visao.pt |
terça-feira, 17 de maio de 2016
Imagens de Portugal
«Portugal (...) [um] povo com uma capacidade única de perpetuar-se em outros povos. Dissolvendo-se neles a ponto de parecer ir perder-se nos sangues e nas culturas estranhas, mas ao mesmo tempo comunicando-lhes tantos dos seus motivos essenciais de vida e tantas das suas maneiras mais profundas de ser, que, passados séculos, os traços portugueses se conservam na face dos homens e na fisionomia das casas, das igrejas, dos móveis, dos jardins, das embarcações, das formas dos bolos.»
Gilberto Freyre, O Mundo que o Portugês Criou & Uma Cultura Ameaçada: A Luso-Brasileira, Livros do Brasil, Lisboa, 1940, 1ª ed.port, págs. 89-90.
segunda-feira, 9 de maio de 2016
O Apelo do 9 de Maio - [Um] Roteiro para um novo Renascimento da Europa
Seja qual for o resultado do referendo britânico, a Europa precisa de mudança agora. A questão que se coloca é decisiva: para estar em condições de enfrentar os grandes desafios que se apresentam, e de se reconectar com os cidadãos europeus, desiludidos com o projecto europeu, é preciso “refazer” a Europa. É preciso torná-la numa fonte inspiradora para combater a marginalização económica e política, mas também moral e cultural. A escolha é muito simples, ou conseguimos tornar a Europa num projecto de futuro e de esperança para todos... ou estamos perante o início do fim da União!
Sem uma nova dinâmica política, virada para o cidadão e com o envolvimento de todos, há um risco real de a Europa reviver demónios populistas antigos e, mesmo que a história não se repita da mesma forma, o que daí advir será igualmente desastroso.
A condição para o sucesso desta nova etapa é a consciencialização e valorização do que é a União Europeia: a entidade política, económica e social mais solidária, menos injusta, mais democrática, mais pacífica e, simultaneamente, a mais diversificada que a humanidade alguma vez conheceu. “Uma das maiores realizações políticas e económicas do nosso tempo”, como descreveu recentemente o Presidente Obama. No entanto, para manter os valores fundadores da Europa e fazer com que ela reconquiste o seu papel no mundo, é necessário uma estratégia ambiciosa, realista e holística.
Precisamos de um roteiro preciso. No curto prazo, seria importante que as instituições europeias e os Estados Membros – ou pelo menos um grupo relevante deles contando com a França e e Alemanha – tragam para a mesa um roteiro para lidar com as várias crises simultâneas. Para restaurar a confiança mútua e relançar a confiança na Europa, preconizamos seis iniciativas estratégicas:
1. A primeira iniciativa deve focar-se no fortalecimento da cidadania europeia. Como é possível para alguém sentir-se europeu sem uma cultura cívica comum, sem se ser capaz de realmente escolher os seus líderes e o seu programa de trabalho? A este respeito, os Estados devem comprometer-se a implementar uma estratégia comum de educação para a cidadania europeia. É igualmente necessário obter um compromisso de que o futuro presidente da Comissão Europeia vai realmente ser escolhido em função do resultado nas urnas. Também é preciso clarificar as regras no que toca à realização de referendos para decidir sobre a permanência dos Estados na União e evitar renegociações. Uma Europa “a la carte” não é opção.
2. Uma estratégia de segurança e defesa é necessária para defender os cidadãos da União Europeia. Em matéria de segurança interna, os Estados devem cumprir os seus compromissos em termos de partilha de informação e de cooperação em matéria policial (Europol) e judicial (Eurojust). Externamente, precisamos de um verdadeiro sistema de fronteiras europeu baseado num corpo europeu de guarda de fronteiras e infraestruturas modernas de controlo e acolhimento em linha com os nossos valores. Em paralelo, a UE deve adoptar uma nova política de vizinhança, com os recursos humanos e financeiros necessários, focada na estabilização das regiões vizinhas, no plano económico, cultural, diplomático e militar.
3. A terceira iniciativa diz respeito aos refugiados. O acordo com a Turquia não é a solução a longo prazo. Este país está a transbordar e os traficantes transbordam noutras rotas. Deve envolver uma solução a longo prazo para a crise de refugiados A Europa tem que escolher uma outra via: os europeus devem desenvolver uma estratégia para acolher, integrar e preparar as condições para um regresso dos refugiados aos países de origem. Não se trata de acolher todos os refugiados, mas aqueles que estão dispostos a aceitar os nossos valores e tem vontade de se integrar no nosso modo de vida. Tal política só poderá ser aceite se a UE contribuir para a melhoria de vida de todos os cidadãos europeus.
4. Esse é o desafio da quarta iniciativa estratégica, que deve incidir sobre o crescimento e o investimento, através da implementação de uma segunda fase do plano Juncker. É fundamental investir nas indústrias de futuro, que criem empregos de proximidade, permitindo a modernização sustentável da economia e a criação de novas vantagens competitivas. Esta iniciativa deve fazer parte de uma política industrial comum ofensiva, que permita construir margens de autonomia. A título de exemplo, um plano de desenvolvimento e reabilitação do habitat, com base em novos materiais e tecnologias digitais, transformará a vida dos nossos concidadãos dar-nos-á uma liderança mundial neste sector. Preconizamos também outros planos semelhantes focados nas redes de transportes, energias renováveis, competências digitais, saúde, indústrias culturais e criativas.
