terça-feira, 29 de março de 2016

Machado de Assis - do período atual e da queda da monarquia no Brasil


«A resposta para compreender o período de transição da Monarquia para a República foi dada, no romance de Machado, pelo conselheiro Aires no capítulo 64 (“Paz”): “Nada se mudaria; o regímen, sim, era possível, mas também se muda de roupa sem trocar de pele.”. Essa imagem tem o poder de demonstrar a origem das “ideias fora do lugar”, para lembrar a expressão de Roberto Schwarz, e como a acumulação dos problemas sociais se configura na atualidade. Atualidade esta que se mostra presente na obra de Machado de Assis, em Esaú e Jacó, especificamente, uma vez que a sociedade (...) ainda recorre às “trocas de roupa” para se adaptar a uma determinada situação.»
Renato Oliveira Rocha18 de Março 2016, in Jornal da Manhã 

segunda-feira, 28 de março de 2016

Prémio que valoriza a promoção da cultura lusófona atribuído a Dom Duarte



A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO


Começo por agradecer a tão honrosa atribuição da medalha Jorge Amado, um gesto que muito me comoveu. A responsabilidade de vir falar na União Brasileira de Escritores deixou-me bastante preocupado, porque eu gostaria de vos dizer alguma coisa de original e que justifique a vinda aqui de tão ilustre audiência.
Há muitos anos que me preocupo com a preservação da Língua Portuguesa. As independências das Nações que há mais de 500 anos se encontravam associadas a Portugal, acontecidas frequentemente de modo dramático, (fruto da guerra-fria existente na época entre a União Soviética e muitas democracias ocidentais), criaram situações de ruptura.
Felizmente, poucos anos passados notou-se que os laços afectivos existentes entre as várias comunidades que partilhavam uma nacionalidade comum com os Portugueses, conseguiram ultrapassar as divergências políticas e os ressentimentos inevitavelmente provocados pelas guerras da independência.
O Brasil não sofreu esse problema, graças à inteligência política dos próprios líderes independentistas brasileiros e dos meus Avós, D. João VI e Imperador D. Pedro I. É também de tomar em conta que o movimento independentista foi, obviamente, conduzido pelos descendentes dos Portugueses que colonizaram o Brasil. Tal não aconteceu em África. Mas todos os movimentos independentistas nas Províncias Ultramarinas Portuguesas em África sempre se esforçaram por cultivar a Língua Portuguesa como elemento indispensável da unidade nacional, em territórios habitados por populações que falam “muitas e desvairadas línguas”, como se dizia antigamente.
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A actual multiplicidade de países que assumem o Português como Língua oficial torna a nossa Língua
comum politicamente muito mais relevante, sendo a quinta língua mais falada do mundo. Este facto tem, para além do seu interesse cultural, uma grande importância económica e política.

Quando examinamos o espólio riquíssimo de aquisições feitas pela Língua Portuguesa dos sucessivos sedimentos, que no espaço ibérico começa cerca de 5.000 anos A.C., (e de que é testemunha a profusão de “antas” ou “dólmens “ por todo o território), encontramos legados que incorporámos dos numerosos povos que habitaram o território: Iberos, Celtas, Lusitanos, Germânicos, Fenícios, Gregos, Cartagineses, Romanos, Arabo-berberes e Africanos.
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Curiosamente as palavras portuguesas mais antigas derivam do sânscrito. Essas palavras encontram-se nos nomes de rios e montanhas que são os que geralmente sobrevivem às diferentes invasões de novas populações. É o caso dos nomes que incluem a sílaba –ar: Arouca, Arunca, Arade, etc. Essa riqueza deu ao idioma português uma densidade e, em simultâneo, uma plasticidade particular. A plasticidade vai reflectir-se, sobretudo, na “exportação” do nosso léxico pelas terras longínquas onde estivemos e onde, maleáveis por natureza e maleáveis por necessidade, vamos procurar apreender conceitos. Assim o Português não funciona apenas por dinamismo relacionado com a Expansão, mas também por porosidade recolectora. Enriquece-se com esplendor, aditando a si mesmo esse fenómeno impressionante que é o das “crioulidades”, funcionando por denominador comum. Por exemplo, o crioulo de Cabo Verde entende-se com o de Macau, sem lógica de comunicação geográfica. Em minha opinião, tudo indica que linguistas de famílias de Judeus Sefarditas Portugueses terão criado uma gramática mais simples e que seria a famosa “língua franca” que serviu de meio de comunicação em todo o Oriente, África e Antilhas. Os Holandeses, Ingleses e outros povos europeus tiveram que aprender essa linguagem quando começaram as suas próprias viagens comerciais. Só nos territórios sob administração portuguesa é que a língua oficial portuguesa se estabeleceu. As próprias palavras papiar e papiamento nunca fizeram parte da Língua Portuguesa oficial, mas significam bater um papo. Actualmente a Língua Portuguesa encontra-se em risco de perder importância em vários países e territórios.

