Ainda acerca do desenvolvimento social em monarquia: Antes do Reino Unido haver criado um sistema de saúde, David Lloyd George, no início do século XX, que influenciou toda a Europa, no século XIX, na Alemanha monárquica, criou-se um seguro de saúde para os trabalhadores.
segunda-feira, 27 de agosto de 2018
quarta-feira, 22 de agosto de 2018
Frases
Ian J. Manners |
«(…) three approaches provide the EU with maxims which should shape the EU’s normative power in world politics: live by example; be reasonable; and do least harm.»
Resumo das ideias @ academia.edu
sábado, 18 de agosto de 2018
Haja Memória
Há uma instituição que, continuamente, ao longo dos séculos,
criou os instrumentos de desenvolvimento social: As escolas
obrigatórias, os liceus, as escolas superiores, os hospitais, os
serviços assistenciais, as ligações modernas terrestres e
marítimas, os grémios ou academias de cultura e livre pensamento
(D.João V), os teatros, o parlamento, a divisão de poderes, o Banco
de Portugal, a livre expressão e associação, etc etc e etc, enfim,
foi a instituição real que acolheu tudo o que enforma
fundamentalmente a nossa atual vida cívica, democrática, solidária
e cultural, a par ou em liderança com o que havia no mundo. Hoje fala-se da criação do nosso moderno SNS com enlevo, e bem, mas não dizendo que fomos, na Europa toda, buscar inspiração para essa intervenção social de muito mérito ao seu primeiro criador, um país monárquico, o Reino Unido.
domingo, 22 de julho de 2018
Leituras
(...)
Enquanto esta clarificação não ocorrer, ficaremos dependentes do
entendimento do BCE acerca da extensão dos seus próprios poderes e
competências – sempre sujeito, claro, às conclusões da análise
jurisprudencial destas questões pelos tribunais da UE os quais, como
vimos, poderão pender para adotar uma visão ampla desses poderes e
competências/atribuições, conduzindo à sedimentação (por via
jurisprudencial e não legislativa) do papel desta instituição
europeia enquanto responsável global pela supervisão de todas as
IC. Dando um passo mais adiante, somos da opinião que, para que se
complete verdadeiramente a União Bancária e as entidades
supervisionadas e os cidadãos europeus se revejam nela, será
necessário aproveitar ainda essa futura revisão para repensar o
sistema de governance do BCE (atualmente desfasado face às
responsabilidades acrescidas que resultaram do seu papel central no
SSM) – introduzindo alguns mecanismos adicionais de controlo das
decisões tomadas (i.e. checks and balances) e fomentando um cada vez
maior escrutínio público dos seus processos decisórios.
Francisco A. G. Nobre, «Principais Conclusões e um Possível Caminho» @ Fronteiras e Limites da Supervisão Prudencial do BCE, Departamento de Estabilidade Financeira, Banco de Portugal
domingo, 8 de julho de 2018
Poesia
PODEROSO
CABALLERO ES DON DINERO
Madre,
yo al oro me humillo,
Él es mi amante y mi amado,
Pues de puro
enamorado
Anda continuo amarillo.
Que pues doblón o
sencillo
Hace todo cuanto quiero,
Poderoso caballero
Es
don Dinero.
Nace
en las Indias honrado,
Donde el mundo le acompaña;
Viene a
morir en España,
Y es en Génova enterrado.
Y pues quien le
trae al lado
Es hermoso, aunque sea fiero,
Poderoso
caballero
Es don Dinero.
Son
sus padres principales,
Y es de nobles descendiente,
Porque en
las venas de Oriente
Todas las sangres son Reales.
Y pues es
quien hace iguales
Al rico y al pordiosero,
Poderoso
caballero
Es don Dinero.
¿A
quién no le maravilla
Ver en su gloria, sin tasa,
Que es lo
más ruin de su casa
Doña Blanca de Castilla?
Mas pues que su
fuerza humilla
Al cobarde y al guerrero,
Poderoso
caballero
Es don Dinero.
Es
tanta su majestad,
Aunque son sus duelos hartos,
Que aun con
estar hecho cuartos
No pierde su calidad.