5. Quanto à zona euro, é importante reforçar o seu potencial de crescimento e a sua capacidade de lidar com choques assimétricos, mas também para promover a convergência económica e social. Estes deveriam ser os novos desígnios do Mecanismo Europeu de Estabilidade deve procurar dar resposta a estes objectivos. Devemos dotar a zona euro de uma capacidade orçamental própria e finalmente concluir a união bancária, corrigindo também os seus defeitos.
6. A sexta iniciativa deve ser inspirada no programa Erasmus, mas para todos e a começar no ensino secundário. A questão é simples, expandir os horizontes culturais, profissionais, geográficos e linguísticos de todos os jovens cidadãos europeus para promover a igualdade de oportunidades e transmitir um sentimento de pertença comum.
Estas iniciativas contribuem para colocar o cidadão no centro do projecto europeu e reforçarem o crescimento, o emprego e a inovação. Estas propostas podem ser facilmente implementadas no prazo máximo de dois anos e meio, tudo depende da vontade política. Roosevelt fez algo semelhante em 1932 com o New Deal. As nossas economias são suficientemente avançadas para corresponder à magnitude destas aspirações. Os fundos podem ser mobilizados através das margens não utilizadas do próprio orçamento da UE e através de novos recursos. A utilização de recursos próprios e a mobilização de empréstimos através do BEI são soluções a considerar.
A médio prazo, é essencial mobilizar os cidadãos europeus para uma reflexão colectiva. Esta dinâmica de mudança deve criar as condições para uma nova conferência intergovernamental ou para uma nova convenção europeia para tornar a Europa uma grande potência democrática, cultural e económica, garantindo no seu seio a solidariedade e os direitos fundamentais hoje ameaçados, uma potência que se atribui os seus meios de soberania. O novo Tratado que resultará daqui poderia aplicar-se apenas aos Estados que desejem uma integração mais profunda, convencidos de que o interesse geral Europeu não se limita à soma dos interesses nacionais.
Mas tudo isto só será possível se as dezenas de milhões de europeus que ainda acreditam no projecto europeu, e que acreditam que é possível mudar o presente para um futuro melhor, se mobilizem em defesa deste projecto colectivo. (...)
Soneto (Núpcias a 6 de Junho de 1760 de D.Maria e D.Pedro III)
quinta-feira, 5 de maio de 2016
Do Sul e das Periferias Europeias
«O facto é que a Europa nasceu no Sul e expandiu-se através da periferia. A partir da Grécia, com a Filosofia; de Roma, com o Direito; de Portugal, oferecendo ao mundo a Liberdade trazida pelo Cristianismo e conferindo-lhe a verdadeira Catolicidade que sempre lhe foi essencial, e, claro, até a periférica Inglaterra, a segunda Potência Marítima do Mundo, sucedendo a Portugal, levando e impondo a Civilização aos mais recônditos e afastados lugares do mundo. No Sul, sim, nasceu a Civilização. No Sul, sim, foi durante séculos onde esteve a riqueza e o brilho da Europa. Diferenças e mesmo diferendos entre o Norte e o Sul, sempre houve, mas daí a uma correlação entre o êxito económico do Norte e uma suposta superioridade ética de cariz religioso, vai um passo que não se afigura, por completa inadequação, avisado dar.»
Gonçalo Colaço «Da Singularidade de Portugal à Afirmação de uma Estratégia Nacional para o Mar» in Pedro Borges Graça e Tiago Martins (Coord.), O Mar no Futuro de Portugal. Ciência e Visão Estratégica, Centro de Estudos Estratégicos do Atlântico, Junho de 2014, pág. 140
quarta-feira, 27 de abril de 2016
D.Luís I e W.Shakespeare
«O
rei português, D. Luís, em 1877, começou a publicar uma série
de traduções das
obras de W. Shakespeare, tornando-o acessível a quem não
dominava o inglês ou o francês (...). Essas traduções foram
importantes para a difusão da sua obra, tanto em Portugal como no
Brasil. Revisitemos, na tradução
do rei D. Luís,
uma adaptação em prosa do poema declamado por Hamlet:
"Ser
ou não ser,
eis o problema. Uma alma valorosa, deve ela suportar os golpes
pungentes da fortuna adversa, ou armar-se contra um dilúvio de
dores, ou pôr-lhes fim combatendo-as? Morrer,
dormir, mais nada,
e dizer que por esse sonho pomos termo aos sofrimentos do coração e
às mil dores legadas pela natureza à nossa carne mortal; e será
esse o resultado que mais devamos ambicionar? Morrer,
dormir, dormir, sonhar talvez;
terrível perplexidade."»