Em Macau é pouco praticada e só é ensinada em algumas escolas. Em Goa, desde que foi conquistada pela União Indiana em 1961, o Português deixou de ser usado no ensino oficial e há muito pouco material de leitura. Na Guiné-Bissau, apesar de ser a Língua oficial, menos de metade da população costuma utilizá-la. Um dos motivos é a falta de material de leitura, inclusive nas próprias escolas. Torna-se mais fácil comprar livros em francês nos países vizinhos. Em Moçambique o problema é semelhante, mas desta vez devido à forte influência do Inglês, falado em todos os países vizinhos. Neste País, pelo menos, os programas de televisão são em Português. Em Cabo Verde a Língua Portuguesa é usada obrigatoriamente em todos os programas escolares e há edição de livros, mas há intelectuais que pretendem que o Crioulo deveria ser a Língua oficial. Timor-Leste foi ocupado pela Indonésia em 1975, e só recuperou a sua liberdade no ano 2000. Durante a ocupação era proibido o ensino da Língua Portuguesa que continuou, no entanto, a ser praticado nos Seminários católicos. A nossa Língua foi sempre a língua oficial da resistência. O primeiro Governo de Timor independente declarou que o Português seria a Língua oficial junto com o Tétum, que é uma língua formada pela mistura de Português com algumas das antigas Línguas timorenses.
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As Nações Unidas, que administraram Timor durante uns anos após a partida dos Indonésios, faziam pressão para que a segunda língua fosse o Inglês. Actualmente falam Português os que frequentaram pelo menos a escola primária antes de 1975 e as crianças que a frequentaram depois de 2000. A pobreza da maioria da população, e as dificuldades do próprio Governo, levam a que haja uma grande falta de livros e publicações em Português. Como Presidente da Fundação D. Manuel II, estou a concluir em São Paulo um acordo de cooperação com a Fundação Padre Anchieta para poderem ser fornecidos à televisão de Timor os excelente os filmes aqui produzidos. Espero que este acordo de cooperação possa também ser utilizado nos outros Países Africanos onde a nossa Língua possa estar em risco de se tornar irrelevante. Não seria caso inédito se soubermos que a Língua oficial da Irlanda é o Gaélico, mas que menos de 20% da população o consegue utilizar. A Fundação D. Manuel II, registada também em Timor, vai editar a primeira revista timorense em Língua Portuguesa. Chama-se Surik, que significa espada em Tétum. Terá algumas páginas com histórias em quadrinhos, para interessar as crianças. Abordará temas de interesse geral para a população. Seria muito interessante se houvesse instituições brasileiras que pudessem dar algum apoio a esta iniciativa, desde comprar publicidade na revista, até à sua divulgação ou participação com artigos. Creio que seria do interesse estratégico e económico do Brasil de manter a nossa Língua comum no único País da região Ásia-Pacífico em que é língua oficial. A médio prazo as capacidades económicas de Timor serão francamente melhores que as actuais, devido às grandes reservas naturais de petróleo e gás, e devido também ao investimento humano na educação e no desenvolvimento que Portugal tem feito. O Brasil tem dado também um generoso apoio a algumas iniciativas a este nosso País irmão. Logo após o fim da ocupação indonésia de Timor, perante as várias necessidades sentidas pela sua população, a Fundação D. Manuel II considerou que era preciso agir no campo da cultura. Para esse fim oferecemos, com o apoio do movimento monárquico Português e dos militares portugueses que para lá foram destacados, um equipamento gráfico de excelente qualidade. Este é gerido pela Gráfica Diocesana de Baucau, com o apoio de voluntários Portugueses. Lá produzem-se os documentos oficiais timorenses e bastantes livros encomendados pelas Nações Unidas, União Europeia, etc.