Pero pues da
autoridad
Al gañán y al jornalero,
Poderoso caballero
Es
don Dinero.
Más
valen en cualquier tierra
(Mirad si es harto sagaz)
Sus escudos
en la paz
Que rodelas en la guerra.
Pues al natural destierra
Y
hace propio al forastero,
Poderoso caballero
Es don Dinero.
Francisco
de Quevedo y Villegas
sexta-feira, 29 de junho de 2018
Artes - A Tempestade - Poesia Portuguesa
Foto de Fabian Stamate - Nazaré, Portugal |
O sons, as imagens e as emoções provocadas pela tempestade marítima são constantes na transversalidade da poesia através das épocas. A sonoridade da tempestade, o rugido, o bramar, o ranger, o estrondo da trovoada, o crepitar e o traçado dos relâmpagos, as imagens, as torres de nuvens espessas, as montanhas e serras de ondas avassaladoras, a negrura noturna, o vento furioso, caraterizam invariavelmente a descrição poética da tenebrosa tempestade no mar. De modo geral a tempestade marítima é uma batalha entre os elementos do ar, da água e da luz, que parece intentar destruir o próprio mundo:
(…)
Agora sobre as nuvens os
subiam,
As
ondas de Netuno furibundo;
Agora
a ver parece que desciam
As
íntimas entranhas do Profundo.
Noto,
Austro, Bóreas, Aquilo queriam
Arruinar
a máquina do mundo (…)
ou:
(...)
Como em fera
batalha, os Elementos
A
vingarem-se huns de outros se resolvem,
Que
agoas contra agoas, ventos contra ventos,
O
mar com o Ceo, o Ceo com o mar involvem.
Com
nuvẽs, & relampagos violentos
As
areas do fundo se revolvem (…)
ou ainda
(...)
Levanta
lá no céu furiosas ondas;
Austro
bramando corre ali com fúria,(...)
Rompe-se
por mil partes o céu, e arde
Em
ligeiro, apressado, vivo fogo.
Um
rugido espantoso vai correndo
Desde
o Antárctico Pólo ao seu oposto.
Arremessam-se
lanças pelos ares
De
congelada pedra em água envolta;
Com
espantoso ímpeto, e rasgadas
As
densas negras nuvens raios cospem
(...)
Neste
combate das forças impessoais encontra-se inevitavelmente o homem
envolvido em medo e foge toda a natureza viva sob o poder destruidor
dos elementos embravecidos:
As
Alcióneas aves triste canto
Junto
da costa brava levantaram,
Lembrando-se
do seu passado pranto,
Que
as furiosas águas lhe causaram.
Os
delfins enamorados entretanto
Lá
nas covas marítimas entraram,
Fugindo
à tempestade e ventos duros,
Que
nem no fundo os deixa estar seguros.
Trata-se
de um cenário terrível, transcendente às forças humanas. Passar
nessa paisagem revolta em fúria é abeirar-se da morte e brevemente
dá-la como certeza. A fragilidade do humano perante a morte torna-se
evidente. O seu soçobrar ou a sua sobrevivência são suas questões
permanentes durante a tempestade. Os elementos surgem desalinhados
daquilo que é o próprio e possível do viver humano. E o seu saber,
a sua perícia, não é garantia de salvação. Na tempestade
marítima «nas águas tempestuosas e letais (…) perdem, engolem e
matam» (J.Cândido
Martins)
e apenas há abrigo na suma fragilidade do navio envolto em forças
que o transcendem e na arte da navegação, mas só enquanto assiste
tal possibilidade sempre pronta a desfazer-se pela guerra elemental
da tempestade.
O vento
endoidecido, a chuva violenta, o mar encapelado, o fulgor estrondoso
dos relâmpagos, suas sonoridades, em que tudo é surpreendentemente
grandioso e avassalador, constituem um extremo do possível, vive-se
uma exceção da existência, mais além do que a natureza tem de ser
para que o homem seja possível. E, no mar, o abrigo perante os
elementos é muito mais frágil, propiciando o espanto e o terror
perante a realidade de que a sobrevida humana de si mesma pouco
dependa – como se pode viver num cenário além da força humana?