CEH;
CHAM/UNL
sexta-feira, 15 de abril de 2016
Memória das Estrelas do Sul
Carta de Mestre João a D.Manuel I |
«(...) Somente mando a Vossa Alteza como estão situadas as estrelas do (sul), mas em que grau está cada uma não o pude saber, antes me parece ser impossível, no mar, tomar-se altura de nenhuma estrela, porque eu trabalhei muito nisso e, por pouco que o navio balance, se erram quatro ou cinco graus, de modo que se não pode fazer, senão em terra. E quase outro tanto digo das tábuas da Índia, que se não podem tomar com elas senão com muitíssimo trabalho, que, se Vossa Alteza soubesse como desconcertavam todos nas polegadas, riria disto mais que do astrolábio; porque desde Lisboa até às Canárias desconcertavam uns dos outros em muitas polegadas, que uns diziam, mais que outros, três e quatro polegadas, e outro tanto desde as Canárias até às ilhas de Cabo Verde, e isto, tendo todos cuidados que o tomar fosse a uma mesma hora; de modo que mais julgavam quantas polegadas eram, pela quantidade do caminho que lhes parecia terem andado, que não o caminho pelas polegadas. Tornando, Senhor, ao propósito, estas Guardas nunca se escondem, antes sempre andam ao derredor sobre o horizonte, e ainda estou em dúvida que não sei qual de aquelas duas mais baixas seja o pólo antártico; e estas estrelas, principalmente as da Cruz, são grandes quase como as do Carro; e a estrela do pólo antártico, ou Sul, é pequena como a da Norte e muito clara, e a estrela que está em cima de toda a Cruz é muito pequena.(...)» [Excerto]
quarta-feira, 13 de abril de 2016
Poesia
À música
Canto sonoro e geométrico,
Vibrante ânimo e corda,
Braço, acerto, força,
Alongada e sentida voz.
Funda tenção levantada,
Curvo e crescido ramo,
Agitada, inquieta forma,
Leito pleno e difuso.
Tão natural e desigual,
Procede, reúne, anima,
Segura, dilata, mingua,
Repara, abre e determina.
19Agosto2011
terça-feira, 12 de abril de 2016
Educação - escola ativa
Prof Mestre José Pacheco |
«Não faz sentido alunos do século XXI terem professores do século XX, com propostas teóricas do século XIX, da Revolução Industrial.» JP
Na Escola da Ponte não há turmas, nem testes
A Escola Básica da Ponte, no concelho de Santo Tirso, marca a diferença no ensino público português há 40 anos. Nesta escola não há ciclos, nem turmas, nem testes. A escola organiza-se em núcleos de projeto e são os alunos, em conjunto com os “tutores”, que definem, quinzenalmente, os objetivos de aprendizagem e vão sendo avaliados à medida que vão dizendo que “já sabem” aquilo a que se propuseram. Na última avaliação externa, levada a cabo pela Inspeção-Geral da Educação, a escola foi avaliada com Muito Bom em todos os parâmetros.
terça-feira, 29 de março de 2016
Machado de Assis - do período atual e da queda da monarquia no Brasil
«A
resposta para compreender o período de transição da Monarquia para
a República foi dada, no romance de Machado, pelo conselheiro Aires
no capítulo 64 (“Paz”): “Nada se mudaria; o regímen, sim, era
possível, mas também se muda de roupa sem trocar de pele.”. Essa
imagem tem o poder de demonstrar a origem das “ideias fora do
lugar”, para lembrar a expressão de Roberto Schwarz, e como a
acumulação dos problemas sociais se configura na atualidade.
Atualidade esta que se mostra presente na obra de Machado de Assis,
em Esaú e Jacó, especificamente, uma vez que a sociedade (...) ainda recorre às “trocas de roupa” para se adaptar a uma
determinada situação.»
Renato Oliveira Rocha, 18 de Março 2016, in Jornal da Manhã
segunda-feira, 28 de março de 2016
Prémio que valoriza a promoção da cultura lusófona atribuído a Dom Duarte
A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
Começo por agradecer a tão honrosa atribuição da medalha Jorge Amado, um gesto que muito me comoveu. A responsabilidade de vir falar na União Brasileira de Escritores deixou-me bastante preocupado, porque eu gostaria de vos dizer alguma coisa de original e que justifique a vinda aqui de tão ilustre audiência.
Há muitos anos que me preocupo com a preservação da Língua Portuguesa. As independências das Nações que há mais de 500 anos se encontravam associadas a Portugal, acontecidas frequentemente de modo dramático, (fruto da guerra-fria existente na época entre a União Soviética e muitas democracias ocidentais), criaram situações de ruptura.
Felizmente, poucos anos passados notou-se que os laços afectivos existentes entre as várias comunidades que partilhavam uma nacionalidade comum com os Portugueses, conseguiram ultrapassar as divergências políticas e os ressentimentos inevitavelmente provocados pelas guerras da independência.
O Brasil não sofreu esse problema, graças à inteligência política dos próprios líderes independentistas brasileiros e dos meus Avós, D. João VI e Imperador D. Pedro I. É também de tomar em conta que o movimento independentista foi, obviamente, conduzido pelos descendentes dos Portugueses que colonizaram o Brasil. Tal não aconteceu em África. Mas todos os movimentos independentistas nas Províncias Ultramarinas Portuguesas em África sempre se esforçaram por cultivar a Língua Portuguesa como elemento indispensável da unidade nacional, em territórios habitados por populações que falam “muitas e desvairadas línguas”, como se dizia antigamente.
A actual multiplicidade de países que assumem o Português como Língua oficial torna a nossa Língua
comum politicamente muito mais relevante, sendo a quinta língua mais falada do mundo. Este facto tem, para além do seu interesse cultural, uma grande importância económica e política.