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Infelizmente, as encomendas feitas por estas duas instituições têm sido em Tétum…Têm também recebido encomendas para a Austrália. A nova revista será impressa lá e espero que tenha alguma difusão no estrangeiro. O endereço de correio electrónico desta Gráfica é: costamario71@gmail.com. A correspondência deverá ser enviada ao cuidado do Senhor Padre Mário da Costa Cabral. A Directora é a Senhora Dra. Gabriela Carrascalão: gabrielacarrascalao@gmail.com. Esta Senhora, de uma ilustre Família timorense, é jornalista profissional. O Conselho da Redacção é presidido pelo ex-Presidente da República e Prémio Nobel da Paz, Dr. José Ramos Horta. A preservação e o desenvolvimento do uso da nossa Língua tem obviamente um grande interesse económico. Nesse campo a influência do Brasil é absolutamente primordial para ter sucesso numa época em que o Inglês já assumiu uma posição dominante no mundo como língua franca. O Espanhol, ou Castelhano, está também a tornar-se muito influente no continente Americano, incluindo nos Estados Unidos. Espanha tem uma estratégia de substituir o Português sempre que possível. Os falantes de Castelhano têm uma óbvia dificuldade em aprender outras línguas, por terem menos sons na sua própria, e por isso preferem que os outros aprendam a sua. Os nossos aliados são os Galegos e os Catalães que não estão de acordo com esta política… É muito feliz a política brasileira de reciprocidade em relação aos vizinhos, que se comprometem a ensinar o Português quando no Brasil se ensina o Castelhano. A constituição da CPLP é um fenómeno muito interessante porque é um grupo de países que se une primeiramente por motivos culturais e afectivos, antes dos interesses económicos ou de defesa mútua. O outro exemplo poderá ser a Commonwealth britânica, mas nessa os interesses económicos e de segurança são predominantes. No entanto, é importante reforçarmos os interesses económicos e de segurança, pois estes garantem, a longo prazo, o interesse mais imediato por parte dos políticos e das empresas. Facilitar a livre circulação entre os nacionais dos Países da CPLP seria um passo muito positivo. Na Europa existe o programa Erasmus em que estudantes podem fazer um semestre ou um ano da sua licenciatura num outro dos vários países da União Europeia. Eu tenho proposto a criação de um programa semelhante para a CPLP, que poderia chamar-se Programa Padre António Vieira.

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Obviamente que isso não deveria ser confundido com uma liberdade de imigração, porque esta iria provocar graves problemas para todos. Temos que lembrar que a fuga de pessoas qualificadas de países menos desenvolvidos tem um impacto mais grave do que a imigração idêntica em países desenvolvidos. Dentro da própria Europa há grandes comunidades portuguesas e brasileiras estabelecidas, principalmente em França, Holanda, (onde também há uma grande comunidade Cabo-verdiana), na Alemanha, no Luxemburgo (onde chaga s ser ¼ da população activa), na Suíça e no Reino Unido. Frequentemente os filhos dessas famílias vão perdendo as suas raízes culturais lusófonas, por não terem acesso ao ensino da Língua Portuguesa na escola. Há algumas excepções, conquistadas com grande esforço, em que as escolas aceitaram incluir no seu programa o ensino do Português. O mesmo problema existe nos Estados Unidos e no Canadá, onde há grandes comunidades brasileiras e portuguesas e onde a situação é semelhante. Há também uma imigração portuguesa mais pontual um pouco por todo o mundo, incluindo para a Ásia e Médio Oriente, África e Timor. São ainda de referir as comunidades lusófonas existentes na Namíbia, África do Sul, Paraguai e Uruguai. Actualmente alguns programas de voluntariado têm levado a uma presença portuguesa expressiva em vários lugares de África e do mundo com grandes carências.