Quando
(…)
os ventos que
lutavam
Como
touros indómitos bramando,
Mais
e mais a tormenta acrescentavam (...)
Relâmpados
medonhos não cessavam,
Feros
trovões, que vêm representando
Cair
o céu dos eixos sobre a terra,
Consigo
os elementos terem guerra.(...)
ao
homem cabe seguir sua arte e ciência, a navegação, porém, à
vista das Parcas que tecem talvez o final abrupto da tecedura de
nossos humanos dias. Eis
quatro breves descrições de uma desordenada natureza antagonista da
possibilidade da vida humana:
Sibila
o vento: os torreões de nuvens
Pesam nos densos ares:
Ruge ao largo a procela, e encurva as ondas
Pela extensão dos mares:
A imensa vaga ao longe vem correndo
Em seu terror envolta;
E, dentre as sombras, rápidas centelhas
A tempestade solta.(...)
Pesam nos densos ares:
Ruge ao largo a procela, e encurva as ondas
Pela extensão dos mares:
A imensa vaga ao longe vem correndo
Em seu terror envolta;
E, dentre as sombras, rápidas centelhas
A tempestade solta.(...)
Ou, vinda
de uma época mais distante:
(...)
Eis manso e manso as
nuvens se entumecem,
Eis
o líquido pêso
Rompe
os enormes carregados bôjos, (...)
Rebentam
furacões, flamejam raios,
O
estrondoso trovão no céu rebrama,
(...)
a procela [tormenta]
horríssona recresce,
Tingem
sombras do inferno os véus da noite
Que
o relâmpago retalha:
Braveja
o mar, aos astros se remontam
Serras
e serras da fervente espuma;
Carrancudos
tufões arrebatados
Dobrando
a força, a raiva, lutam, berram
E
revolvem do pélago [abismo]
as entranhas;
(…)
Com maior
distanciação temporal também apresentamos esta versão da
tempestade:
Cobre-se
o céu de grossas negras nuvens,
Os ventos mais e mais cada hora crescem,
Já se escurece o céu, já com soberba
Inchadas grossas ondas se levantam.
A nau começa já passar trabalho,
Já começa gemer, e em tal afronta
O apito soa, brada o mestre, acodem
Com presteza varões no mar expertos.
Põe-se o fero Vulturno junto ao cabo,
Levanta lá no céu furiosas ondas;
Austro bramando corre ali com fúria,
Dando um balanço à nau que quase a rende,
Vem com grande furor Bóreas raivoso,
Comete por davante, o passo impide,
Encontra as grandes velas, e, por força,
Ao mastro as pega e a nau atrás empuxa:
Rompe-se por mil partes o céu, e arde
Em ligeiro, apressado, vivo fogo.
Um rugido espantoso vai correndo
Desde o Antárctico Pólo ao seu oposto.
Arremessam-se lanças pelos ares
De congelada pedra em água envolta;
Com espantoso ímpeto, e rasgadas
As densas negras nuvens raios cospem:
De um golpe as velas vêm todas abaixo.
Jerónimo Corte-Real (Typografia Rollandiana,1783-1574)
Os ventos mais e mais cada hora crescem,
Já se escurece o céu, já com soberba
Inchadas grossas ondas se levantam.
A nau começa já passar trabalho,
Já começa gemer, e em tal afronta
O apito soa, brada o mestre, acodem
Com presteza varões no mar expertos.
Põe-se o fero Vulturno junto ao cabo,
Levanta lá no céu furiosas ondas;
Austro bramando corre ali com fúria,
Dando um balanço à nau que quase a rende,
Vem com grande furor Bóreas raivoso,
Comete por davante, o passo impide,
Encontra as grandes velas, e, por força,
Ao mastro as pega e a nau atrás empuxa:
Rompe-se por mil partes o céu, e arde
Em ligeiro, apressado, vivo fogo.
Um rugido espantoso vai correndo
Desde o Antárctico Pólo ao seu oposto.