Quando examinamos o espólio riquíssimo de aquisições feitas pela Língua Portuguesa dos sucessivos sedimentos, que no espaço ibérico começa cerca de 5.000 anos A.C., (e de que é testemunha a profusão de “antas” ou “dólmens “ por todo o território), encontramos legados que incorporámos dos numerosos povos que habitaram o território: Iberos, Celtas, Lusitanos, Germânicos, Fenícios, Gregos, Cartagineses, Romanos, Arabo-berberes e Africanos.
2
Curiosamente as palavras portuguesas mais antigas derivam do sânscrito. Essas palavras encontram-se nos nomes de rios e montanhas que são os que geralmente sobrevivem às diferentes invasões de novas populações. É o caso dos nomes que incluem a sílaba –ar: Arouca, Arunca, Arade, etc. Essa riqueza deu ao idioma português uma densidade e, em simultâneo, uma plasticidade particular. A plasticidade vai reflectir-se, sobretudo, na “exportação” do nosso léxico pelas terras longínquas onde estivemos e onde, maleáveis por natureza e maleáveis por necessidade, vamos procurar apreender conceitos. Assim o Português não funciona apenas por dinamismo relacionado com a Expansão, mas também por porosidade recolectora. Enriquece-se com esplendor, aditando a si mesmo esse fenómeno impressionante que é o das “crioulidades”, funcionando por denominador comum. Por exemplo, o crioulo de Cabo Verde entende-se com o de Macau, sem lógica de comunicação geográfica. Em minha opinião, tudo indica que linguistas de famílias de Judeus Sefarditas Portugueses terão criado uma gramática mais simples e que seria a famosa “língua franca” que serviu de meio de comunicação em todo o Oriente, África e Antilhas. Os Holandeses, Ingleses e outros povos europeus tiveram que aprender essa linguagem quando começaram as suas próprias viagens comerciais. Só nos territórios sob administração portuguesa é que a língua oficial portuguesa se estabeleceu. As próprias palavras papiar e papiamento nunca fizeram parte da Língua Portuguesa oficial, mas significam bater um papo. Actualmente a Língua Portuguesa encontra-se em risco de perder importância em vários países e territórios.
Em Macau é pouco praticada e só é ensinada em algumas escolas. Em Goa, desde que foi conquistada pela União Indiana em 1961, o Português deixou de ser usado no ensino oficial e há muito pouco material de leitura. Na Guiné-Bissau, apesar de ser a Língua oficial, menos de metade da população costuma utilizá-la. Um dos motivos é a falta de material de leitura, inclusive nas próprias escolas. Torna-se mais fácil comprar livros em francês nos países vizinhos. Em Moçambique o problema é semelhante, mas desta vez devido à forte influência do Inglês, falado em todos os países vizinhos. Neste País, pelo menos, os programas de televisão são em Português. Em Cabo Verde a Língua Portuguesa é usada obrigatoriamente em todos os programas escolares e há edição de livros, mas há intelectuais que pretendem que o Crioulo deveria ser a Língua oficial. Timor-Leste foi ocupado pela Indonésia em 1975, e só recuperou a sua liberdade no ano 2000. Durante a ocupação era proibido o ensino da Língua Portuguesa que continuou, no entanto, a ser praticado nos Seminários católicos. A nossa Língua foi sempre a língua oficial da resistência. O primeiro Governo de Timor independente declarou que o Português seria a Língua oficial junto com o Tétum, que é uma língua formada pela mistura de Português com algumas das antigas Línguas timorenses.
3
As Nações Unidas, que administraram Timor durante uns anos após a partida dos Indonésios, faziam pressão para que a segunda língua fosse o Inglês. Actualmente falam Português os que frequentaram pelo menos a escola primária antes de 1975 e as crianças que a frequentaram depois de 2000. A pobreza da maioria da população, e as dificuldades do próprio Governo, levam a que haja uma grande falta de livros e publicações em Português. Como Presidente da Fundação D. Manuel II, estou a concluir em São Paulo um acordo de cooperação com a Fundação Padre Anchieta para poderem ser fornecidos à televisão de Timor os excelente os filmes aqui produzidos. Espero que este acordo de cooperação possa também ser utilizado nos outros Países Africanos onde a nossa Língua possa estar em risco de se tornar irrelevante. Não seria caso inédito se soubermos que a Língua oficial da Irlanda é o Gaélico, mas que menos de 20% da população o consegue utilizar. A Fundação D. Manuel II, registada também em Timor, vai editar a primeira revista timorense em Língua Portuguesa. Chama-se Surik, que significa espada em Tétum. Terá algumas páginas com histórias em quadrinhos, para interessar as crianças. Abordará temas de interesse geral para a população. Seria muito interessante se houvesse instituições brasileiras que pudessem dar algum apoio a esta iniciativa, desde comprar publicidade na revista, até à sua divulgação ou participação com artigos. Creio que seria do interesse estratégico e económico do Brasil de manter a nossa Língua comum no único País da região Ásia-Pacífico em que é língua oficial. A médio prazo as capacidades económicas de Timor serão francamente melhores que as actuais, devido às grandes reservas naturais de petróleo e gás, e devido também ao investimento humano na educação e no desenvolvimento que Portugal tem feito. O Brasil tem dado também um generoso apoio a algumas iniciativas a este nosso País irmão. Logo após o fim da ocupação indonésia de Timor, perante as várias necessidades sentidas pela sua população, a Fundação D. Manuel II considerou que era preciso agir no campo da cultura. Para esse fim oferecemos, com o apoio do movimento monárquico Português e dos militares portugueses que para lá foram destacados, um equipamento gráfico de excelente qualidade. Este é gerido pela Gráfica Diocesana de Baucau, com o apoio de voluntários Portugueses. Lá produzem-se os documentos oficiais timorenses e bastantes livros encomendados pelas Nações Unidas, União Europeia, etc.
