ou quase. Um software transferiu dinheiro da sua conta na Internet para a conta do café (...) Os dados da transação estão a salvo na cadeia, protegidos por processos criptográficos extremamente rigorosos que impedem que qualquer pessoa tenha acesso a eles ou possa alterar o montante, a origem ou o destino.
Embora satisfaça todos os critérios que definem uma divisa, conforme reconheceu recentemente o juiz texano Amos Mazzant, a bitcoin escapa por completo ao controlo dos governos e dos bancos centrais, que começam a preocupar-se com a sua expansão, em aumento constante.
No início, eram raros os clientes que pediam para pagar em bitcoins. Mas, hoje, todos os dias há alguns que as usam para pagar um café, um bolo ou uma sandes. “Não são nerds com óculos e rabo-de-cavalo. E são tantos homens como mulheres, na maioria jovens, pertencentes aos meios alternativos”, explica Florentina. Para ela, tal como para quase todos os outros “bitcoiners” entrevistados pelo Linkiesta, a principal motivação é o repúdio, que foi tomando forma sobretudo durante a crise, pelos bancos privados e pelas políticas monetárias dos bancos centrais em geral. A divisa alternativa “descentralizada” é considerada como uma coisa mais próxima dos consumidores, além de ser conforme com o espírito da época.
Até à data as transações efetuadas com esta moeda escapavam ao imposto. [A partir de agora], serão deduzidos 25% sobre os benefícios de uma venda em bitcoins. […] Relativamente às empresas, estas deverão incluir uma taxa de IVA em todas as suas transações em bitcoins.
in www.presseurop.pt
terça-feira, 20 de agosto de 2013
Os factores principais dos bons Índices de Desenvolvimento Humano
O investimento na saúde e no ensino
públicos pagou grandes dividendos; onde não houve, as pessoas
permaneceram pobres.
vide Gregory Clark, Farewell to Alms - A Brief Economic History of the World,
Princeton, 2007
A chave do desenvolvimento social, torna-se cada vez mais evidente, reside nas instituições
«Em a Riqueza e a
Pobreza das Nações, David
Landes advoga a explicação cultural, argumentando que a Europa
Ocidental liderou o mundo ao desenvolver a busca intelectual
autónoma, o método de verificação científico e a racionalização
da investigação e da sua difusão. No entanto, Landes também
considera que foi necessário algo mais para que esse modo de
operação pudesse florescer: intermediários financeiros e bom
governo. A chave, torna-se cada vez mais evidente, reside nas
instituições.»
Niall Ferguson,
Civilização. O Ocidente e os
Outros,
2012
Poesia
Iate Santo Amaro |
Quando
eu era pequeno, vinha o navio de sal,
Era
um acontecimento!
E
meu tio António Machado ia sempre ao areal
Com
o seu óculo de alcance desencanudando a barlavento.
Era
um iate cheio de cordas e de velas,
Chamado
Santo
Amaro,
o Veloz
ou o Diligente
E,
como trazia o sal, que é o sabor das panelas,
Era
esperado tal qual como se fosse um ausente.
Na
barra do horizonte era um ponto sozinho,
Mas
crescia no vento a sua vela crua,
E
o sol, ao morrer, tingia-lhe de vinho
A
proa que vestia a pau a vaga nua.
Ali
vinha, do Alto, sem sextante nem erro,
Enchendo
devagar as previstas derrotas,
E
plantava no fundo a sua raiz de ferro
Fazendo
abrir no céu como flores as gaivotas.
As
raparigas sãs da ribeira do mar,
Que
traziam na pele um aroma silvestre,
Punham
os olhos muito compridos, a cismar
Nas
cordas que secavam as roupas íntimas do Mestre.
Os
pescadores mediam com a linha das pestanas
O
tamanho do Audaz,
a sua popa alceira:
Nunca
tinha arribado àquelas praias insulanas
Tanto
pano de verga, tanto oleado, tanta madeira!
Por
isso, abrindo nas rochas duras
A
branca humanidade das suas nocturnas casas,
Se
encostava ao bater daquelas velas escuras
Como
o corpo de um pássaro se deixa levar pelas asas.