Arremessam-se lanças pelos ares
De congelada pedra em água envolta;
Com espantoso ímpeto, e rasgadas
As densas negras nuvens raios cospem:
De um golpe as velas vêm todas abaixo.
Jerónimo Corte-Real (Typografia Rollandiana,1783-1574)
São
constantes as fórmulas da descrição! Sinteticamente, é um
desordenado
inferno que se representa na tempestade (Brás
Garcia Mascarenhas,
1699), um caos, uma desordem incontida que ultrapassa o poder de
escolha humano, eventualmente sobrepondo-se à arte de navegar:
Eis
o mestre, que olhando os ares anda,
O
apito toca: acordam, despertando,
Os
marinheiros dũa e doutra banda,
E,
porque o vento vinha refrescando,
Os
traquetes das gáveas tomar manda.
–
«Alerta (disse) estai, que o
vento crece
Daquela
nuvem negra que aparece!»
Não
eram os traquetes bem tomados,
Quando
dá a grande e súbita procela.
–
«Amaina (disse o mestre a
grandes brados),
Amaina
(disse), amaina a grande vela!»
Não
esperam os ventos indinados
Que
amainassem, mas, juntos dando nela,
Em
pedaços a fazem cum ruído
Que
o Mundo pareceu ser destruído!
Podemos
verificar a pregnância das noções que a tempestade marítima nos
provoca, primeiro, a semelhança intemporal nas descrições, a
tempestade é um combate de gigantes, entre elementos naturais:
forças desumanas, segundo, o olhar que a tempestade marítima
devolve sobre nós acerca de nossa fragilidade em meio tão
agressivo, terceiro, as analogias que propicia relativamente à nossa
vivência em subjetividade (como o mar nos embravecemos, por exemplo,
ultrapassando a ordem que o homem tem de trilhar devido à sua
inteligência e necessidade de profícua sociabilidade).
Se
permanece bem caraterizada a fragilidade humana - e nisto a nossa
dependência última do que nos é transcendente -, se permanece
também entre os terrores a necessidade de segurar o medo que nessas
condições desponta, querendo comandar a razão – se algum espaço
para ela há – será então esta a sua mais forte garantia, mas se,
contudo, para ela não há espaço nem arte que valha, contudo, então
apenas a esperança poderá resistir:
(...)
Fragil
taboinha, que o bater das ondas
Póde
num so momento
Fazer
em mil pedaços!
Ai
de mim! Trinta vezes no horizonte
O
pae das luzes despontou radioso,
E
co'a tocha brilhante
A
meus cançados olhos
Nada
mais amostrou que o quadro imenso
De
soledade infinda, – os ceus
e os máres! (...)
Ainda
no seguimento do disposto por Almeida Garrett relativamente à
solidão humana na sua fragilidade, de onde brota a esperança sobre
todas as dificuldades, a tempestade no mar ajuda também a reconhecer
outras batalhas travadas na subjetividade humana, interiormente. Esta
analogia das tempestades com a subjetividade humana foram também
tratadas por Francisco
Pina de Mello e Fernando
Rodrigues Lobo 'Soropita':
No
mar em que de novo amor me guia,
O
mais seguro porto e dar a costa;
Aonde
todos se perdem, ai esta posta
Minha
salvação, ai me salvaria.
So
fe me há-de salvar nesta porfia
Do
vento, que contrario vem de aposta;
E
pois sua mor perda e dar a costa
Comigo,
eu com costa me queria.
Que
vai ja o querer, aonde a ventura
Criou
tão desigual merecimento?
Valha-me
pura fe, vontade pura!
Valha-me
navegar meu pensamento
Com
tal estrela, cuja formosura
Abranda
o duro mar de meu tormento.
Fernão
Rodrigues Lobo 'Soropita'
(Campo das Letras, 2007)
e em
Francisco Pina de Mello:
Que
bravo o mar se ve! Como se ensaia
Na
furia e contra os ares se rebela!
Como
se enrola! Como se encapela!
Parece
quer sair da sua raia.
Mas
tambem que inflexivel, que constante
Aquela
penha esta a forca dura
De
tanto assalto e horror perseverante!