4
Infelizmente, as encomendas feitas por estas duas instituições têm sido em Tétum…Têm também recebido encomendas para a Austrália. A nova revista será impressa lá e espero que tenha alguma difusão no estrangeiro. O endereço de correio electrónico desta Gráfica é: costamario71@gmail.com. A correspondência deverá ser enviada ao cuidado do Senhor Padre Mário da Costa Cabral. A Directora é a Senhora Dra. Gabriela Carrascalão: gabrielacarrascalao@gmail.com. Esta Senhora, de uma ilustre Família timorense, é jornalista profissional. O Conselho da Redacção é presidido pelo ex-Presidente da República e Prémio Nobel da Paz, Dr. José Ramos Horta. A preservação e o desenvolvimento do uso da nossa Língua tem obviamente um grande interesse económico. Nesse campo a influência do Brasil é absolutamente primordial para ter sucesso numa época em que o Inglês já assumiu uma posição dominante no mundo como língua franca. O Espanhol, ou Castelhano, está também a tornar-se muito influente no continente Americano, incluindo nos Estados Unidos. Espanha tem uma estratégia de substituir o Português sempre que possível. Os falantes de Castelhano têm uma óbvia dificuldade em aprender outras línguas, por terem menos sons na sua própria, e por isso preferem que os outros aprendam a sua. Os nossos aliados são os Galegos e os Catalães que não estão de acordo com esta política… É muito feliz a política brasileira de reciprocidade em relação aos vizinhos, que se comprometem a ensinar o Português quando no Brasil se ensina o Castelhano. A constituição da CPLP é um fenómeno muito interessante porque é um grupo de países que se une primeiramente por motivos culturais e afectivos, antes dos interesses económicos ou de defesa mútua. O outro exemplo poderá ser a Commonwealth britânica, mas nessa os interesses económicos e de segurança são predominantes. No entanto, é importante reforçarmos os interesses económicos e de segurança, pois estes garantem, a longo prazo, o interesse mais imediato por parte dos políticos e das empresas. Facilitar a livre circulação entre os nacionais dos Países da CPLP seria um passo muito positivo. Na Europa existe o programa Erasmus em que estudantes podem fazer um semestre ou um ano da sua licenciatura num outro dos vários países da União Europeia. Eu tenho proposto a criação de um programa semelhante para a CPLP, que poderia chamar-se Programa Padre António Vieira.
5
Obviamente que isso não deveria ser confundido com uma liberdade de imigração, porque esta iria provocar graves problemas para todos. Temos que lembrar que a fuga de pessoas qualificadas de países menos desenvolvidos tem um impacto mais grave do que a imigração idêntica em países desenvolvidos. Dentro da própria Europa há grandes comunidades portuguesas e brasileiras estabelecidas, principalmente em França, Holanda, (onde também há uma grande comunidade Cabo-verdiana), na Alemanha, no Luxemburgo (onde chaga s ser ¼ da população activa), na Suíça e no Reino Unido. Frequentemente os filhos dessas famílias vão perdendo as suas raízes culturais lusófonas, por não terem acesso ao ensino da Língua Portuguesa na escola. Há algumas excepções, conquistadas com grande esforço, em que as escolas aceitaram incluir no seu programa o ensino do Português. O mesmo problema existe nos Estados Unidos e no Canadá, onde há grandes comunidades brasileiras e portuguesas e onde a situação é semelhante. Há também uma imigração portuguesa mais pontual um pouco por todo o mundo, incluindo para a Ásia e Médio Oriente, África e Timor. São ainda de referir as comunidades lusófonas existentes na Namíbia, África do Sul, Paraguai e Uruguai. Actualmente alguns programas de voluntariado têm levado a uma presença portuguesa expressiva em vários lugares de África e do mundo com grandes carências.
Devido a acidentes da História, Portugal separou-se da Galiza no começo da sua nacionalidade mas, até hoje, ambos os povos sentem essa ruptura. Nas palavras da Poetiza Galega Rosália de Castro: Vendo-os assim tão pertinho, / a Galiza mail’ o Minho, / são como dois namorados / que o rio traz separados / quasi desde o nascimento. Deixal-os, pois, namorar / já que os paes para casar / lhes não dão consentimento. Actualmente o pai, Portugal, já veria com bons olhos o casamento, mas tem vergonha de o assumir. A mãe continua totalmente contra, mas os filhos cada vez ligam menos… Hoje em dia costuma-se dizer que na Galiza falam o Português da Galiza. Os Galegos pretendem aderir à CPLP como região autónoma, que já são, e mudaram a ortografia oficial de muitas localidades. Essa região tem hoje uma economia próspera e uma vida cultura interessantíssima. A televisão galega, os grupos de música popular, livros, etc., têm contribuído muito para este enriquecimento cultural. No entanto, nota-se que muita gente fala o Galego com pronúncia castelhana porque só aprenderam a falá-lo na escola. Mas nas famílias rurais a pronúncia é igual à minhota.