Devido a acidentes da História, Portugal separou-se da Galiza no começo da sua nacionalidade mas, até hoje, ambos os povos sentem essa ruptura. Nas palavras da Poetiza Galega Rosália de Castro: Vendo-os assim tão pertinho, / a Galiza mail’ o Minho, / são como dois namorados / que o rio traz separados / quasi desde o nascimento. Deixal-os, pois, namorar / já que os paes para casar / lhes não dão consentimento. Actualmente o pai, Portugal, já veria com bons olhos o casamento, mas tem vergonha de o assumir. A mãe continua totalmente contra, mas os filhos cada vez ligam menos… Hoje em dia costuma-se dizer que na Galiza falam o Português da Galiza. Os Galegos pretendem aderir à CPLP como região autónoma, que já são, e mudaram a ortografia oficial de muitas localidades. Essa região tem hoje uma economia próspera e uma vida cultura interessantíssima. A televisão galega, os grupos de música popular, livros, etc., têm contribuído muito para este enriquecimento cultural. No entanto, nota-se que muita gente fala o Galego com pronúncia castelhana porque só aprenderam a falá-lo na escola. Mas nas famílias rurais a pronúncia é igual à minhota.
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Curiosamente os emigrantes do Norte de Portugal iam junto com os Galegos para o Brasil e por isso aí ficaram frequentemente conhecidos pela alcunha de Galegos.Cada língua é uma pátria, cada pátria é uma mátria, uma comunidade de afectos. A nossa Língua tem o embalo da Poesia e o regaço da Mãe do Céu. Tem o coração heróico de quem tem fé, e a humildade discreta e firme de quem ama.

A nossa Língua é um porto de chegada, de abrigo e de sustento, e de partida para o Mundo. Poder vir, ficar, partir e voltar. São as lágrimas salgadas do mar de Portugal, e o “amar, amar perdidamente” da sua gente.
As vastidões de Portugal marcaram os corações. A solidão do isolamento fez alegres os encontros. Trás-os-Montes, Beiras, Alentejo; os montes, a serra, a planície… O Minho e o Ribatejo verdejam e afadigam-se no corre-corre da labuta; dançam contentes e adornados nas suas feiras.

E toda a costa se encosta ao mar, se debruça à sua vista, adormece à sua beira. Deste “cantinho à beira-mar plantado” vê-se o mar, e vê-se o mundo. De perto ou de longe, vê-se com o coração.
Por onde passou deixou o fascínio do outro, e a saudade de casa. Tornou-se da casa e casa de todos na sua Língua. Virou “Saudades do Brasil em Portugal”, “África minha”, epopeia asiática, este “imenso Portugal” da Lusofonia.
Agora, neste tempo informado há pressas pagas pelo sofrimento de muitos e há silêncios de horror.
Que esta nossa Língua possa ser Casa de todos os filhos, semente de um mundo de encontros, de respeito, de alegria e gratidão.

SAR D.Duarte, São Paulo, 16MAR2016

segunda-feira, 21 de março de 2016

Memórias






Produto efetivo e potencial - a racionalidade económica para o crescimento



A investigação do WorldEconomic Ooutlook (WEO) tem centrado e desenvolvido o conceito produto efetivo e potencial para administrar uma racionalidade fundamentada à possibilidade e à previsão do crescimento.