O
empolado mar, penha segura,
Sois
a imagem mais propria e semelhante
De
meu fado e da minha desventura.
Francisco
Pina de Mello
(Off. de Joseph Antunes da Sylva, 1727, 2ed)
Já em
António Ferreira é considerada como uma demasia os arrojos humanos
pelos oceanos, numa fala que é semelhante à do Velho do Restelo, a
sensatez e o acometer feitos estão na balança, ganhando a primeira:
(…)
meu irmão,
metade
da
minha alma (...)
[que]
tornes vivo, e
são
do
fogo, e tempestade
a
que se aventurou c'o esprito ousado.
Vença
à dura fortuna a boa tenção.
Quem
cometeu primeiro
ao
bravo mar num fraco pau a vida
de
duro enzinho, ou tresdobrado ferro
tinha o peito, ou ligeiro
juízo,
ou sua alma lh'era aborrecida.
Dino
de morte cruel no seu mesmo erro.
Esprito
furioso
que
não temeu o pego alto revolvido
(entregue
aos ventos, posto todo em sorte)
do
sempre tempestuoso
Áfrico,
nem os vaus cegos, e o temido
Cila
infamado já com tanta morte!
A
que mal houve medo
quem
os monstros no mar, que vão nadando,
com
secos olhos viu? Que o céu cuberto
de
triste noite, e quedo
sem
defensão, c'o corpo só esperando
está
a morte cruel, que tem tão perto?
Se
Deus assi apartou
com
suma providência o mar da terra,
que
a nós, os homens, deu por natureza,
como
houve homem que ousou
abrir
por mar caminho mais a guerra
qu'a
paz, e a morte mais, roubo e crueza?
Que
cousas não cometes,
ousado
esprito humano, em mar, e em fogo
contra
ti só diligente, e ingenioso?
Que
já te não prometes,
des
qu'o medo perdeste à morte, e em jogo
tens
o que de si foi sempre espantoso?
Um
o céu cometeu;
outro
o ar vão experimentou com penas
não
dadas a homem; outro o mar reparte
que
por força rompeu.
Senhor,
que tudo vês, que tudo ordenas,
pera
Ti só chegarmos dá-nos arte.
António
Ferreira, «A ûa nau d'armada em que ia seu irmão Garcia Fróis»
Poemas
Lusitanos,
1598
Todavia,
não são apenas formados de ousadia temerária tais empreendimentos
marítimos, pois as duras experiências e a morte iminente podem
transmutar os terrores na revelação de um valor imortal para o
homem, enquanto este se realiza no trabalho em meio das dificuldades,
mostrando firmeza no Amor que dedica à sua função, ao seu
trabalho, apesar das contrariedades com fatais perfis. Camões
proporciona nas suas Rimas,
pela fala do Capitão Themioscles, o ganho de uma afinação imortal
para o homem que permanece na sua função ante sua iminente morte -
«vendo
a morte diante de mim»
-, enquanto o seu objetivo ainda está longe, como se dissesse: feliz
o homem que a morte o surpreende trabalhando. Só nestas extremas
condições é apurado o Amor: «Ali
Amor mostrando-se possante / e
que por nenhum modo não fugia, / –
mas quanto mais trabalho, mais constante – ».
Consideremos o excerto do poema que expõe mais completamente esta
ideia:
(...)
As cordas, co ruído, assoviavam;
os
marinheiros, já desesperados,
com
gritos para o Céu o ar coalhavam.
Os
raios por Vulcano fabricados
vibrava
o fero e áspero Tonante,
tremendo
os Pólos ambos, de assombrados!
Ali
Amor mostrando-se possante
e
que por nenhum modo não fugia,
– mas
quanto mais trabalho, mais constante – ,
vendo
a morte diante de mim, dizia:
«Se
algûa hora, Senhora, vos lembrasse,
nada
do que passei me lembraria».
Enfim,
nunca houve cousa que mudasse
o
firme Amor do intrínseco daquele
em
cujo peito ûa vez de siso entrasse.
Ûa
cousa, Senhor, por certo asssele:
que
nunca Amor se afina nem se apura,
enquanto
está presente a causa dele.(...)