6
Curiosamente os emigrantes do Norte de Portugal iam junto com os Galegos para o Brasil e por isso aí ficaram frequentemente conhecidos pela alcunha de Galegos.Cada língua é uma pátria, cada pátria é uma mátria, uma comunidade de afectos. A nossa Língua tem o embalo da Poesia e o regaço da Mãe do Céu. Tem o coração heróico de quem tem fé, e a humildade discreta e firme de quem ama.
A nossa Língua é um porto de chegada, de abrigo e de sustento, e de partida para o Mundo. Poder vir, ficar, partir e voltar. São as lágrimas salgadas do mar de Portugal, e o “amar, amar perdidamente” da sua gente.
As vastidões de Portugal marcaram os corações. A solidão do isolamento fez alegres os encontros. Trás-os-Montes, Beiras, Alentejo; os montes, a serra, a planície… O Minho e o Ribatejo verdejam e afadigam-se no corre-corre da labuta; dançam contentes e adornados nas suas feiras.
E toda a costa se encosta ao mar, se debruça à sua vista, adormece à sua beira. Deste “cantinho à beira-mar plantado” vê-se o mar, e vê-se o mundo. De perto ou de longe, vê-se com o coração.
Por onde passou deixou o fascínio do outro, e a saudade de casa. Tornou-se da casa e casa de todos na sua Língua. Virou “Saudades do Brasil em Portugal”, “África minha”, epopeia asiática, este “imenso Portugal” da Lusofonia.
Agora, neste tempo informado há pressas pagas pelo sofrimento de muitos e há silêncios de horror.
Que esta nossa Língua possa ser Casa de todos os filhos, semente de um mundo de encontros, de respeito, de alegria e gratidão.
SAR D.Duarte, São Paulo, 16MAR2016
segunda-feira, 21 de março de 2016
Produto efetivo e potencial - a racionalidade económica para o crescimento
A investigação do WorldEconomic Ooutlook (WEO) tem centrado e desenvolvido o conceito
produto efetivo e potencial para administrar uma racionalidade
fundamentada à possibilidade e à previsão do crescimento.
«(...) [I]ncrementar el producto efectivo y potencial sigue siendo una prioridad general para la politica economica.»
«(…) no se prevé que el crecimiento del producto potencial de las economías avanzadas se afiance sino de manera muy moderada en 2015–20, a pesar de que los legados de la crisis se están desvaneciendo lentamente. La razón principal de este tímido pronóstico es el envejecimiento de la población, que ha dado lugar a la proyección de bajo crecimiento y la posible disminución del empleo tendencial si se mantienen las políticas vigentes que influyen en la participación en la fuerza laboral.»
«Los esfuerzos por elevar el producto
potencial a través de reformas estructurales siguen siendo críticos.
Aunque el programa de reformas estructurales [1] debería ser
específico de cada país, [2] los ámbitos de acción comunes
deberían incluir el fortalecimiento de la participación en el
mercado laboral y el empleo tendencial, [3] la solución del
sobreendeudamiento y la reducción de los obstáculos al ingreso en
los mercados de productos y servicios.»
No relatório da WEO de Abril de 2015
existem 417 ocorrências dos termos produto efetivo e potencial. No relatório de Outubro de 2015
existem 342 ocorrências dos termos produto efetivo e potencial. Nas rectificações de Janeiro de 2016,
com apenas 7 páginas, há 16 ocorrências dos termos produto efetivo
e potencial. Não encontrei os textos dos relatórios
em português.
sexta-feira, 18 de março de 2016
MAR – Implicações Estratégicas
O Desafio da
Exploração Económica
Este desafio (...) em
último caso se reduz à capacidade de investimento disponível
especificamente para o efeito quer no sector público quer no sector
privado. De acordo com os cálculos efectuados até ao momento tidos
como credíveis, o mar pesa aproximadamente 3% na economia nacional,
o que parece manifestamente desproporcionado relativamente à sua
dimensão. A Estratégia Nacional para o Mar aprovada em 2013, entre
os seus objectivos, visa aumentar esse peso para a ordem dos 4,5% até
2020. Este é pois um desafio concreto cuja resposta poderá ser
medida a médio prazo. Atente-se porém no facto de que o maior
número dos meios financeiros disponíveis se encontram no quadro da
União Europeia, não traduzindo portanto na verdade uma expressão
real de um empenhamento financeiro maioritariamente nacional. Tem
sido todavia anunciada uma linha de crédito ao financiamento privado
na ordem dos 1.5 mil 308 milhões de euros, mas sem detalhe
informativo e até com alguma hesitação, o que poderá levar a
supor, até melhor esclarecimento, que se está perante uma solução
de parcerias público-privadas, eventualmente para a área mineral.
Para todos os efeitos, importa ter presente a realidade de que a
economia do mar não se encontra desligada da “economia da terra”,
no sentido em que, por exemplo se considerarmos o território
nacional, a actividade económica desenvolvida nos portos se encontra
em grande medida condicionada por um conceito de “hinterland” que
do ponto geopolítico se define como o raio de alcance da entrada e
saída de mercadorias segundo critérios de proximidade, velocidade
(acesso e operacionalidade) e custo. A necessidade de um sistema de
informações marítimas, já identificada pela Comissão Estratégica
dos Oceanos e acima referido, é pois premente. Detalhando essa
necessidade, podemos antever um sistema que visa – num horizonte
económico múltiplo, a curto, médio e longo prazo, articulando os
sectores público e privado - a aquisição contínua de conhecimento
por parte das empresas e demais organizações privadas e
instituições públicas, directa ou indirectamente relacionadas com
a economia do mar, com vista à obtenção de capacidade prospectiva
e vantagem competitiva na defesa e projecção dos correspondentes
interesses, e também da salvaguarda destes interesses e conhecimento
perante o exterior, no processo de globalização em curso.