«(...) [I]ncrementar el producto efectivo y potencial sigue siendo una prioridad general para la politica economica
Perspetivas da economia mundial (Abr.2015)

«(…) no se prevé que el crecimiento del producto potencial de las economías avanzadas se afiance sino de manera muy moderada en 2015–20, a pesar de que los legados de la crisis se están desvaneciendo lentamente. La razón principal de este tímido pronóstico es el envejecimiento de la población, que ha dado lugar a la proyección de bajo crecimiento y la posible disminución del empleo tendencial si se mantienen las políticas vigentes que influyen en la participación en la fuerza laboral.»
Perspetivas da economia mundial (Out.2015)

«Los esfuerzos por elevar el producto potencial a través de reformas estructurales siguen siendo críticos. Aunque el programa de reformas estructurales [1] debería ser específico de cada país, [2] los ámbitos de acción comunes deberían incluir el fortalecimiento de la participación en el mercado laboral y el empleo tendencial, [3] la solución del sobreendeudamiento y la reducción de los obstáculos al ingreso en los mercados de productos y servicios
Actualización del informe (Jan.2016)

No relatório da WEO de Abril de 2015 existem 417 ocorrências dos termos produto efetivo e potencial. No relatório de Outubro de 2015 existem 342 ocorrências dos termos produto efetivo e potencial. Nas rectificações de Janeiro de 2016, com apenas 7 páginas, há 16 ocorrências dos termos produto efetivo e potencial. Não encontrei os textos dos relatórios em português.

sexta-feira, 18 de março de 2016

MAR – Implicações Estratégicas




O Desafio da Exploração Económica

Este desafio (...) em último caso se reduz à capacidade de investimento disponível especificamente para o efeito quer no sector público quer no sector privado. De acordo com os cálculos efectuados até ao momento tidos como credíveis, o mar pesa aproximadamente 3% na economia nacional, o que parece manifestamente desproporcionado relativamente à sua dimensão. A Estratégia Nacional para o Mar aprovada em 2013, entre os seus objectivos, visa aumentar esse peso para a ordem dos 4,5% até 2020. Este é pois um desafio concreto cuja resposta poderá ser medida a médio prazo. Atente-se porém no facto de que o maior número dos meios financeiros disponíveis se encontram no quadro da União Europeia, não traduzindo portanto na verdade uma expressão real de um empenhamento financeiro maioritariamente nacional. Tem sido todavia anunciada uma linha de crédito ao financiamento privado na ordem dos 1.5 mil 308 milhões de euros, mas sem detalhe informativo e até com alguma hesitação, o que poderá levar a supor, até melhor esclarecimento, que se está perante uma solução de parcerias público-privadas, eventualmente para a área mineral. Para todos os efeitos, importa ter presente a realidade de que a economia do mar não se encontra desligada da “economia da terra”, no sentido em que, por exemplo se considerarmos o território nacional, a actividade económica desenvolvida nos portos se encontra em grande medida condicionada por um conceito de “hinterland” que do ponto geopolítico se define como o raio de alcance da entrada e saída de mercadorias segundo critérios de proximidade, velocidade (acesso e operacionalidade) e custo. A necessidade de um sistema de informações marítimas, já identificada pela Comissão Estratégica dos Oceanos e acima referido, é pois premente. Detalhando essa necessidade, podemos antever um sistema que visa – num horizonte económico múltiplo, a curto, médio e longo prazo, articulando os sectores público e privado - a aquisição contínua de conhecimento por parte das empresas e demais organizações privadas e instituições públicas, directa ou indirectamente relacionadas com a economia do mar, com vista à obtenção de capacidade prospectiva e vantagem competitiva na defesa e projecção dos correspondentes interesses, e também da salvaguarda destes interesses e conhecimento perante o exterior, no processo de globalização em curso. Porventura dinamizadas pelas associações empresariais, são pois necessárias plataformas de potenciação da actividade empresarial através de um processo de “enriquecimento” de dados, notícias e informação avulsa de várias fontes, nomeadamente dos vários níveis da administração nacional e europeia, com metodologia adequada, que potencie a capacidade de planeamento e previsão dos decisores. Mas não menos importante, a exploração económica do mar português carece também urgentemente de uma efectiva desburocratização do licenciamento excessivo e institucionalmente sobreposto das actividades marítimas, passando por soluções já propostas por especialistas como a de um “guichet único” para o efeito. Numa visão pessimista, indesejável, induzida pelo ambiente de crise recorrente que envolve Portugal, os sucessivos governos, independentemente da sua conexão partidária, não serão capazes de responder a este desafio; não serão capazes de desenvolver políticas económicas que gerem suficiente investimento para o efeito. A submersão da economia marítima portuguesa relativamente ao investimento estrangeiro é o grande risco.