(excerto
da fala do Capitão Themioscles) 1953-1595
publicado originalmente no Jornal da Economia do Mar
quinta-feira, 28 de junho de 2018
Sem demagogia ou irritantes otimismos
Estamos
profundamente inseridos numa crise da sociedade em que vivemos e da
política que praticamos. Ainda há pouco, passámos apenas de um
tipo de austeridade para outro. O futuro não é, nunca é, para ser
encarado com otimismos esfuziantes. E os portugueses tampouco merecem
governações sem que se saiba que apoio podem esperar no parlamento.
A recente coligação, pelas palavras de um
dos nossos mais interessantes analistas,
formou-se pronta a suportar um governo «(...) num acordo que ninguém
viu, nem Presidente nem deputados. Nem o PS! Muito menos o povo.»
Esta falta de clareza eleitoral não deveria ter lugar no futuro, não
oferece credibilidade nem à política nem, muito pior, à
democracia.
A
falta de oportunidades para os jovens, que é aliada à falta de
investimento sustentável, a escassa mobilidade social– em que os
filhos, mais instruídos, estão a viver pior que os pais –, o
declínio demográfico – previsto há décadas – , e uma classe
média pouco empreendedora, são alguns dos nossos tremendos, nossas
preocupações fundamentais. Importa explicitar com clareza, sem
demagogia ou irritantes otimismos, perante as gerações presentes, que
nos encontramos perante opções políticas decisivas. Todos
convergimos que o problema fundamental, que nos tem preocupado a
todos, é político.
Defendo
uma transformação de fundo, que aposte fortemente no pensamento
estratégico, que não cinda a nossa história, que realize
equilíbrio de poderes, que contenha órgãos de controvérsia e
órgãos de acordo, ou seja, que esteja preparada institucionalmente
para elaborar tanto alternativas como consensos. Defendo, portanto, a
monarquia em pluralidade democrática, onde as maiorias não esmaguem
as minorias, um parlamento forte e uma Constituição que além de
proteger os direitos, liberdades e garantias, também se abra à
mudança de regime, pois este regime republicano radical, que se
fechou à alternativa, afinal, quase tão só tem vivido implantado
nas instituições que a monarquia criou e dinamizou.
sexta-feira, 22 de junho de 2018
Pelo ajuste institucional, pelo concerto devido à experiência política das últimas décadas e perante o futuro
Assegurar
a eficácia a objectivos políticos comuns à democracia requer uma
discussão que considero inadiável. Usufruindo de liberdade e
democracia, falta-nos ainda o ajuste institucional, o concerto devido
à experiência política das últimas décadas e perante o futuro.
Pois não é somente por dispositivos técnicos, económicos ou
financeiros, mas também pela diferença política, cultural e
institucional, que nos dinamizaremos positivamente. As políticas
que por consenso democrático usufruíram de continuidade, e foram
efectivamente prosseguidas, guindaram-nos aos melhores lugares na
comparação internacional. Contudo, uma profunda transformação
económica exige uma transformação cultural e política. Se têm
sido continuamente solicitadas à sociedade mudanças de
comportamento, penso haver ficado já clara a necessidade de
construir uma renovação dentro do próprio sistema político. É
necessário elaborar uma solução democrática, com pessoas
vocacionadas para a administração do interesse público, com uma
assembleia forte, capaz de soluções positivas e ampliando a
representação do todo nacional pela monarquia, unidade sem
divisões, completamente apartidária, universalmente aceite, que
evidencia valores comuns, que evidencia a lógica da participação
sobre a lógica do confronto, uma instância de unidade, de
equilíbrio, de estabilidade, acolhimento e voz de sequência
estratégica. Entendo ser necessário afirmar uma estrutura
política que permita uma vida democrática mais completa, onde o
semicírculo parlamentar se complete com uma mesa estável para os
acordos estratégicos fundamentais, e geracionais, permitindo a continuidade
daquelas políticas que sejam considerados objectivos comuns à
democracia.