Porventura dinamizadas pelas associações empresariais, são pois
necessárias plataformas de potenciação da actividade empresarial
através de um processo de “enriquecimento” de dados, notícias e
informação avulsa de várias fontes, nomeadamente dos vários
níveis da administração nacional e europeia, com metodologia
adequada, que potencie a capacidade de planeamento e previsão dos
decisores. Mas não menos importante, a exploração económica do
mar português carece também urgentemente de uma efectiva
desburocratização do licenciamento excessivo e institucionalmente
sobreposto das actividades marítimas, passando por soluções já
propostas por especialistas como a de um “guichet único” para o
efeito. Numa visão pessimista, indesejável, induzida pelo ambiente
de crise recorrente que envolve Portugal, os sucessivos governos,
independentemente da sua conexão partidária, não serão capazes de
responder a este desafio; não serão capazes de desenvolver
políticas económicas que gerem suficiente investimento para o
efeito. A submersão da economia marítima portuguesa relativamente
ao investimento estrangeiro é o grande risco.
Pedro Borges Graça, «A Extensão da Plataforma Continental Portuguesa: ImplicaçõesEstratégicas para a Tomada de Decisão» in Pedro Borges Graça e
Tiago Martins (coord.), O Mar no Futuro de Portugal – Ciência e
Visão Estratégica, Centro de Estudos Estratégicos do Atlântico,
2014, págs 301-310.
terça-feira, 15 de março de 2016
segunda-feira, 14 de março de 2016
Dom João de Castro - o Académico
D.João
de Castro, o Académico
Na
nossa memória colectiva perdura um homem de exemplar personalidade e
nobreza de carácter, com notável carreira militar e política, a
par da sua notória aptidão e gosto pela investigação científica,
traços que bem falta fazem na conturbada sociedade moderna e
conjuntura presente, a configurar a “anarquia madura” de que fala
o Prof. Adriano Moreira, não exclusiva de Portugal, mas que em nada
nos alivia da preocupação.
Em
relação à sua produção científica, datam de 1536 as primeiras
obras teóricas de D. João de Castro, nomeadamente o “Tratado da
Esfera, por Perguntas e Respostas a Modo de Diálogo”, e ainda um
outro pequeno tratado, sob o título “Da Geografia por Modo de
Diálogo”.
Durante
estes dois anos anteriores à partida para Goa, D. João de Castro
permaneceu na sua predilecta quinta localizada em Sintra, então
designada de Fonte d’El-Rei e posteriormente conhecida por Quinta
da Penha Verde, onde continuaria os seus estudos e receberia alguns
amigos mais próximos, como o Infante D. Luís, o Vedor da Fazenda,
D. António de Ataíde, o Conde da Castanheira e o negociante
italiano Lucas Giraldi. Para aí voltaria após o regresso em 1543,
refugiando-se na quinta herdada por morte de seu pai, em SET1528.
Ao
partir, pela primeira vez, para a Índia, em 1538, integrado na
Armada do seu cunhado, o Vice-Rei D. Garcia de Noronha, ao comando da
Grifo, uma das onze naus que a compunham, logo aproveitou a viagem
para escrever o primeiro de quatro interessantes roteiros, apenas
três chegados aos nossos dias.
Essa
obra inicial, o Roteiro de Lisboa a Goa, tinha como primeiro
objectivo o registo “(...) sob a forma de um cuidado diário de
navegação todas as indicações técnicas úteis para conhecer
melhor este tipo de viagem e contribuir para o seu aperfeiçoamento”.
Mal
chegado a Goa, logo integraria uma expedição a Diu, aquando do
primeiro cerco a essa cidade estratégica, aproveitando para escrever
um segundo trabalho, com dedicatória ao Infante D. Luís: o Roteiro
de Goa a Diu ou Roteiro da Costa da Índia. Nessa obra, D. João de
Castro considerou particularmente bela a orla costeira indiana
percorrida. O terceiro trabalho, sob o título de Roteiro da Viagem
que fizeram os Portugueses ao Mar Roxo, que constitui um exemplo de
observação científica de inegável valor para a época, está
datado de 1541, ano em que D. João de Castro acompanhou o Governador
D. Estevão da Gama numa expedição de Goa ao Suez, no Mar Vermelho,
onde tratou de explicar o fenómeno da cor roxa das águas.
D.
João de Castro nunca abdicou da busca do conhecimento, empenhado em
acrescentar novos saberes ao seu património intelectual, em
descobrir e em investigar. Legou-nos uma obra que é ímpar no âmbito
da Cosmografia e da Ciência Náutica, ilustrada pelos roteiros que
elaborou.
Rigoroso
e pragmático na aferição entre teoria e prática, sabemos que uma
significativa parte do seu trabalho científico decorreu no
cumprimento da missão que lhe fora conferida pela Coroa Portuguesa.