Mas
a bolacha-capitão cheia de bicho, e a água salobra,
O
olhar amarelo e vazado que tinham as lanternas de vante,
A
magra soldada que toda a companha cobra,
E
a calma podre que apenas tem o navio flutuante;
O
frio de rachar na noites devolutas
O
baldear do convés, todo em veios de breu,
E
quantas outras vãs marítimas labutas
Ali
curtidas, entre mar e céu:
Nem
isso, nem o sal nos porões engolidos ̶
Espécie
de luar para ver às avessas ̶ ̶
Lembrava
aos pescadores e aos patrões absorvidos
No
lucro da chegada e no valor das remessas.
Assim
o meu navio de sal, que precipita
Em
pedrinhas de neve águas sem importância,
Guarda
por fora intacta a sua linha bonita
Escondendo
talvez o melhor da sua ânsia.
Ah,
se ele fosse salgar os caldos já tragados,
Tornar
incorruptível a mocidade já verde,
Interessar
o óculo do velho tio e os vidros suados
Da
janela que ao longe este horizonte perde!
Se
fosse encher de branco as paragens insonsas,
Manter
o gosto a vida aos dias moribundos,
Conservar
as faces às moças
E
o movimento aos mares profundos,
Então
sim! Levaria a porto e salvamento
A
sua carga.
Na
dúvida, Capitão, espera o vento,
Iça
as velas e larga!
Vitorino Nemésio, «O
Navio de Sal» in O
Bicho Harmonioso,
1938
sexta-feira, 26 de julho de 2013
Teses I
Os problemas não podem resolver-se dentro do sistema que os criou e os perpetua. Penso
que a simples continuidade do presente sistema não é capaz de
suportar nem as demandas sociais, nem a operacionalidade afirmativa do
desenvolvimento ou as dificuldades que diferentes aspectos problemáticos
antepõem à sociedade portuguesa. Mas podemos
corrigir a inclinação do sistema a repetir problemas.
terça-feira, 16 de julho de 2013
Oriente de ontem, Europa de hoje
(...) esta competição a vários níveis, entre Estados e dentro dos Estados - e até dentro das cidades - ajuda a explicar a rápida difusão e evolução da tecnologia (...). À semelhança do que sucedia com a tecnologia militar, a competição gerava avanços à medida que os artesãos iam realizando melhoramentos pequenos mas cumulativos na precisão e na elegância do produto. (...) Em comparação com a manta de retalhos europeia, a Ásia Oriental era - pelo menos em termos políticos - um vasto cobertor monocromático.
Niall Fergunson, Civilização. O Ocidente e os Outros
terça-feira, 9 de julho de 2013
Paradigma de humanidade (III)
Hans Christian Andersen |
Ao
final do século XIX
a diferença entre os rumores e as realidades encontradas em
Portugal, rumores que haviam feito Hans
Christian Andersen hesitar
profundamente entre vir e não vir, faz-lhe tecer o elogio e a
estranheza dessa diferença,
pois
«Diferente
é a realidade da imagem que formara de Lisboa pelas descrições que
lera. «Mais luminosa e bela» é essa realidade. «Onde estão as
ruas sujas que vira descritas, as carcaças abandonadas, os cães
ferozes e as figuras de miseráveis das possessões africanas que, de
barbas brancas e pele tisnada, com terríveis doenças, por aqui se
deviam arrastar?» Nada disso. As ruas são «largas e limpas», as
casas «confortáveis com as paredes cobertas com azulejos brilhantes
de desenhos azuis sobre branco» e as portas e janelas de sacada «são
pintadas a verde ou a vermelho, duas cores que se vêem por toda a
parte, mesmo nos barris dos aguadeiros». Há vida e movimento.»
(1)
Este quadro
luminoso, de largas e limpas ruas, com casas de paredes cobertas com
azulejos brilhantes em desenhos de azuis sobre branco, corresponde às
impressões por ele colhidas em sua viagem, mas que se não distam
daqueles quadros que também pintou Pires de Rebello, mais de
trezentos anos antes. O entusiasmo de sua descrição refere um mundo
confortavelmente habitado e neste sentido a sua referência ganha
também carácter paradigmático. Que diferença entre os autores
universais que dizem acerca de Portugal e alguns que só ficaram
célebres pelo azedume.
(1) AAVV, Biblioteca
Nacional, http://purl.pt/768/1/vap/em-lisboa.html,
2005, p.2
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