Pedro Borges Graça, «A Extensão da Plataforma Continental Portuguesa: ImplicaçõesEstratégicas para a Tomada de Decisão» in Pedro Borges Graça e Tiago Martins (coord.), O Mar no Futuro de Portugal – Ciência e Visão Estratégica, Centro de Estudos Estratégicos do Atlântico, 2014, págs 301-310.





terça-feira, 15 de março de 2016

segunda-feira, 14 de março de 2016

Dom João de Castro - o Académico

D.João de Castro, o Académico
Na nossa memória colectiva perdura um homem de exemplar personalidade e nobreza de carácter, com notável carreira militar e política, a par da sua notória aptidão e gosto pela investigação científica, traços que bem falta fazem na conturbada sociedade moderna e conjuntura presente, a configurar a “anarquia madura” de que fala o Prof. Adriano Moreira, não exclusiva de Portugal, mas que em nada nos alivia da preocupação.
Em relação à sua produção científica, datam de 1536 as primeiras obras teóricas de D. João de Castro, nomeadamente o “Tratado da Esfera, por Perguntas e Respostas a Modo de Diálogo”, e ainda um outro pequeno tratado, sob o título “Da Geografia por Modo de Diálogo”.
Durante estes dois anos anteriores à partida para Goa, D. João de Castro permaneceu na sua predilecta quinta localizada em Sintra, então designada de Fonte d’El-Rei e posteriormente conhecida por Quinta da Penha Verde, onde continuaria os seus estudos e receberia alguns amigos mais próximos, como o Infante D. Luís, o Vedor da Fazenda, D. António de Ataíde, o Conde da Castanheira e o negociante italiano Lucas Giraldi. Para aí voltaria após o regresso em 1543, refugiando-se na quinta herdada por morte de seu pai, em SET1528.
Ao partir, pela primeira vez, para a Índia, em 1538, integrado na Armada do seu cunhado, o Vice-Rei D. Garcia de Noronha, ao comando da Grifo, uma das onze naus que a compunham, logo aproveitou a viagem para escrever o primeiro de quatro interessantes roteiros, apenas três chegados aos nossos dias.
Essa obra inicial, o Roteiro de Lisboa a Goa, tinha como primeiro objectivo o registo “(...) sob a forma de um cuidado diário de navegação todas as indicações técnicas úteis para conhecer melhor este tipo de viagem e contribuir para o seu aperfeiçoamento”. 
Mal chegado a Goa, logo integraria uma expedição a Diu, aquando do primeiro cerco a essa cidade estratégica, aproveitando para escrever um segundo trabalho, com dedicatória ao Infante D. Luís: o Roteiro de Goa a Diu ou Roteiro da Costa da Índia. Nessa obra, D. João de Castro considerou particularmente bela a orla costeira indiana percorrida. O terceiro trabalho, sob o título de Roteiro da Viagem que fizeram os Portugueses ao Mar Roxo, que constitui um exemplo de observação científica de inegável valor para a época, está datado de 1541, ano em que D. João de Castro acompanhou o Governador D. Estevão da Gama numa expedição de Goa ao Suez, no Mar Vermelho, onde tratou de explicar o fenómeno da cor roxa das águas.
D. João de Castro nunca abdicou da busca do conhecimento, empenhado em acrescentar novos saberes ao seu património intelectual, em descobrir e em investigar. Legou-nos uma obra que é ímpar no âmbito da Cosmografia e da Ciência Náutica, ilustrada pelos roteiros que elaborou.
Rigoroso e pragmático na aferição entre teoria e prática, sabemos que uma significativa parte do seu trabalho científico decorreu no cumprimento da missão que lhe fora conferida pela Coroa Portuguesa. No alvor do método científico, D. João de Castro desenvolveu intensas actividades de investigação, destacando-se, ao nível dos resultados obtidos, estudos tão diversos como a variação das agulhas, das correntes marítimas, da variação das longitudes e do regime dos ventos.