No alvor do método científico, D. João de Castro desenvolveu
intensas actividades de investigação, destacando-se, ao nível dos
resultados obtidos, estudos tão diversos como a variação das
agulhas, das correntes marítimas, da variação das longitudes e do
regime dos ventos.
No
campo da Ciência, os seus trabalhos reflectem bem a necessidade de
associar o cálculo à experiência empírica, exactamente porque a
articulação entre a observação e a razão, enquanto desafio
emergente, era absolutamente essencial. Mas importa dizer que,
consciente das limitações da própria Ciência, encarada em sentido
lato, D. João de Castro reconheceu que o saber das Ciências é
chegar à verdade, que não se confunde com a verdade absoluta. E
esta última acepção é da maior importância, porque nos revela
também aquilo que é a humildade do cientista perante a infinita
complexidade do mundo natural.
Das
várias obras atribuídas a D. João de Castro, já antes destacámos
os três roteiros escritos durante a sua estadia na Índia: “de
Lisboa a Goa” (1538), “de Goa a Diu” (1538-1539) e “do Mar
Roxo” (1540), o mais conhecido e célebre dos três Roteiros de D.
João de Castro.
Estes
roteiros não seguiram o modelo tradicional do roteiro português,
indo mais longe, ao incorporar a redacção de utilíssimas
considerações de inegável interesse hidrográfico e náutico, com
muitos pormenores que a generalidade dos roteiristas de então,
preocupados em descrever sucintamente as viagens, por regra, omitia.
Daí alvitrarmos que as três obras de D. João de Castro,
tradicionalmente entendidas estritamente como “roteiros”, em vez
disso, deveriam ser encaradas mais propriamente como “diários”.
Refira-se,
ainda, o trabalho de D. João de Castro – “Uma Enformação que
Dom João de Castro, governador da India, mandou a El-Rey Dom João
3º, sobre as demarcações da sua conquista & del Rey de
Castella” –, uma espécie de relatório sobre o direito português
à posse das Molucas, que era, como se sabe, um território também
disputado por Espanha.
Por
tudo isto, é da mais elementar justiça o reconhecimento de D. João
de Castro, como um dos mais relevantes cidadãos de Portugal e da sua
História. Não apenas como militar virtuoso em carácter e
dignidade, que sempre serviu a Pátria sem nada exigir para seu
próprio conforto, mas também na condição de importante cientista
que, no seu tempo, fez saltar do “conhecimento sensível” para o
“conhecimento inteligível”, muitos dos domínios e preocupações
das Ciências, em suma, um digno exemplo de uma Escola de valores, de
ideais e de trabalho, no adágio de vencer pelo próprio esforço.
Essa
conjugação equilibrada da dupla condição e vertentes é
incontornável e consensualmente valorizada por todos os
historiadores que meditaram e continuam a investigar a época da
expansão marítima portuguesa.
Em
todos estes textos, aliava D. João de Castro um sagaz espírito de
investigação e de interesse científico aos conhecimentos de
cosmografia que possuía, o que o habilitava a integrar o quadro
social e político marcado pelos ideais humanistas atribuíveis ao
século XVI português. Com
estes trabalhos e o desempenho em prol da boa realização da missão,
o seu nome ficou, indelevelmente, ligado ao Oriente.
Excerto
de um trabalho do Almirante Rebelo Duarte
domingo, 13 de março de 2016
Imagens de Portugal
«A biblioteca do Palácio Nacional de Mafra é considerada a mais bela do mundo pelo conhecido portal norte-americano Book Riot, dedicado exclusivamente aos livros. Depois de eleger a Livraria Lello, no Porto, como a mais bonita do planeta, Portugal volta a conquistar os EUA com a incrível biblioteca escondida no interior deste monumento nacional.
"É encantadora", lê-se. "E o que a torna ainda mais impressionante são as técnicas com que é feita a preservação dos livros e como os protegem de serem danificados por insetos. Há 500 morcegos dentro daquela biblioteca. Durante o dia, estes ficam guardados dentro de caixas, mas à noite são libertados para se alimentarem dos insetos que por ali andam". » Excerto de Boas Notícias
quinta-feira, 10 de março de 2016
Reflexões monárquicas II
Rio Grande do Sul
«A Monarquia é a forma mais moderna, mais eficaz e mais barata de governo. Monarquia quer dizer também democracia, liberdade de expressão e de imprensa.
Monarquias são, hoje, os países mais liberais e mais adiantados do mundo, com a melhor distribuição de renda e os padrões de vida mais elevados. Os exemplos são Suécia, Noruega, Dinamarca, Holanda, Inglaterra, Bélgica, Espanha, Canadá, Austrália e Japão.
Juntas, essas nações são responsáveis por uma imensa fatia do chamado PIB mundial.
Entre os 25 países mais ricos e democráticos do mundo, 18 são Monarquias, ou seja, constituem a esmagadora maioria.
São países que fornecem, ainda, exemplos de socialismo que funciona na prática. Aí estão a Espanha e a Suécia para comprovar.»
Excerto de “Tudo que você sempre quis saber sobre a Monarquia e ninguém lhe contou”, publicado pelo Movimento Parlamentarista Monárquico em 1992, com revisão e acréscimos recentes, feitos por monarquistas brasileiros.
Subscrever:
Mensagens (Atom)