quarta-feira, 20 de junho de 2018
Vanguardas portuguesas
Decretum (produzido entre 1251 e 1325)) |
O alargamento da participação política começa muito cedo em Portugal, com D.Afonso III
(1254), quando os procuradores dos concelhos iniciam a sua presença
nas reuniões das Cortes. Depois, com D.Afonso IV (1331-1340) os
homens-bons dos concelhos, os seus representantes, tomam parte na
discussão e na tomada de decisões e, logo depois, com D.Fernando (1372),
dessa participação na reflexão e na decisão segue-se a
capacidade de iniciativa política dos representantes concelhios nas Cortes gerais do Reino.
domingo, 17 de junho de 2018
CPLP: clareza, otimismo e aprumo perante o possível
«A
trajectória dos países da CPLP (...) [procura] o seu
lugar em novos equilíbrios regionais. Os interesses em jogo, muito
guiados pela perspectiva económica, já deixaram para trás a
realidade de 1996, introduzindo uma dimensão económica nunca
sonhada aquando da constituição, pautada, então, pela sedutora
linha de cooperação tradicional baseada no
conhecimento mútuo forjado por laços históricos.
Essa
perspectiva económica não deixa de ter razão de ser. Basta lembrar que
as oito economias do Bloco Lusófono valeram, em 2016, 2,1 biliões de
euros e têm uma população total de 271 milhões de pessoas. Se as nações
que integram aquele universo constituíssem um único país, este seria a 7ª
maior economia do mundo, à frente da Índia, Itália, Canadá ou Rússia. Daí
que faça sentido a ideia de que todos os países lusófonos teriama lucrar com
o fortalecimento da articulação entre si: cada um deles se tornaria
menos dependente do bloco regional em que está inserido e ganharia um peso
internacional totalmente diferente. Juntos, passariam a constituir um bloco
organizado com voz activa no globo. Mas não chega efabular, é preciso
ter a vontade de realizar um plano estratégico que viabilize essa visão de
conjunto. Mau grado
esta prevalência do mundo económico a determinar o trajecto
futuro, a CPLP não deverá deixar de se assumir como uma organização global,
multisectorial, pluridisciplinar e global. E, ao fazer esta
referência, lembramo-nos
de outro elemento que nos liga: o Mar, um domínio no qual a
CPLP poderia partilhar uma visão comum para o desenvolvimento sustentável
das actividades marítimas, com impacto ambiental, social e económico. Teremos de
ser discernidos na valoração e avaliação que cada país dá à sua
participação na Comunidade, devendo estimular-se a cooperação económica,
social e técnico-científica, de modo a favorecer um melhor ambiente e
receptividade para fomentar as convergências políticas.»
Alm.Rebelo Duarte, «A
CPLP, uma comunidade à procura de um caminho»,
Roteiros, XI, 2017,
Instituto D.João de Castro, Lisboa, pág.260
Efeméride
A primeira travessia aérea do Atlântico Sul foi concluída com sucesso pelos aeronautas portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, a 17 de Junho de 1922, no contexto das comemorações do Primeiro Centenário da Independência do Brasil. Sacadura Cabral exercia as funções de piloto e Gago Coutinho as de navegador. Este último havia criado, e empregaria durante a viagem, um horizonte artificial adaptado a um sextante a fim de medir a altura dos astros, invenção que revolucionou a navegação aérea (...) o tempo de voo foi de apenas sessenta e duas horas e vinte e seis minutos, tendo percorrido um total de 8.383 quilómetros.
Fonte: Mosteiro dos Jerónimos
domingo, 10 de junho de 2018
A celebração oficial do 10 de Junho começou com D.Luís I
Retrato
de Camões por Fernão Gomes em cópia de Luís de Resende.
Considerado o mais autêntico retrato do poeta.
|
«A
primeira referência legal que declara "Dia de Festa
Nacional e
de Grande Gala" o 10 de junho data de 27
de abril de 1880. É um
decreto das Cortes Reais em
que o rei D. Luís I acedeu a que se
assinalassem os
300 anos da data apontada pelos historiadores para a
morte de Luís de Camões, 10 de junho de 1580.» DN
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