No campo da Ciência, os seus trabalhos reflectem bem a necessidade de associar o cálculo à experiência empírica, exactamente porque a articulação entre a observação e a razão, enquanto desafio emergente, era absolutamente essencial. Mas importa dizer que, consciente das limitações da própria Ciência, encarada em sentido lato, D. João de Castro reconheceu que o saber das Ciências é chegar à verdade, que não se confunde com a verdade absoluta. E esta última acepção é da maior importância, porque nos revela também aquilo que é a humildade do cientista perante a infinita complexidade do mundo natural.
Das várias obras atribuídas a D. João de Castro, já antes destacámos os três roteiros escritos durante a sua estadia na Índia: “de Lisboa a Goa” (1538), “de Goa a Diu” (1538-1539) e “do Mar Roxo” (1540), o mais conhecido e célebre dos três Roteiros de D. João de Castro.
Estes roteiros não seguiram o modelo tradicional do roteiro português, indo mais longe, ao incorporar a redacção de utilíssimas considerações de inegável interesse hidrográfico e náutico, com muitos pormenores que a generalidade dos roteiristas de então, preocupados em descrever sucintamente as viagens, por regra, omitia. Daí alvitrarmos que as três obras de D. João de Castro, tradicionalmente entendidas estritamente como “roteiros”, em vez disso, deveriam ser encaradas mais propriamente como “diários”.
Refira-se, ainda, o trabalho de D. João de Castro – “Uma Enformação que Dom João de Castro, governador da India, mandou a El-Rey Dom João 3º, sobre as demarcações da sua conquista & del Rey de Castella” –, uma espécie de relatório sobre o direito português à posse das Molucas, que era, como se sabe, um território também disputado por Espanha.
Por tudo isto, é da mais elementar justiça o reconhecimento de D. João de Castro, como um dos mais relevantes cidadãos de Portugal e da sua História. Não apenas como militar virtuoso em carácter e dignidade, que sempre serviu a Pátria sem nada exigir para seu próprio conforto, mas também na condição de importante cientista que, no seu tempo, fez saltar do “conhecimento sensível” para o “conhecimento inteligível”, muitos dos domínios e preocupações das Ciências, em suma, um digno exemplo de uma Escola de valores, de ideais e de trabalho, no adágio de vencer pelo próprio esforço.
Essa conjugação equilibrada da dupla condição e vertentes é incontornável e consensualmente valorizada por todos os historiadores que meditaram e continuam a investigar a época da expansão marítima portuguesa.
Em todos estes textos, aliava D. João de Castro um sagaz espírito de investigação e de interesse científico aos conhecimentos de cosmografia que possuía, o que o habilitava a integrar o quadro social e político marcado pelos ideais humanistas atribuíveis ao século XVI português. Com estes trabalhos e o desempenho em prol da boa realização da missão, o seu nome ficou, indelevelmente, ligado ao Oriente.
Excerto de um trabalho do Almirante Rebelo Duarte






domingo, 13 de março de 2016

Imagens de Portugal


«A biblioteca do Palácio Nacional de Mafra é considerada a mais bela do mundo pelo conhecido portal norte-americano Book Riot, dedicado exclusivamente aos livros. Depois de eleger a Livraria Lello, no Porto, como a mais bonita do planeta, Portugal volta a conquistar os EUA com a incrível biblioteca escondida no interior deste monumento nacional. 


"É encantadora", lê-se. "E o que a torna ainda mais impressionante são as técnicas com que é feita a preservação dos livros e como os protegem de serem danificados por insetos. Há 500 morcegos dentro daquela biblioteca. Durante o dia, estes ficam guardados dentro de caixas, mas à noite são libertados para se alimentarem dos insetos que por ali andam". » Excerto de Boas Notícias 

quinta-feira, 10 de março de 2016

Efeméride

Reflexões monárquicas II

                                                          
Rio Grande do Sul


«A Monarquia é a forma mais moderna, mais eficaz e mais barata de governo. Monarquia quer dizer também democracia, liberdade de expressão e de imprensa. 

Monarquias são, hoje, os países mais liberais e mais adiantados do mundo, com a melhor distribuição de renda e os padrões de vida mais elevados. Os exemplos são Suécia, Noruega, Dinamarca, Holanda, Inglaterra, Bélgica, Espanha, Canadá, Austrália e Japão.

Juntas, essas nações são responsáveis por uma imensa fatia do chamado PIB mundial.

Entre os 25 países mais ricos e democráticos do mundo, 18 são Monarquias, ou seja, constituem a esmagadora maioria.

São países que fornecem, ainda, exemplos de socialismo que funciona na prática. Aí estão a Espanha e a Suécia para comprovar.» 

Excerto  de “Tudo que você sempre quis saber sobre a Monarquia e ninguém lhe contou”, publicado pelo Movimento Parlamentarista Monárquico em 1992, com revisão e acréscimos recentes, feitos por monarquistas brasileiros.

Reflexões Monárquicas I

Préambule de la Charte Fondatrice de La CMI - Conférence Monarchiste Internationale 


«Nous considérons comme monarchiste toute nation, tout gouvernement, toute organisation ou tout individu prônant l'instauration ou la préservation d'un système politique organisé autour d'un pouvoir incarné et souverain, défenseur des libertés naturelles et disposant d'une indépendance accrue vis à vis des oligarchies, notamment économiques et politiques.

La Monarchie n’est pas un système politique universel. Mais elle est, pour beaucoup de peuples et de nations, une réalité heureuse ou une aspiration à une société plus juste et soucieuse de protéger les intérêts de ses membres.
 


Nous vivons dans un monde de plus en plus globalisé, qui tend à niveler les réalités humaines, culturelles, historiques, économiques, philosophiques, religieuses... Alors même que la Monarchie consiste à replacer le facteur humain au cœur des préoccupations politiques, la mondialisation, au contraire, tend à faire de l’humain un simple paramètre de développement économique.» 

                                                              Excerto 25Fev2008

segunda-feira, 7 de março de 2016

sexta-feira, 4 de março de 2016

Efeméride



    4 de Março de 1394, nasce o Infante D.Henrique no Porto

quinta-feira, 3 de março de 2016

Da instituição real



Os objetivos de desenvolvimento social, de desenvolvimento institucional e de desenvolvimento económico, colunas políticas principais, efetivamente, não podem realizar-se apenas no período de uma legislatura.


A instituição presidencial visaria colmatar descontinuidades zelando pela linha histórica constitucional, mas apenas isto não pode servir a estratégia de desenvolvimento, não possui poderes para tal, nem tem cultivado suficientemente a conversação para uma melhor coesão política, mas menos ainda tem concitado a continuidade e ou monitorização das políticas estratégicas nacionais (educação, finanças, justiça, segurança).

Se há uma instituição que, continuamente, ao longo dos séculos criou instrumentos de desenvolvimento social, apesar da nossa pesada inércia cultural, como as escolas obrigatórias, os liceus, as escolas superiores, os hospitais, os serviços assistenciais, as ligações modernas terrestres e marítimas, os grémios de cultura e livre pensamento, os teatros, o parlamento, a divisão de poderes, a livre expressão e associação, etc e etc, enfim, tudo o que enforma fundamentalmente a nossa vida cívica, democrática, solidária e cultural, a par ou em liderança com o que havia no mundo, foi a instituição real. Dou apenas cinco exemplos desta liderança e em épocas muito diferenciadas. Portugal instituiu o primeiro seguro marítimo; o serviço assistencial mais completo, antigo e institucionalizado é português (as Misericórdias); instituiu o primeiro hospital veterinário; uma cidade portuguesa foi a segunda na europa usufruir de luz elétrica e um jornal português foi e é ainda hoje o segundo diário do mundo.
PFC